Um surpreendente mundo “alternativo”

 Um surpreendente mundo “alternativo”

A tecnologia abriu uma vaga na hierarquia dos media para a qual, teoricamente, apenas o consumidor é candidato ao poder. Embora esteja ainda longe de ter uma voz determinante no âmbito na produção de conteúdos, a verdade é que, atualmente, é indiferente que a TSF emita A Vida do Dinheiro ao sábado ou que viva eternamente na RTP um Sexta às 9… Sendo evidentemente certo que não lhes pode aceder antes de serem difundidos, é igual verdade que o ouvinte ou telespectador pode reservar-se o direito de “hibernar” durante o seu fim de semana, por exemplo, e deixar para segunda a realidade da economia nacional ou tomar conhecimento de mais um escândalo político. Ou terça ou quarta-feira…

E quem diz segunda, terça ou quarta-feira… Também pode considerar nem sequer passar assim por este “inverno”. Diz-se até que um penso deve arrancar-se de uma vez só… Pelo que é possível, em vez de se resguardar da economia e da política, reservar todo um sábado para “despachar” todas “as vidas do dinheiro” que outrora perdemos em sábados em que ainda se saía e demorávamos horas nas compras ou juntávamos as crianças no parque.

Ora, pois, e já que não há missa ao domingo… Reserve-se o dia santo para desfiar vários rosários com a jornalista Sandra Felgueiras, contando as novenas da corrupção. E por que não? Talvez o sinal de cruz seja igualmente apropriado no final. E, nos dias de hoje, irmos em paz e acompanhados por algo que não é físico só nos manterá seguros. É o que se quer.

A ironia não me chega para estender esta ideia ao online e à Imprensa, simplesmente bear with me. Da interação com os conteúdos à exigência de que se adaptem a todos os dispositivos que utiliza: o consumidor tem um papel efetivo na divulgação de Informação. Não é, de todo, absoluto… Mas já ninguém precisa de esconder o Correio de Manhã entre os cadernos do Expresso, certo?

Esta é apenas uma realidade. Há muitas mais; às vezes, penso, tantas quantas pessoas existem no mundo. Numa, denuncia-se o fim do papel. Noutra, não há recursos para ter aulas online, que dirá de ler os jornais? E vale a pena considerar ainda a de quem não sabe ler?

Mais uma realidade: cria-se uma StayAway COVID. Com tudo, para todos, funciona no Seu iPhone ou no Seu Android. Na outra, ou os sistemas informáticos ficam atolados pelos exames e por toda a informação necessária para que uma consulta médica seja feita exclusivamente online ou não há telefones para atender a pedidos na área da Saúde. Ou, até, os médicos não sabem passar receitas num sistema informático.

Recentemente, as pessoas viveram uma realidade única em que tiveram que sair de casa para votar no Seu Presidente. Isso ou sujeitarem-se à escolha dos outros. 2021 chega para escolher online o meu jantar, pagar impostos ou ver/ouvir os programas que/quando quiser… Mas não chega a Belém.

Eu vivo num mundo assim um pouco alternativo. A Internet leva-me onde quiser mas os canais ainda mandam no que vejo na televisão. E quando.

Pasme-se, pois não tenho uma box para gravar programas ou voltar atrás. Para ver na TV, ou estou disponível no horário dos “meus” programas ou fico como quem não votou… Mandada pelos outros.

Por isso, uma das minhas principais pesquisas é sobre programação. É que nem tudo fica depois disponível online, convém estar atenta à agenda. Lembra-se de como era ir ao Teatro?

Pior do que não ter uma box com as funcionalidades que me dão o grande poder do consumidor é não poder contar com a tal programação. Acredite, um site de um canal diz-lhe que neste momento está a exibir um noticiário e, no ecrã, vê claramente um programa internacional de entrevistas ou um documentário. Nem sempre, mas com a RTP 3 é um pouco assim.

Neste período de pandemia, a Direção-Geral da Saúde (DGS) aconselha a gerir o consumo de informação. Diz que é para bem da sanidade mental. E eu fui à procura de alternativas ao noticiário da hora do almoço.

Enquanto na 1 corre o Jornal da Tarde, no canal de notícias também da RTP tenho assistido a muitas surpresas. O melhor de ver são os documentários, mais ou menos de 40 minutos, dos mais variados temas… Mas também há programas estrangeiros e, já aconteceu, também um formato de noticiário. Aí, confesso, ignoro as indicações da DGS e deixo-me ficar.

Mas o mais surpreendente é nem sempre poder acompanhar na programação da RTP 3 o que estou a ver. Se quiser saber o nome de uma reportagem de que gostei ou procurar um documentário que não vi começar porque a última reunião do Zoom acabou mais tarde… Paciência.


Como estamos em isolamento, ninguém ouviu a minha indignação. Que manifestei, sozinha, contra a televisão, o comando e o site da programação em palavras muito pouco próprias… Mas, enfim, abracei este mundo alternativo que me surpreende diariamente.

Será que abdiquei de um poder? De um direito? Não sei. Mas quer experimentar?

Siga-nos:
fb-share-icon

Patrícia Troca

Outros artigos

Share
Instagram