Tempo real

 Tempo real

Créditos: Aron Visuals (Unsplash)

Hoje, recorrendo às tecnologias da informação e comunicação (TIC) e a todo o tipo de dispositivos digitais, a comunicação entre as pessoas é praticamente instantânea e pode envolver texto, som e imagem. Longe vão os tempos nos quais a comunicação assentava em meios lentos ou caros. Recorria-se, então, à palavra laboriosamente escrita – tantas vezes por interposta pessoa, dado que quem comunicava não sabia ler nem escrever – ou ao telefone que poucos tinham em suas casas. Nos casos urgentes, os telegramas forneciam um meio de comunicação rápido, a custos controlados, com capacidades de comunicação a nível mundial.

Mas as capacidades de comunicação atuais vão muito para além da simples comunicação interpessoal, seja ela direta ou através de redes sociais. Com efeito, as TIC possibilitam a comunicação com o mundo físico que nos rodeia. Ao acedermos aos dados de todo o tipo de sensores e ao controlarmos, através de uma simples aplicação, todo o tipo de atuadores, um manancial de informação relativa a equipamentos, a veículos, a edifícios, a cidades ou a processos industriais, entre muitos outros, passa a estar disponível.

E é aqui que surge o problema para muitos. Quando somos inundados com informação, temos a tendência de tudo querer ver, de estar a par de tudo o que se passa à nossa volta – e não só. De repente, o pânico de ficar para trás instala-se. Porque podemos fazê-lo, temos de saber, a todo o momento, onde se encontram os nossos veículos, o que se passa dentro das nossas casas mesmo quando lá não estamos, em que ponto do globo vai o avião no qual viaja um familiar, qual o consumo dos diversos eletrodomésticos que possuímos, qual a produção instantânea de energia elétrica dos painéis fotovoltaicos que adornam os nossos telhados, quantas pulsações por minuto temos e qual a nossa tensão arterial. Simplesmente, temos de controlar tudo em tempo real.

Créditos: Luke Chesser (Unsplash)

Praticamente, nenhum sistema que se preze é vendido sem a possibilidade de controlo em tempo real. É evidente que este tipo de controlo pode ser muito importante e de grande utilidade numa variedade de situações, mas não podemos fazer disso o centro das nossas vidas. Será que vale a pena desperdiçarmos o único tempo real de que dispomos – e que nunca recuperaremos por mais que queiramos – a olhar para dados em tempo real da enorme quantidade de futilidades que nos são impingidas como absolutamente fundamentais? Quando perceberemos que o que importa é viver em tempo real? Que tudo o resto se reduza à sua insignificância.

20/06/2022

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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