Umas galinhas castanhas à chuva
O aprendiz
O meu livro de ensinamentos sobre poesia,
comprado numa banca ao ar livre junto ao rio,
apresenta muitas regras
sobre o que escrever e não escrever.
Mais do que duas pessoas num poema
é uma multidão, é uma.
Falar na roupa que se tem vestida
quando se escreve, é outra.
Fugir de palavras como vórtice,
aveludado e cigarra.
Quando não souber como acabar,
ponha umas galinhas castanhas à chuva.
Nunca admita que faz correcções.
e – mantenha sempre o poema numa só estação.
Procuro tê-las presentes,
mas nestes últimos dias de verão,
sempre que ergo os olhos da minha página
e vejo uma mancha seca numa folha amarela,
penso nos ventos gélidos
que em breve golpearão o meu casaco.
O autor deste poema, Billy Collins, é um poeta americano, nascido em 1941. Entre outras honras, foi Poet Laureate of the United States, 2001 to 2003. Ensina actualmente no MFA program at Stony Brook Southampton.
Que eu conheça há dois livros seus em português, Amor Universal, Trad. Ricardo Marques, Ed. Averno, Contra sinos de vento, Trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho, Ed. Do lado esquerdo.
Quando lhe comuniquei que ia escolher apenas um poema e lhe perguntei se ficava desiludido com a minha escolha, enviou-me o pequeno texto:
Nunca li esse poema em público, nem o encontra em nenhum livro meu (penso eu*), contudo é um dos meus favoritos. Gosto da inocência do jovem narrador, que tenta aprender a escrever lendo livros sobre como escrever seguindo certas regras. Procura dar o seu melhor. Próximo do fim, o poema entra numa via mais pessoal ao vermos que lhe falta um bom casaco de inverno. As suas dificuldades financeiras atraem a simpatia do leitor (espera-se).
*O poeta aqui falha. O poema aparece em The Trouble With Poetry and Other Poems, New York: Random House, 2005.
Francisco José Craveiro de Carvalho (poeta e tradutor; é professor jubilado de matemática)