Um cravo vermelho para Armando Castro

 Um cravo vermelho para Armando Castro

Armando Castro foi o primeiro director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto no pós-25 de Abril. (noticias.up.pt)

Foi há 49 anos. A 27 de Abril de 1974. Eu tinha regressado de Paris nessa madrugada. Mas, pouco depois das “nove”, zarpei para a Avenida dos Aliados, que era então o centro do Mundo. Ali, o povo do Porto festejava as primeiras horas da Santa Liberdade.

(Créditos fotográficos: Diana Clemente – Unsplash)

Durante todo esse inesquecível dia, reencontrei amigos de escola e de rebeldia. Lamentei a morte prematura do meu Pai e relembrei o dia em que, às suas cavalitas, assisti à chegada heróica do general Humberto Delgado à sede da sua campanha eleitoral (em 1958), na não muito distante Praça de Carlos Alberto –16 longos anos antes…

Ao final da tarde desse 27 de Abril de 1974, ocorreu o episódio que hoje me traz aqui. Um homem saltou da multidão e deu-me um apertado abraço. Um abraço que 49 anos depois ainda me aconchega. Era Armando Castro (1918-1999), um dos pioneiros das Ciências Sociais em Portugal, tal como hoje as conhecemos.

Impedido por António Oliveira Salazar de desenvolver uma carreira académica1, Armando Castro exerceu advocacia. E foi nessa condição que o conheci, pois, foi, durante largos anos, advogado da minha família. E, sobretudo, um Amigo, que sempre nos protegeu nas tempestades…

Sessão de homenagem a Armando Castro. Intervenção do homenageado. (Créditos fotográficos: Avante! – abrilabril.pt)

Armando Castro foi um intelectual respeitado2 e um destacado resistente antifascista. Era um homem sensível, vertical e de firmes convicções. Um humanista. Que me faz falta. Que nos faz falta. O Senhor Professor, que partiu há 24 anos, no dia 16 de Junho de 1999, foi um daqueles homens que justificam a espécie humana. É para ele este meu cravo vermelho.

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Notas:

1 – Ao tempo, licenciado em Ciências Jurídicas (1941) e em Ciências Político-Económicas (1942) pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Armando Fernandes de Morais e Castro só após o “25 de Abril” logrou fazer aquilo que mais gostava: dar aulas e desenvolver investigação científica. Presidiu ao Conselho Directivo da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, entre 1974 e 1988.

2 – Pode rever, aqui, um programa de carácter cultural conduzido pelo poeta Egito Gonçalves com uma entrevista a Armando Castro, então, director da Faculdade de Economia do Porto, sobre a sua actividade profissional no ensino superior e na economia.

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22/06/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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