“Tudo o que o mercado permite realizar acaba quando começa”

 “Tudo o que o mercado permite realizar acaba quando começa”

Actores Marta Taveira e Fábio Costa, na peça Pertinho da Torre Eiffel.

Estreou no dia 18 de Novembro, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha, a peça Pertinho da Torre Eiffel. Estreia lotada e com direito a ovação final por um público entusiasmado que aplaudiu de pé os actores Fábio Costa e Marta Taveira, mas também o autor Abel Neves e o encenador Fernando Mora Ramos. Falámos com o último sobre este mais recente espectáculo, o qual se manterá em cena até 4 de Dezembro.

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Comecemos pelo autor, que tem uma obra imensa. É a primeira vez que encenas uma peça de Abel Neves?

É a segunda. Estivemos juntos em Salvador da Bahia a fazer a sua Supernova, numa co-produção entre o Teatro Nacional São João (TNSJ) e o Teatro Vila Velha, com uma colaboração do Cendrev-Centro Dramático de Évora, de que deixara de ser responsável artístico. Era, já nessa altura, um alerta para a turistificação do planeta, para esse colonialismo de novo tipo, verdadeira praga a condenar tudo o que é patrimonial a apresentar-se como folclore diante dos pagantes de pacotes de férias, numa vertigem massiva sem precedentes. É uma calamidade, uma cheia de tornados sazonais; e, é claro, os pagantes são os mais endinheirados, os do Norte, mesmo com o low cost. E os animais de feira somos nós, os que agora plantam hotelaria de estaca por todo o lado – o ridículo que é chegar a um restaurante e eles quererem vender conceitos para épater o paladar do turista não tem limite. Essa descaracterização das pessoas e dos lugares torna isto um hipermercado global; estamos sempre na loja, uns a comprar outros na prateleira. Ao lado disso, os campos de concentração, as cidades improvisadas de tendas e de materiais precários para os deslocados de todo o mundo. Chegamos ao extremo de, em certos lugares e profissões, de natureza ainda reconhecidamente “humanartesanal”, as pessoas terem de fazer um teatro mimético daquilo que foram, porque isso rende: fingem que são pescadores ou aldeões, etc. A Supernova abordava já esse tema.


O que te atraiu especificamente em Pertinho da Torre Eiffel?

Quando leio uma peça e me produz uma forte impressão inicial não desligo, vem-me uma vontade de fazer, de fazê-la, não me larga. É tudo menos uma decisão muito ponderada. Limitações anteriores são obviamente equacionadas, elenco e determinantes espaciais, custos rapidamente imaginados, etc. Não quer dizer que não leia peças para trinta intérpretes. E que não invente dobras e distribuições de grandes engenharias, para fazer coisas de tamanhos aparentemente impossíveis para uma microestrutura – dessa costela somos elásticos. Mas sou um amante de teatros de câmara. Foi, aliás, assim que nasceu o teatro português, na câmara da rainha, onde se pariu o Monólogo do Vaqueiro – percebe-se bem que Gil Vicente já lidava com este tipo de problema, a escala das coisas. É um problema português, o tamanho. A perfeição quer-se pequenina como a sardinha. Longe de mim estar a fazer o elogio do grande, muito menos do desmesurado – temos essa mania de contrapor ao nosso pequeno essa coisa do somos o maior disto e daquilo, é reactivo e consola, também amamos elefantes brancos e mais ainda agora, que estão extintos.

No Pertinho da Torre Eiffel, desde logo a estranheza do título e o modo como a Torre entra na narrativa – agita-se o souvenir, que habita uma campânula, e dessa agitação surge uma neve que cai em flocos minúsculos para pasmo dos nossos olhos. E a ligação dessa magia de trazer por casa, coisa de feira – a certa altura, fala-se de andar na roda grande –, ao melhor momento de vida entre os dois. Isso é de tal modo forte que ela, Jana, ama mais a Torre na relação de ambos, nostalgia que ainda rende, que o outro, ele mesmo, ali presente. Mas, o que me atraiu logo, fortemente, foi aquele desentendimento tão estruturante do quotidiano entre os dois, Jana e Jasmim. Como se fossem duas criaturas coladas uma na outra, como acontece em certos nascimentos.

