Um Homem!

 Um Homem!

Jerónimo de Sousa abandona liderança do PCP. (© SIC Notícias)

Este é um texto pessoal e intransmissível sobre o cidadão Jerónimo de Sousa. Faço-o por imperativo categórico. Com base nos princípios éticos e morais que fizeram dele um homem político respeitado. Dentro e fora da Assembleia da República.

A primeira vez que falei com Jerónimo de Sousa foi em 1999, no Hotel Roma, em Lisboa. O deputado participava numa reunião com sindicalistas naquela que foi, então, a última acção da campanha eleitoral da CDU – Coligação Democrática Unitária, que reportei para o “Jornal de Notícias” (JN).

Após a intervenção final de Carlos Carvalhas, que era o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), abeirei-me de Jerónimo e perguntei-lhe quais as suas perspectivas para as eleições legislativas que decorreriam no domingo seguinte (a 10 de Outubro de 1999). (*)

A conversa entre o deputado e o jornalista durou escassos minutos. Mas bastou para ser selada por um sorriso franco e um aperto de mão vigoroso. Próprio de um homem que, confirmeio-o ao longo dos anos, se orgulha da sua condição de operário metalúrgico.

Em 2004, Jerónimo de Sousa tornou-se secretário-geral do PCP e, três anos depois, reencontramo-nos na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. Óscar Lopes (1917-2013) fazia 90 anos de idade e o seu partido e a Cooperativa Árvore prestaram tributo ao intelectual que se notabilizou como professor, crítico literário e linguista.

Por esses dias, eu já tinha deixado o JN e dirigia uma pequena editora que preparava o lançamento de um livro sobre Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), cuja capa da autoria do pintor Roberto Machado aqui reproduzo.

Após o final da sessão de homenagem, o jornalista César Príncipe e eu fomos surpreendidos pelo abraço fraterno de Jerónimo de Sousa. Aproveitei a circunstância e pedi-lhe um texto para “Adriano sempre”. O texto “Fraterno e solidário” chegou-me dias depois. Nele, Jerónimo sublinhava: “[…] Cantou a liberdade antes de ser conquistada e quando era a liberdade que prevalecia sobre o obscurantismo.”

Antes de o livro ser colocado à venda, fiz chegar um exemplar a Jerónimo de Sousa. Na volta do correio, o secretário-geral do PCP manifestou o seu apreço pela obra e dirigiu-me palavras que guardo no meu acervo afectivo.

Como acontece com o aperto de mão vigoroso com que me brindou no Hotel Roma, com o abraço fraterno com que me surpreendeu na biblioteca portuense ou quando acenou, a partir do interior do seu velho “Clio” branco, junto à sede do PCP, na Rua Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa.

Torno públicos estes episódios da minha vida por serem constantes no dia-a-dia de Jerónimo de Sousa. Quem alguma vez se cruzou com Jerónimo, seja militante do partido ou não, sabe que ele é assim: afectuoso, autêntico, genuíno, íntegro, sério. Um Homem! Daqueles que justificam a espécie humana.

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(*) A CDU foi a terceira força política mais votada e elegeu 17 deputados. Mais dois do que na sessão legislativa anterior.

14/11/2022

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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