Triste sociedade do espectáculo
Guy Debord (1931-1994) publicou A Sociedade do Espectáculo, em 1967. A situação agravou-se de então para cá. Hoje, há um alarmante número de escravos seduzidos por uma droga que “empobrece a verdadeira qualidade da vida.”
A obra filosófica de Debord continua gritantemente actual, 55 anos após a sua edição. Basta ver os programas que os canais televisivos nos oferecem, a forma como um assassinato ou uma tragédia são narrados ou como se gastam horas a fio a discutir se o primeiro golo da selecção frente ao Uruguai foi do Ronaldo ou do Bruno Fernandes.
Em 1967, o capitalismo não tinha os meios que hoje tem ao seu dispôr. Mas agora utiliza-os de forma brutal. Distribuindo doses infindáveis de droga, que leva o espectador a aceitar como verdadeirante importante tudo aquilo que é dito nas televisões, escrito nos jornais e nas redes sociais.
Basta ver, por exemplo, “Terra Nossa”, um formato conduzido por César Mourão, na SIC para o confirmar. O comportamento do público e o que atira pela boca fora espelham fielmente o quanto primata é; ou, por outras palavras, como “aceita reconhecer-se nas imagens dominantes” e a compreender cada vez menos “a sua própria existência e o seu próprio desejo”, como escreveu Guy Debord.
O pronto a comer tomou contadas nossas vidas. Daqueles que se recusam a usar os neurónios e que preferem digerir o fast food que lhes é servido. Em grandes quantidades e durante horas a fio.
Resta-nos resistir. E lutar. Contra a corrente do pensamento único. Tal qual fez Jesús Quintero, o escritor e jornalista andaluz falecido em Outubro passado.
O seu programa El Loco de La Colina, na RTVE, foi um permanente combate contra os vendedores de sonhos e ilusões. Bastava-lhe gritar os seus silêncios. E não interromper os seus convidados. Confirme-o nesta entrevista a Julio Anguita (1941-2020), que foi secretário-geral do Partido Comunista de Espanha e coordenador-geral da Esquerda Unida:
05/12/2022