FITEI 2025: “Espectros, Eros e Sacrifício” (I)

FITEI no Teatro Municipal do Porto. (teatromunicipaldoporto.pt)
A edição n.º 48 do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) consagra o esforço, tenacidade e compromisso da organização que, em 1978, se lançou nesta bela aventura. Gostava, aqui, de lembrar as pessoas, homens de teatro, que fizeram possível esta realidade de grande impacto na cidade do Porto, entre os seus fundadores, pelo Teatro Experimental do Porto (TEP), José Cayolla, pela Seiva Trupe, Júlio Cardoso e António Reis; mais tarde, Mário Moutinho e, actualmente, Gonçalo Amorim.

Por detrás desta organização estão as companhias mais antigas da cidade do Porto e, já há algumas décadas, o apoio incondicional do Teatro Nacional São João (TNSJ), que, acompanhando económica e estrategicamente o festival, tem dado acolhimento a belas produções nacionais e internacionais. É de destacar o espaço que o FITEI abriu, desde muito cedo, às escolas de teatro da cidade, para apresentar as suas realizações, dando, assim, possibilidade aos jovens actores de pisarem um palco internacional, nas melhores condições de representação.

Neste ano, os alunos da licenciatura em Teatro da Escola Superior Artística do Porto (ESAP) apresentaram uma versão muito particular de “O Avarento”, de Molière, e a produção “Teatro Folle Epoque”, pelo Balleteatro. O FITEI destaca-se no universo dos festivais nacionais e internacionais, sobretudo, por trabalhar – como afirmou Gonçalo Amorim, o respectivo director artístico – “no triângulo atlântico, real e imaginário, de Europa, África e América”. “Mantendo o cunho da Expressão Ibérica, tem, nos últimos anos, estado particularmente interessado nos artistas da diáspora destes três territórios, expandindo assim o que se entende por Expressão Ibérica. Mais uma vez, numa nova edição, o nosso foco principal será [foi, de 14 a 25 de Maio] nas novas dramaturgias, e nas linguagens cénicas de autor”, declarou Gonçalo Amorim, adiantando, então: “A 48.ª edição desenrolar-se-á entre Porto, Matosinhos, Gaia, Viana do Castelo, a que este ano se junta Monção. Preparemo-nos todos para que as próximas semanas sejam de ‘Espectros, Eros e Sacrifício’.”
.
O morcego de Darwin no Chile

Sobre o “fantasma de Darwin”, um historiador britânico afirma que o facto de Charles Darwin ter presenciado um terramoto de magnitude 8,2 no Chile (na minha cidade de Concepción), em 1835, ajudou-o a desenvolver a teoria da evolução das espécies. O grupo chileno, encenado por Manuela Infante, fala do cientista britânico nas terras austrais e refere ainda o desenho de um morcego que teria sido feito na altura e que, mais tarde, seria a inspiração de Bram Stoker, o autor do romance gótico “Drácula”.
Como respigo do correspondente programa: “Vampyr é um pseudodocumentário sobre criaturas obstinadas que se recusam a obedecer ao mandato da divisão Natureza/cultura […] seres indeterminados e teimosos que vagueiam desorientados, por vezes como morcegos, por vezes como trabalhadores nocturnos, pelos parques de turbinas eólicas que são construídos sem qualquer regulamentação no território do Chile. Vampyr oferece um olhar complexo sobre o cansaço e a energia, sobre o trabalho e o descanso. Uma obra de humor negro delirante, sobre a relação com os animais não humanos que habitam os nossos territórios e a forma como nos relacionamos com as suas culturas, quando pensamos nas nossas projeções energéticas futuras.”

Assisti à representação e à aprovação entusiasta deste espectáculo por parte do público. No final, ainda tivemos oportunidade de ouvir os discursos – muito pouco oficiais, mas carregados de emoção, de contentamento e de sentimentos teatrais – do presidente do Conselho do TNSJ, Pedro Sobrado, de Gonçalo Amorim e de Jorge Pinto, presidente do FITEI. Todos eles concordando na importância e continuidade do FITEI, que já se aproxima ao cinquentenário!