Actores Marta Taveira e Fábio Costa nos papéis de Jana e de Jasmim.

Estão em conflito continuado

O conflito é constante e eles não conseguem perceber como sair daquele desamor viciado, que os une e afasta num regime constantemente elástico, que não controlam. São vítimas desse vaivém que os faz mover parados. São “tóxico-amorosos”, chamando amor, aqui, a algo mais vasto do que o gosto de ti, à vida diária, a níveis de intensidade relacional que vão ao mecânico, à rotina, e que têm, noutros momentos, a aparência do passional – é também aquela ideia lusa de que o amor passa pela posse, pela propriedade, do fado do quanto mais me bates mais gosto de ti.

A mim interessa-me muito perceber como, em nome da liberdade e da individualidade, até de singularidades, as pessoas estruturam relações de obediência a determinantes exteriores, sejam mitos kitsch, sejam economia fatal, sejam engendramentos próprios, engrenagens policiais na interdependência conjugal. Creio que, num país com os níveis de violência doméstica que este mantém, estranhas estatísticas, Pertinho é um objecto analítico vital.


A primeira vez que li a peça, um dos aspectos que mais me inquietou foi a omnipresença de uma figura ausente: a mãe de Jana. Não está ausente por ter morrido, antes pelo contrário. Como se coloca em cena um corpo que está sempre fora de cena?

Essa é a parte da farsa. A peça é uma mistura de estilos, de registos teatrais, é uma tragicomédia dramática, um objecto curiosamente cinematográfico, em dadas sequências dialogais, tem momentos de diálogo de série televisiva, outros que roçam os níveis de exposição do casal a coisas como os big brothers, para evidenciar a sua falsidade, claro. Essa liberdade da escrita do Abel é notável. E ele não cede a nenhum bem parecer daquela parelha, eles são meigos acidentalmente, enraivecidos frequentemente, extravasam facilmente sentimentos e acusações. E a história do ciúme gruda, é uma estranha cola afectiva.

É muito estranha a incapacidade desta forma monogâmica para a laicidade, o casal encontra no ciúme a sua religação negativa, a sua religião, sentem isso como prova de vida da relação. Há uma limitação extrema da possibilidade de conhecer as variantes emotivas que as relações podem conter, o universo das colorações afectivas possível que a laicidade contém, muito mais perto, a meu ver, da poesia.

A mãe é uma presença policial, controla a filha. A filha necessita daquele telefonema regular para fazer o ponto da situação dos afectos e casos casalinghe; ela é o barómetro daqueles humores, o conselheiro, o seu confessionário é proactivo, como se usa agora.

Esta é uma peça para dois intérpretes, dois personagens, telemóvel (a mãe e a espanhola), duas jarras de flores e um babygrow. A espanhola é tanto mais forte como presença quanto o facto de ele nunca atender o telefonema tornar o caso insidioso, invasivo. O mistério adensa-se.


Outro aspecto, para mim, curioso tem que ver com os objectos. Nesta peça, que me parece de um extremo realismo, os objectos parecem ter, paradoxalmente, uma voz própria. Nomeadamente, o telemóvel, mas também o frigorífico e a jarra de flores. Concordas?

Creio que a economia dramatúrgica da peça passa pelos objectos, há uma semiologia dinâmica dos objectos. O frigorífico conta a instabilidade económica do sujeito masculino dentro da casal. É tudo para a vida, eterno, menos o frigorífico e a televisão, que eram dele, são dele – o caso do frigorífico rivaliza com o caso da mãe à porta de casa, está sempre nesse jogo do regresso da presença. Isso desenha a economia de um dia-a-dia muito precário, necessitado das idas ao prego. Mas isso é muito o lado dele, aliás, muito estranho, como se no meio de ser tudo junto, a partilha da miséria, alguns objectos de valor fossem mais-valias dele. No fim, ele compra o vestido que lhe oferece com a venda do frigorífico. É o que nos fica como fundo naquele happy end – todos falsos, é claro. Quando Jana refere a venda da televisão, ele responde-lhe que isso permitiu um excelente fim-de-semana marcado pela degustação dos famosos pimentos quê? Padron. Pimentos padronunos pican y otros non. Já antes referira o sublime que foi uma feijoada de marisco.

