TIC táticas

 TIC táticas

(Créditos fotográficos: Luis Villasmil – Unsplash)

De entre as muitas coisas positivas que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) trouxeram ao Mundo, há que destacar uma delas: a rapidez no acesso à informação. Porque informação é poder, a possibilidade de aceder, de forma expedita, a todo o tipo de informação confere-nos capacidades muito para além daquilo que poderíamos imaginar há, apenas, alguns anos. Mas, é claro, como diz a inesgotável sabedoria popular, “não há bela sem senão”: o acesso a catadupas de informação provoca, na maioria das pessoas, um estado de “bebedeira de dados” que conduz a efeitos surpreendentemente semelhantes aos da embriaguez alcoólica, com comportamentos erráticos, incoerentes, desequilibrados e socialmente reprováveis.

Brincadeiras à parte, ao sermos inundados por informação, passamos a operar em modo meramente reativo, perdemos a noção dos nossos objetivos e esquecemos todo e qualquer planeamento. A isso chama-se o caos tático, por oposição a um pensamento estratégico que, de forma ponderada e sustentada, leva à definição de objetivos e a caminhos para os atingir. Com o caos tático, o nosso comportamento passa a ser totalmente ditado pela necessidade de reagir imediatamente a um qualquer acontecimento, representado pela tal informação com que somos bombardeados. Tudo se passa como se a vida se resumisse a uma monótona e altamente repetitiva rotina, composta pela tomada de conhecimento (através da informação), seguida de uma inevitável resposta quase mecânica (uma reação). Passamos, assim, a viver em modo tático, reagindo aos imponderáveis que nos golpeiam constantemente.

(Créditos fotográficos: Magnet.me – Unsplash)

Só por si, o modo reativo ou, como foi dito atrás, o caos tático, já seria mau se se limitasse ao plano individual, mas a realidade é que esse modo reativo está largamente difundido no mundo profissional. Quantos de nós, na nossa atividade profissional, não fomos já solicitados a elaborar uma proposta ou a responder a uma oportunidade “imperdível”, que nos desvia dos objetivos traçados, simplesmente porque é urgente e é algo que não se pode perder? Não reagir imediatamente, não estar pronto para quaisquer solicitações a todo o tempo, não dar resposta ao que está a acontecer no próprio instante é, hoje, considerado inadequado. Por isso, é fundamental estar constantemente “ligado”, atualizado “ao segundo”. Andamos, assim, de um lado para o outro, nas “mãos” do tal caos.

(Créditos fotográficos: Domingo Alvarez E – Unsplash)

Pior que tudo isto é, no entanto, quando percebemos que até os governantes estão rendidos ao caos tático, às ações fundamentadas em informação recolhida da Internet, ao que se diz nas redes sociais, e às reações por Whatsapp condimentadas por todo o tipo de emojis. O importante é mostrar que se atua e se reage imediatamente a qualquer ocorrência, que se tomam medidas céleres. Para isso, estão as TIC, os telemóveis omnipresentes em reuniões, em conselhos e em comissões, bem como a informação obtida no momento. Para quê pensar, ponderar opções, analisar, estabelecer objetivos, traçar caminhos e definir estratégias, quando tudo se resume a reagir, reagir e reagir?

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01/05/2023

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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