Taxa de inflação em outubro é a mais alta desde maio de 1992

 Taxa de inflação em outubro é a mais alta desde maio de 1992

Créditos fotográficos: Steve Buissinne (Pixabay)

A inflação voltou a acelerar em outubro, atingindo 10,2%, de acordo com a estimativa rápida divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a 28 de outubro, sendo a taxa mais elevada desde maio de 1992 (há 30 anos). E a inflação subjacente, que não inclui os produtos com variações mais flutuantes, como os produtos alimentares não transformados e energéticos, está em 7,1%, o máximo de 28 anos, revelando que a subida de preços não está concentrada na energia.

(© RTP)

Estes valores contrariam as previsões do Banco de Portugal (BdP), que estimava que a variação no índice de preços ao consumidor (IPC) tinha atingido o ponto máximo no terceiro trimestre. 

A taxa de inflação homóloga foi de 9,3%, em setembro, atingindo, em outubro, dois dígitos. Já a “taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos terá aumentado para 27,6% (taxa superior em 5,4 pontos percentuais, face ao mês precedente, destacando-se os aumentos de preços do gás natural)”. Ao mesmo tempo, o índice que mede os preços dos produtos alimentares não transformados acelerou, em outubro, para 18,9% (em setembro, era de 16,9%), taxa mais elevada desde junho de 1990 (há 32 anos).

(eco.sapo.pt)

Quanto ao Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) português, o indicador utilizado nas comparações europeias, terá registado uma variação homóloga de 10,7%, contra 9,8%, no mês anterior.

É de ter em conta que estes números são ainda provisórios, sendo que o INE divulgará os dados definitivos referentes ao IPC do mês de outubro de 2022 no próximo dia 11 de novembro.

A taxa de inflação homóloga foi de 9,3%, em setembro, atingindo, em outubro, dois dígitos. Já a “taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos terá aumentado para 27,6% (taxa superior em 5,4 pontos percentuais, face ao mês precedente, destacando-se os aumentos de preços do gás natural)”

A confirmar-se, a inflação de 10,2% em outubro, mais 0,9 pontos percentuais (p.p.) do que em setembro, pode deixar em risco meta do Governo para o IPC, que era de 7,4%, para 2022, devendo a evolução dos próximos dois meses determinar se a previsão do Governo ainda poderá ser atingida. Tanto uma variação nula (não subida face ao mês anterior) como uma subida em cadeia igual à verificada neste mês devem ditar uma inflação superior à estimativa do Governo.

(eco.sapo.pt)

Se a evolução em cadeia for nula em novembro e em dezembro, a taxa média anual de inflação ficará nos 7,8%, em 2022. Em janeiro, a variação do IPC foi de 3,4%, número que foi sempre acelerando, exceto no mês de agosto, em que abrandou para 8,9%. Porém, se se verificar uma subida em cadeia igual à deste mês, de 0,9 pontos percentuais, em novembro e em dezembro, a taxa média anual pode vir a atingir os 8,1%, em 2022. Assim, para ser possível atingir a meta estabelecida pelo executivo liderado por António Costa, a inflação tem de desacelerar bastante até ao final do ano.

Taxa de inflação em Portugal. (pt.tradingeconomics.com)

Recorde-se que a previsão do Governo inscrita na proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano (OE2023), entregue a 10 de outubro no Parlamento, é de uma inflação de 7,4%, neste ano, e de 4%, em 2023. Tal previsão é contrariada pelas projeções do Conselho das Finanças Públicas (CFP), que apontam para uma inflação de 7,7%, neste ano, e de 5,1% em 2023. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais pessimista, ao estimar uma taxa de inflação de 7,9%, neste ano, que desacelerará para 4,7%, em 2023.

(© Plataforma Media)

Depois de se ter registado, em setembro, uma taxa de variação homóloga do IPC de 9,3%, esta atingiu agora dois dígitos. Assim, os dados do INE mostram que a subida de preços já não está só concentrada na energia, atendendo a que a inflação subjacente acelerou para 7,1%, em setembro, surgindo em máximos destes últimos 28 anos.