Sim, concordo plenamente com o que dizes, são vozes. No caso da mãe, percebe-se nas respostas da filha, indo a coisa ao ponto de sabermos que há chantagem: – Dou-te dinheiro para casares se não for com o Jasmim. E para a casa, com quarto para a criança que, entretanto, não vinga. O bebé é uma personagem passageira, mas central, é um revelador inacreditável dos comportamentos dele. É um amor que não resiste a nada, nem ao aparecimento de um rival na gravidez dela. Jasmim é um filho dono, um demagogo afectivo, capaz de grande técnica na gestão dos afectos. É típico chico-esperto, pequeno filho da puta. E ela é uma corajosa dependente, alguém que, na volta dos afectos, age entre o ciúme extremo e uma certa coragem momentânea. Mas falta-lhe projecto. Nenhum deles, aliás, tem um projecto pleno. Foram engolidos pela precariedade e pelos modelos alheios (eu penso muito as relações com a categoria da alienação, as pessoas que não vivem nem os seus interesses, nem as potencialidades do que são enquanto seres, que são escravos de dependências e de interdependências, não as dominam), que mais ou menos cumprem, são actuantes, passivos e agentes de operacionalidades domésticas, vida de ruminantes.

“Creio que a economia dramatúrgica da peça passa pelos objectos, há uma semiologia dinâmica dos objectos”,
diz Fernando Mora Ramos.

Achas que a voz dos objectos é audível no decorrer da acção?

A economia dos objectos é muito interessante na peça. A certa altura, parecia-me um pouco bric-à-brac, mas percebi que não era; é muito divertido ver aquele frigorífico a dançar. Sim, porque mesmo o ridículo, o ridículo daquela forma de viver – o Beckett é que diz que o ridículo mata, será assim? – em cima de situações amorosas expressas de modo rosado, patético, é motivo de riso. Mas estamos a rir do quê? Aquela sinceridade com que ela diz, a certa altura, “não me deixes”, é risível e tocante ao mesmo tempo; novela mexicana, como disseste, e sentimento real, assim sentido. E o bom teatro é o que joga essas misturas, esse inseparável que existe entre riso e choro.

Voltando aos objectos, se o circuito do frigorífico é economia, o circuito da jarra é barómetro amoroso. Ela está como centro de mesa, depois vai parar à bancada da cozinha, depois ao lava-louças, depois ao lixo. E, quando chega ao lixo, estamos na cena cinco, que é quando ele regressa de um hiato maior na relação – ela perdeu, entretanto, a criança – com as mesmas flores que sempre lhe oferece em situações de retoma amorosa. Em cena, ficam as murchas no lixo e as novas, de novo, no centro da mesa. É sinal de reconquista. É muito divertida esta aritmética espacial dos objectos.


Falemos mais especificamente de Jana e de Jasmim. São personagens muito contemporâneas, um jovem casal urbano a partilhar uma vida comum há sete anos. O que achas que mais os caracteriza?

A volatilidade sentimental, como diria Martin Crimp e disse a propósito de Play House, a peça que fizemos sobre um jovem casal como este, europeu. Mais universais, sem traços tipicamente locais. Estes nossos são globalizados, mas com uma marca de bairro muito vincada, são muito ali de Alcântara ou da Graça, muito fadistas; ele com toque mesmo chuleco – o Abel viveu muitos anos no Bairro da Graça, em Lisboa.