Agrada-me constatar que o FITEI tenha começado com lotações esgotadas, particularmente em dois espectáculos. “Anna Karénina” é uma das histórias mais famosas da literatura universal, com uma adaptação do famoso clássico russo, pela encenadora catalã Carme Portaceli. George Steiner escreveu: “Anna Karénina morre no mundo do romance; mas, cada vez que lemos o livro, ela ressuscita. O mesmo acontece num palco de teatro. ”Também “A Gaivota”, a “incansável” e eterna peça de Anton Tchekhov, volta ao palco na encenação do argentino Guilhermo Cacace. A propósito, leio igualmente: “Em Gaivota, a vida assemelha-se ao palco abandonado e decadente de uma peça de teatro à beira de um lago, com o vento a agitar a cortina a céu aberto que soa como o choro dos derrotados. Masha tenta juntar as peças desta história de amores não correspondidos, de sonhos que se desfazem ao serem realizados e da dor que se acumula ao longo dos anos.”
A programação incluiu ainda, ateliers de trabalho, residências artísticas, performances e encontros que prefiguram quase uma centena de eventos dignos de serem seguidos e participados.
.
Considerações finais

A supressiva eleição de Leão XIV, Robert Frances Prevost (Chicago 1955), é o primeiro Papa norte-americano, surpreendeu-nos pela unanimidade e pela rapidez da sua eleição. Pouco a pouco, vamos descobrindo momentos da sua vida, entre os quais se destacam, os seus 20 anos no Peru, na localidade de Chiclayo. O Papa é peruano disse a presidente do Peru, entre orgulho e emoção. Ele se formou como agostiniano. “A identidade de um agostiniano é a de um homem que crê na unidade, unidos uma só alma e um só coração em Deus”, a frase está numa sala do Colégio de Nossa Senhora da Consolação, em Lima, do qual é director o padre Pablo. Poucos como ele conhecem tanto Prevost: “Ele era uma pessoa normal, não saía nos meios, não escrevia livros, não tinha palestras multitudinárias. Mas subia para o seu cavalo e ia para a serra. E como na serra falam Quéchua aprendeu também esta língua nativa para comunicar com as populações.” Os purpurados reuniram-se em Conclave sob a inspiração do Espírito Santo. Desta vez, julgo que o espirito que mais primou foi o de Francisco!
Ultimamente, muito se tem falado da relação de Leão XIV e de Leão I, pela capacidade de diálogo. Consultando a Wikipédia, constatamos que, com efeito, vale a pena lembrar o encontro entre Leão Magno e Átila1, magnificamente representado na pintura. É o último fresco realizado por Rafael na Sala Heliodoro/Vaticano e foi terminado após a morte de Júlio II, durante o pontificado de seu sucessor Leão X (1513 /1521). De facto, este último aparece duas vezes na mesma cena, retratado sob os restos mortais do papa Leão Magno e como cardeal. Segundo a lenda, a aparição milagrosa de São Pedro e de São Paulo, armados com espadas durante o encontro entre o Papa Leão Magno e Átila, fez o rei dos Hunos desistir de invadir a Itália e marchar sobre Roma.
Poderá este Papa dialogante parar o trumpismo de momento?

portalgiro.com)
Lamento, igualmente, a morte de José Mujica (1935-2025): “Grande revolucionário, eterno e exemplo para o Mundo. ”Clandestinidade e, mais tarde, simplicidade na Presidência do Uruguai. Ícone da esquerda sul-americana, passou 14 anos da sua vida atrás das grades, sofreu as torturas e interrogatórios da ditadura militar, foi eleito presidente em 2010. Uma vez no cargo, passou a ser conhecido pela sua vida simples e por não guardar ressentimentos nem rancor para com os seus opressores!
Nota:

de Tancredi Scarpelli, em “Storia d’Italia” – aventurasnahistoria.com.br)
1 – Átila (452 d.C.), conhecido como o “Flagelo de Deus”, foi o líder dos Hunos durante o século V. Governou um vasto império que se estendia pela Europa Central e Oriental. É, segundo anota a Wikipédia, frequentemente associado às invasões e conquistas que aterrorizavam as populações romanas e germânicas da época. Figura histórica fascinante, a sua liderança militar e política teve um impacto significativo na História da Europa. No cinema, a personagem teve o rosto de Anthony Quinn (1954) e de Jack Palance, em 1955.
.
29/05/2025