Questionado sobre estes números, o Ministério das Finanças não se pronunciou, mas o líder parlamentar do PS, segundo declarou aos jornalistas no Parlamento, quer esperar para ver “como se vai comportar a inflação nos últimos meses do ano”, pois, “estando em outubro, o valor que faz referência não tem em conta ainda o último trimestre”.

Ministro das Finanças, Fernando Medina. (© Miguel A. Lopes/LUSA – www.dinheirovivo.pt)

Por outro lado, Eurico Brilhante Dias apontou que o “acelerar da inflação começou antes da guerra, em particular no quarto trimestre de 2021, por isso, temos de esperar e olhar com atenção para o comportamento dos preços a 31 de dezembro”. E assegurou, ainda assim, que o Governo “preparou o OE para garantir que pode apoiar portugueses e empresas durante 2023”, sendo que, se não tivesse “sido prudente, provavelmente estaríamos com mais dificuldades para apoiar hoje”.

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Nesta conjuntura, em que o país alinha grosso modo com a Zona Euro (ali, a inflação ronda os 10%), ainda sem sinais de tréguas da inflação, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou nova subida “jumbo” das taxas de juro na Zona Euro, de 75 pontos base, apertando mais as condições financeiras para famílias e empresas da região, num esforço para domar a escalada dramática dos preços. Assim, elevou a taxa dos depósitos para 1,5% e a taxa de refinanciamento para 2%, o nível mais elevado desde julho de 2008, a antecâmara da grave crise financeira mundial.

BCE “espera continuar a aumentar as taxas de juro”, para “assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo”

“Com este terceiro grande aumento consecutivo das taxas diretoras [desde julho], o conselho do BCE avançou consideravelmente com a eliminação da acomodação da política monetária”, diz em comunicado. E adianta que espera continuar a aumentar as taxas de juro, para “assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo”, e que a trajetória futura das taxas de juro diretoras na evolução das perspetivas de inflação e económicas terá a sua abordagem reunião a reunião.

(Créditos fotográficos: Wolfgang Rattay/Reuters – www.jornaldenegocios.pt)

De acordo com os analistas, em cima da mesa pode estar outro aperto das taxas, mas de 50 pontos base, o que levaria a taxa de depósitos do BCE a terminar o ano nos 2%, o nível considerado “neutral” para a economia. Depois, restará saber quando terminará este ciclo de subidas. Os analistas antecipam o fim do caminho perto dos 3%.

Para as famílias e para as empresas, o agravamento das taxas de juros traduz-se num aumento dos encargos com os empréstimos dos bancos (como para a compra de casa, por exemplo), quando já têm de lidar com o impacto brutal do aumento do custo de vida – a inflação ficou nos 9,9%, em setembro, uma taxa sem precedentes na história de duas décadas da moeda única.

O BCE, ao constringir as condições financeiras, procura resfriar a procura e aliviar os preços para o seu objetivo simétrico de 2% a médio prazo, mas tem de avaliar o outro lado da moeda: o aperto monetário poderá traduzir-se numa recessão na Zona Euro, pois a economia atravessa uma crise energética e a Europa enfrenta uma guerra, cujo término ainda não se vislumbra.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ladeado pelo primeiro-ministro, António Costa, durante a cerimónia oficial de comemoração do 5 de outubro, dia da Implantação da República Portuguesa. (© LUSA – www.dinheirovivo.pt)

Perante esta “pedagogia” do BCE, o primeiro-ministro português e o Presidente da República criticam essa instituição europeia, vincando as dificuldades criadas às famílias, que perdem cada vez mais poder de compra, e às empresas que estão cada vez com maiores dificuldades de crescimento e de modernização. Neste sentido, pedem uma maior ponderação, recusando a técnica da folha Excel, que pode levar a que se morra da cura, quando não se morreu da doença.