Por outro lado, essa vocação para não serem livres, sendo infelizes, permanentemente guerreando-se pelas coisas insignificantes, por irrelevâncias, até por supostas coisas ditas que não acontecem – neste aspecto, é curioso verificar que quase não há momentos de pausa, de silêncio partilhado, eles são incapazes, são da estética do “cheio”, do preenchimento constante do tempo com falas, fogem de não estar sempre reactivos. Pensando na Dança da morte, a peça forte de Strindberg sobre a vida conjugal, é interessante verificar que entre o casal de Strindberg há uma guerra de sexos, de cérebros, em que cada um é, depois de tantos anos de relação, um campo inimigo para o outro. E a coisa é mesmo dura, como dois colossos que se digladiam. As memórias constituem-se em armas de arremesso, são lembradas de forma perversa para levar o outro ao tapete. Isto tudo de modo muito civilizado. Aqui, não só os campos são interpenetrados, interdependentes, ambos vivendo uma dependência do outro, como o combate estala na irrelevância, desce ao mais mesquinho, como quando ele lhe pergunta, depois de lhe ter oferecido as flores, se ela finalmente as quer depois de ter percebido que tem de se pôr na alheta, pois a mãe dela está lá em casa.

Triste, mesmo, é o sonho que têm ambos – com papéis distribuídos, ele manager e designer de imagem e ela artista de variedades –, e muito os caracteriza, essa ideia de que, indo a um concurso – ela canta e dança, tem umas pernocas jeitosas e é capaz de sorrisinhos, o problema são as mamocas –, a vida se lhes abre como um paraíso, como acontece, pensa ela e não ele, à gentinha jet-set – que será isso? – das revistas cor-de-rosa. Sonhar com esse sonho que todos dizem sonhar é sonhar um não sonho, um pronto a sonhar que nada tem dentro, pois tudo o que o mercado permite realizar – em patamares diferentes – acaba quando começa, como será a história da maior parte, quase todos, dos que participam neste tipo de castings cerimoniais de meia-tigela inteira. Há uns que parecem vingar, poucos, pois não há mercado para muitos, mas que depois desaparecem, duram o tempo de uma juventude sugada pela atracção dos holofotes. É a sociedade do espectáculo a funcionar. E no espectáculo, acedendo à renda mediática – é a tua imagem que anda aí, diz ele – há muito poucos. Há os estruturantes, locutores, comentadores, estrelas de programa, donos de concursos, e há as vítimas ocasionais. E, obviamente, há rebanhos de gente a querer entrar…

Actores, autor e encenador no dia da estreia.

Do início ao fim da peça, assistimos a inúmeras hesitações, avanços e recuos, indefinições. Tudo parece desarrumado naquelas vidas e nada funciona, nada se define ou concretiza. Há algum espaço para o amor?

Não sei, fico sem jeito ao pensar que não há, isso custa-me pensar. Mas há naqueles diálogos um curso entrópico que me perturba e fascina. Acho que o que descobri como mais interessante nesta escrita, e isso tem a ver com afecto – uma forma mais diluída do amor, chamemos-lhe isso –, é o trabalho do Abel em cima da ilógica dialogada, da falta de sentido na pergunta/resposta, na fala-contra-fala (contexto em que os jogos de poder são constantes e quase imperceptíveis, como se as falas fossem concorrentes) dos desvios de conversa, do modo como a mesma coisa fica entremeada de muitas outras, bolo a fazer, espanhola, o próprio sentido do que se diz, uma desconversa muito estruturada. E isso não é aquele absurdo disruptivo-cómico à Ionesco, não; é algo que creio, a certa altura, o Debord, nos Comentários à sociedade do espectáculo – grande livro – refere como incapacidade do sujeito contemporâneo imerso na massa para o discurso lógico, para uma estruturação lógica do pensamento. E não estou a falar de silogismos nem de argumentações de superfície, para uso televisivo, em tempo recorde, que sempre encobrem o que querem esconder com outra coisa, falo de capacidade de escutar e de reagir com racionalidade verbalizada.

Estes seres são sempre inconsequentes, não terminam nada, nem os raciocínios. Eles são zapping mental e sob o efeito do fluxo afectivo que os guia e tolhe ao momento, sob o impacto exterior ou da pressão que jogam, um sobre o outro, a mãe, a espanhola ou o concurso falhado, o júri ou o emprego que se abandonou, mas deixou imagem ou o que seja (realizado mesmo na íntegra só o J da t-shirt dele), eles nada concluem. Isso começa nas acções domésticas, sempre inconclusas – seja fazer o café, o bolo de maçã, etc. – e acaba nas formas de verbalizar o desejo, sempre chocado nos humores de ambos, vigilantes.

