Tirar o pai da forca
Vais tirar o pai da forca? É uma expressão que se utiliza quando alguém conhecido passa por nós muito apressado, impaciente, sem sequer parar para nos cumprimentar devidamente.
Diz a lenda que Santo António (Fernando Martinho de Bulhões), então frade, estava a dar um sermão em Pádua, no convento de Arcella, onde vivia, quando foi sobrenaturalmente avisado ou sentiu que alguém o chamava desesperadamente, em Lisboa, porque o seu pai (Martim de Bulhões) tinha sido injustamente condenado por homicídio e já ia a caminho da forca.
Com um gesto de aflição, pôs a mão na fronte e, em meditação profunda, fez-se transportar espiritualmente ou foi miraculosamente transmigrado para Lisboa, onde defendeu o seu pai em tribunal, conseguindo a sua absolvição.
Como é que Santo António conseguiu a absolvição do pai? Apesar das suas capacidades de argumentação, Santo António não estava a convencer os juízes da inocência do seu pai, havendo um elevado número de indícios que o incriminavam. Então, em desespero de causa, anunciou que iria intimidar o morto a depor e pediu que o acompanhassem ao cemitério. Aí, Santo António invocou o morto e este, obedientemente, apareceu e declarou que o seu assassino não tinha sido o pai do santo. Este acto foi considerado um milagre e aceite pelos juízes do tribunal que, de imediato, absolveram o réu.
Consta que, no convento onde Santo António dava o sermão, todos garantiram que ele se mantivera imóvel e em silêncio, parecendo, enquanto teólogo e pregador, procurar as palavras mais adequadas para transmitir as suas ideias. Afirma-se, pois, que Santo António tinha o dom da ubiquidade ou a faculdade de surgir simultaneamente em lugares diferentes e distantes (a designada “bilocação”), por poder estar em Lisboa e em Pádua ao mesmo tempo. Em Lisboa, segundo a lenda, foi visto muito apressado, para chegar a tempo de tirar o pai da forca.
05/01/2023