Vencer desafios

 Vencer desafios

(Créditos fotográficos: Element5 Digital – Unsplash)

Porque a vida é repleta de desafios e de constante evolução, o papel da escola é, cada vez mais, o de dotar os alunos de ferramentas úteis para vencerem os inúmeros obstáculos que irão encontrar no futuro. É claro que isso não retira importância à aquisição de conhecimento em diversas áreas, já que esse conhecimento é, ele próprio, uma ferramenta para entender o mundo em que vivemos; mas é também claro, para todos, que o acumular de conhecimentos, por si só, fica muito aquém dos objetivos de uma escola moderna, útil para a sociedade.

Hoje, no entanto, falar de aquisição de conhecimento, de ferramentas, de modernidade, de utilidade e de sociedade leva-nos, quase inevitavelmente, a falar de tecnologias da informação e comunicação (TIC), razão pela qual faz todo o sentido que a escola ensine os seus alunos a utilizarem esta ferramenta tão essencial. As TIC são utilizadas em todas as áreas de atividade, pelo que é crucial que os alunos adquiram, na escola, competências para a sua correta utilização.

As vantagens das TIC no ensino são muitas e amplamente conhecidas. Por um lado, ao serem um fator de novidade para os alunos mais jovens, as TIC tornam o processo de aprendizagem mais divertido e cativante. Por outro, as TIC possibilitam o acesso a vastos repositórios de informação e de conhecimento, e abrem a possibilidade de interação com pessoas de todo o Mundo. Além disso, potenciam a aprendizagem espontânea e autónoma. Não menos importante é o facto de as TIC poderem constituir uma ferramenta de produtividade, que permite aos alunos aprender e realizar tarefas em menos tempo, em comparação com a utilização de ferramentas tradicionais.

(Créditos fotográficos: Kenny Eliason – Unsplash)

Entusiasmados pelas inegáveis vantagens atrás referidas, esquecemo-nos, muitas vezes, das suas desvantagens. Não podemos escamotear o facto de que as TIC são um fator de distração que, frequentemente, faz com que os alunos se concentrem na ferramenta e não na substância das tarefas que têm em mãos. Além disso, se bem que as TIC potenciem o acesso a grandes volumes de informação, é difícil para os alunos perceberem a qualidade dessa mesma informação: a Internet está cheia de dados incorretos e de desinformação. Como distinguir o que é correto do que não é? Outro aspeto relevante é o de que, ao criarem a ilusão de que tudo é conhecido e tudo está na Internet, as TIC podem constituir um obstáculo importante à inovação e à criatividade. Por fim, usar as TIC significa mais tempo de ecrã e, consequentemente, maior isolamento, forte decréscimo da socialização entre colegas e menos contacto com o mundo real e com as pessoas que fazem parte do meio social e familiar dos alunos. Ora, uma das competências-chave que os alunos devem adquirir na escola é a competência social, que os ensina a interagir com outros, a respeitá-los e a entender os seus pontos de vista.

(Créditos fotográficos: Firmbee.com – Unsplash)

Como é evidente, a solução está em encontrar o equilíbrio entre os aspetos positivos e os aspetos negativos da utilização das TIC no ensino. Em muitos casos, faz todo o sentido utilizar as TIC. Noutros, não fará sentido nenhum. Eu diria que uma boa escola é a que ensina os alunos a perceberem quando é que é útil usar as TIC e quando é melhor não as usar. E de entre as boas escolas, a melhor de todas é aquela que ensina os alunos a usarem a mais extraordinária ferramenta que detêm e que já nasceu com eles: o cérebro. Não é o simples facto de fazer os exames em formato digital que cria alunos mais bem preparados. Não é o simples facto de se utilizarem as TIC nas escolas que nos conduz a melhores alunos e a uma sociedade melhor e mais moderna. Mais importante do que ensinar os alunos a usarem qualquer ferramenta artificial é ensiná-los a pensar. Só isso os preparará, verdadeiramente, para vencerem os desafios que enfrentarão ao longo da vida.

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10/07/2023

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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