Preocupado com a inflação demasiado ascendente – subida asfixiante de preços dos bens essenciais, de bens de natural cómodo para os consumidores e dos produtos energéticos – está o Conselho de Estado, que ao tema dedicou a sua recente sessão.

 (www.deco.proteste.pt)

Não obstante, não parece que haja volta a dar no curto prazo. Com efeito, os analistas económicos consultados pelo BCE reviram em alta as previsões para a inflação na Zona Euro até 2024, mantêm as estimativas para os preços a longo prazo e antecipam estagnação económica em 2023. Reviram ainda em alta as previsões para a inflação subjacente, que exclui a energia, alimentação, álcool e tabaco, para 2024.

Os peritos reviram em baixa as previsões de crescimento para 2023, 2024 e a longo prazo, embora esperem um crescimento um pouco mais elevado neste ano

Por conseguinte, preveem uma inflação na Zona Euro de 8,3%, em 2022 (contra 7,3%, no inquérito anterior), 5,8%, em 2023 (contra 3,6%), e 2,4%, em 2024 (contra 2,1%). E antecipam uma inflação média a longo prazo, em 2027, de 2,1% (contra 2,2%, no inquérito anterior do terceiro trimestre). Esta revisão reflete, sobretudo, preços mais elevados da energia e dos alimentos, mas também um encarecimento de outros produtos para os quais foram transferidos os aumentos destes preços e que se espera que conduzam a um crescimento mais elevado dos salários.

Os peritos reviram em baixa as previsões de crescimento para 2023, 2024 e a longo prazo, embora esperem um crescimento um pouco mais elevado neste ano. Por isso, previram um crescimento de 3%, em 2022 (contra 2,8%, no inquérito anterior), 0,1%, em 2023 (contra 1,5%), 1,6%, em 2024 (contra 1,8%), 1,4%, em 2027 (contra 1,5%, no inquérito antecedente) e 1,4% a longo prazo (contra 1,5%, no inquérito anterior). E preveem uma contração económica entre o terceiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, com uma queda acumulada de 0,7%, devido aos elevados preços da energia, à perda do poder de compra das famílias devido à inflação, a uma economia global mais fraca e ao aumento das taxas de juro.

Por fim, reviram em alta as previsões de desemprego até 2027. Esperam que a Zona Euro tenha uma taxa de desemprego de 6,8%, em 2022 (contra 6,7%, no inquérito anterior), 7,1%, em 2023 (contra 6,7%), 7%, em 2024 (contra 6,6%) e 6,6%, em 2027 (contra 6,4%, no inquérito precedente).

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Em suma, estamos perante receitas financeiras que arriscam colocar a economia na fossa, fazendo as famílias e as empresas correr sérios riscos. Segue-se a metodologia norte-americana. A Reserva Federal Americana aumenta juros e o BCE segue-lhe o encalço. Deixamos de depender de nós ou dos Russos para dependermos da América. Esquecemos que as pessoas estão primeiro.

Reunião do Conselho de Estado sobre a situação económica e social em Portugal, em 28 de outubro. (Créditos fotográficos: © Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República)

Assim, o Conselho de Estado português – que examinou “os obstáculos e os desafios que se colocam a Portugal, em termos económicos e sociais, face ao atual quadro de incertezas e dificuldades, quer a nível nacional, quer a nível europeu e mundial” – pode pairar como a voz que prega no deserto, ao realçar “a importância de concretizar políticas que permitam mitigar a inflação e seus efeitos e incentivar o crescimento, tendo como preocupação o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e bem-estar dos cidadãos”. Se o Governo não encontrar meios, se os agentes económicos não conseguirem alavancar a riqueza nacional…

31/10/2022

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Louro Carvalho

É natural de Pendilhe, no concelho de Vila Nova de Paiva, e vive em Santa Maria da Feira. Estudou no Seminário de Resende, no Seminário Maior de Lamego e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi pároco, durante mais de 21 anos, em várias freguesias do concelho de Sernancelhe e foi professor de Português em diversas escolas, tendo terminado a carreira docente na Escola Secundária de Santa Maria da Feira.

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