25 de Abril, sempre…

 25 de Abril, sempre…

Soldados colocaram cravos nos canos de suas armas no dia 25 de Abril de 1974. (Créditos fotográficos: Centro de Documentação da Universidade de Coimbra – bbc.com)

O Monte do Sobral, na pacatez solarenga de Alcáçovas, surgiu nas primeiras páginas dos jornais e nas câmaras de televisão, cinquenta anos depois, numa revelação que passou de política a espiritual, num regresso de Abril à memória de quem precisa de a ter bem viva.

Monte do Sobral, em Alcáçovas (concelho de Viana do Alentejo). (cm-vianadoalentejo.pt)

O “25 de Abril” nasceu ali, no Monte, numa primeira reunião dos capitães pela calada da noite, na lonjura alentejana, planeando a liberdade que haviam de transportar como bandeira algum tempo depois, consumada a Revolução dos Cravos que depôs a ditadura e instituiu a liberdade democrática em Portugal.

Cinquenta anos depois, vários capitães de Abril voltaram ao local e, com eles, estiveram Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mais os cantares do Zeca Afonso, na expressão do grupo de cante alentejano que animou a festa cantando “Grândola, Vila Morena”.

Às muitas perguntas dos jornalistas, umas com propósito, outras nem tanto, como aliás é costume, respondeu Marcelo com o seu ar de avô simpático, apostado em contar a história aos netos e tentando explicar a importância do cravo como símbolo da liberdade.

Teria sido fácil a missão não fora a pergunta de uma jovem sobre o estado do País agora e há cinquenta anos. Qual das épocas foi melhor?

(floresnocais.pt)

A resposta “democracia e liberdade” e a explicação conjunta não foram uma aula de História, mas foram uma poderosa chamada de atenção para os que têm a memória curta ou para os que não conhecem a verdade dos factos e os interpretam à sua maneira.

Também o foi para queles que negam o 25 de Abril ou para os que se apressaram a esquecê-lo, refugiados nas falinhas mansas de um regime político ditatorial que serviu, apenas, os interesses de alguns e apregoava o “slogan” de “país pobre, mas honrado”.

Passaram cinquenta anos sobre o 25 de Abril, mas não passou a vontade de viver em democracia e em liberdade, sem censura nem polícia política, com direito a voto e podendo escrever textos como este em que se salvaguardam os valores humanos e humanistas de um povo mártir que quer viver em paz e ter direito ao trabalho, à saúde e à educação.

.

11/09/2023

Siga-nos:
fb-share-icon

Fernando Correia

Fernando Lopes Adão Correia nasceu em 1935. É jornalista, autor e comentador de rádio e de televisão. Começou na Emissora Nacional, aos 19 anos, e passou pelo Rádio Clube Português, pela RDP, pela TSF-Rádio Jornal, pela TVI, pelo jornal vespertino A Capital, pelo jornal O Diário, pelo Record e pelo Jornal de Notícias, com textos publicados em vários outros jornais e revistas. É autor de 43 títulos, entre os quais se destacam os recentes livros: “E Se Eu Fosse Deus?”, “O Homem Que Não Tinha Idade”, “Piso 3 – Quarto 313”, “Diário de Um Corpo Sem Memória”, “São Lágrimas, Senhor, São lágrimas” e “Um Minuto de Silêncio”. O seu próximo livro (a publicar) chama-se “A Mística do Tempo Novo” e é um ensaio filosófico, de auto-ajuda e acerca da construção do Homem Novo. Dos programas que realizou e apresentou na rádio destacam-se: “Programa da Manhã”, “De Um Dia Para o Outro”, “Falar é Fácil”, “Lugar Cativo” e “Bancada Central”, título que, agora, recupera no jornal sinalAberto. Deu aulas de Ciências da Comunicação e de Sociologia da Comunicação no Instituto Piaget, na Universidade Autónoma de Lisboa (como convidado), no centro de formação Palavras Ditas e na Universidade do Algarve (também como convidado).

Outros artigos

Share
Instagram