Tech talk

 Tech talk

(Créditos fotográficos: Domenico Loia – Unsplash)

A tech talk veio para ficar, de tal forma que parece que fomos vítimas de brainwash e não há refresh, nem update, nem hot fix que nos faça voltar a falar a plain old “língua de Camões” (who the hell was he?). Eu sei que afirmar isto é tricky, mas não há nada como fazer algum data mining – ou, talvez, um download – de modo a conhecer o output linguístico da malta nova e, também, para ser honesto, da menos nova.

Pensemos out of the box, por uns momentos, quanto mais não seja porque é fashion, e façamos um survey daquilo que vemos (e lemos) nos media, nas social networks, na cloud e em prime time, para darmos uma checkada. Quantos artigos em journals existem sem que seja usado um único termo em Inglês? Muito poucos, to say the least. É claro que o conteúdo de cada texto depende do scope, das best practices, das key ideas, mas mesmo assim acho que se devia estabelecer um cutoff que nos impusesse uma taxa máxima de buzz words, tal como as rádios estão sujeitas a uma taxa mínima de música portuguesa. Sinceramente, acho que isso devia ser feito ASAP (as soon as possible).

No entanto, temos de admitir que, nesta fase, isso seria muito awkward, pois o default é não definir hard limits e confiar que, se alguém não entende o que se quer dizer, pode sempre consultar as FAQ (frequently asked questions), para perceber a ideia, mesmo que essa explicação represente mais obstáculos à usability e se encontre num qualquer site ministerial. Afinal, uma boa fonte de informação para qualquer ministro ou ministra é, como não podia deixar de ser, a Internet. Otherwise, não dá.

(Créditos fotográficos: Robin Worrall – Unsplash)

E ainda há quem se insurja contra o acordo ortográfico! Será que essa gente não percebe que qualquer língua tem um life cycle e que o seu design obedece a critérios de performance que vão muito para além do resultado do trabalho de qualquer task force? Nos dias de hoje não se pode estar à espera de agreements para entrar em live e muito menos aguardar por uma qualquer quality assurance. Quem faz a língua é o networking, o pipeline da vida, os use cases do dia a dia. Já nada se passa on request. É mais ou menos como um open source, em que todos são responsáveis pelo development e pelo rendering do produto final que, na verdade, nunca é uma release definitiva, mas, sim, algo que resulta de um streaming infinito (endless, como diriam os Ingleses, se é que o leitor me permite o estrangeirismo).

(Créditos fotográficos: Rob Lambert – Unsplash)

A conclusão de tudo isto é que já não há fix possível. Quer o frontend quer o backend estão irremediavelmente contaminados e nenhum patch nos poderá salvar. Para o comum dos mortais, nada mais há do que dar um aprove e seguir em frente. Para os puristas da Língua Portuguesa, que se recusam a admitir um caminho random, resta entrarem em burnout. A todos, thanks pelo tempo que gastaram neste job.

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Nota:

Este texto pretende satirizar a proliferação de termos em Inglês no discurso falado e escrito dos nossos dias. Por isso, a quantidade de palavras em Inglês é, aqui, exagerada. E, assim, não valerá a pena estar a colocá-las entre aspas ou em itálico, até porque o que se pretende é transmitir a ideia de que (infelizmente) muita gente já não distingue o que é Inglês e o que é Português, não sabendo expressar-se de outra forma.

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10/08/2023

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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