Vai ficar tudo bem

 Vai ficar tudo bem

Alex Kotliarskyi (Unsplash)

Há muito que nos demos conta de que, sem a informática nem as comunicações, o nosso mundo pararia. A utilização de sistemas computacionais e da Internet atingiu um grau tão elevado que já não nos apercebemos do seu papel em tudo o que fazemos. Temos, nos nossos bolsos, dispositivos com um poder computacional muito superior ao de supercomputadores de há poucas décadas. Podemos, com alguns cliques, comunicar com pessoas de todo o Globo e ter acesso a quantidades inimagináveis de dados e informação. Muitos dos nossos dados e ficheiros estão em servidores e em centros de dados cujo paradeiro físico e os donos desconhecemos. No entanto, para que tudo isto seja possível, há uma componente quase desconhecida, invisível, mas absolutamente fundamental: a segurança informática.

A segurança de sistemas e de redes tem muitas vertentes. Uma delas é a criptografia. Sem entrar em detalhes técnicos, podemos dizer que o papel da criptografia é o de proteger segredos. É a criptografia que impede o acesso indevido às nossas contas em todos os sistemas ou aplicações que utilizamos; que protege as transações e operações financeiras que realizamos na Internet ou quando usamos um cartão de débito ou de crédito numa qualquer loja; que garante a autenticidade de documentos assinados digitalmente; que assegura a privacidade das comunicações ou que serve como barreira para todo o tipo de ataques informáticos. É, também, a criptografia que protege todo o tipo de sistemas críticos, tal como os sistemas de produção industrial e de energia, as redes de comunicação, os sistemas de transportes, os sistemas de informação ou os sistemas governamentais.

Uma outra vertente da segurança, porventura a mais crítica, é a dos procedimentos e políticas. De nada serve ter sistemas criptográficos avançados se as políticas e os procedimentos de segurança forem desadequados, se o software e os sistemas forem obsoletos ou desatualizados, se não forem cumpridas normas de segurança.

Neste momento, as maiores guerras travam-se nos sistemas informáticos. Países inteiros foram e continuam a ser alvo de ameaças e ataques. Estes ataques podem paralisar organizações, instituições ou países, causando prejuízos incalculáveis. Há cerca de um mês, tivemos um exemplo de um desses ataques, perpetrado contra o grupo Impresa. Há poucos dias, o mesmo grupo que atacou a Impresa reivindicou um ataque contra sistemas informáticos do Parlamento português, tendo, alegadamente, roubado informação sensível. Tudo isto nos leva a questionar se o nosso país está preparado em matéria de segurança informática ou se, como é costume, vivemos na esperança de que tudo correrá pelo melhor e de que vai ficar tudo bem. Inevitavelmente, mais e mais graves ataques irão acontecer; provavelmente, orquestrados a partir do estrangeiro. Resta saber se só reagiremos demasiado tarde.

01/02/2022

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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