O único momento de felicidade pura parece o número de publicidade: Jasmim declara que a ama e ela diz “não me deixes”. Quando parte para a ideia do trio, mais um quarto e mais o filho, o momento não resiste e quebra-se tudo ali. Pouco depois, ela corre-o de casa. Ele é o pai, mas ela não lhe perguntou nada. E, entre eles, é claro, não é necessário preservativo. Só fora. Mas não será amor toda aquela miséria? Creio que a lógica fadista e de bairro manda muito. É um casal que, no entanto, para sete anos de casa, resiste muito ao que sofre. Hoje, a volatilidade aprofundou-se e são muito mais os divórcios que os casamentos. As relações são muito pronto-a-vestir e despir, muito imitantes da oferta. Parece que nada resiste à comercialização dos próprios modos de relação. Este amor, o destes dois, ainda tem algo artesanal. Não sei se é isso que se chama amor…


Por outro lado, há uma face cómica no desconcerto deste casal. Não sei se eles achariam piada a si mesmos, mas quem olha para eles parece ver alguém a correr muito sem sair do mesmo lugar. Parece que patinam. Parece-te justa esta avaliação?

Completamente de acordo. E patinam mesmo. Talvez naquela correria parada, naquela ginástica entreparedes exista algo de jogo, de jogo adolescente retardado. E, depois, como foder é mesmo no quarto que não se vê, não sabemos se isso corre bem. Mas presumo que sim.

Américo Rodrigues (director-geral da DGArtes), Fernando Mora Ramos (encenador) e o autor Abel Neves,
no dia da estreia de Pertinho da Torre Eiffel.


Queres falar do cenário? Não saímos do apartamento onde vivem a Jana e o Jasmim, mas a perspectiva que temos do mesmo não é estanque. O que pretendeste com aquele imóvel móvel?

Pensei logo num espaço que simulasse um plateau de cinema, que isto tivesse algo de filme a viver. As pessoas, hoje, não destrinçam o filme da própria vida, vivem dentro de filmes, seguem narrativas, buscam esses momentos de felicidade que a publicidade vende, insistentemente. A força das narrativas no espaço supostamente íntimo das pessoas tornou-as miméticas. E o mimetismo vemo-lo espalhar-se como uma doença, a doença das praxes, dos concertos hipermassivos, tudo isso hipercontrolado. Revêem-se em filmes e em séries, a fazer como os intérpretes reagiram neste e naquele filme, as mesmas roupas, pensam os próprios casamentos e vestidos como viram num filme, fazem filmes da sua vida iguais aos filmes da vida do vizinho.

Este cenário saiu-me à leitura. Pensei duas paredes, duas paredes a fazer os movimentos de rotação do espaço doméstico, num tempo de vida conjugal minimamente significativo como amostra, tal como a terra faz a sua translação e rotações. Isso permite olhar para eles de ângulos diferentes. E, portanto, não imitar uma casinha a fingir de verdadeira e sossegada ali. Como se os espectadores mudassem algo de ângulo de visão, cada um a sua câmara.

Estes movimentos impedem que nos colemos àquelas histórias como se fossem a nossa, pois, apesar de tudo, das distâncias sociais e culturais, todos temos um pouco do que ali acontece e todos somos um pouco românticos num sentido convencional, cliché, influenciados também pelos filmes e pelas aldrabices do mercado, filhos do capitalismo que somos, mesmo os anticapitalistas que também somos.

Sabes uma coisa? Veio-me à ideia de que o tipo se chama Jasminto e ela Janada.

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22/11/2021

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Henrique Manuel Fialho

Está representado em diversas antologias de poesia e conto publicadas em Portugal, no Brasil, em Espanha e em Marrocos, tendo colaborado igualmente com textos ensaísticos, poemas e ficções incluídos em variadíssimas publicações colectivas.

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