O que se não diz da imigração

 O que se não diz da imigração

(Créditos fotográficos: Mostafa Meraji – Unsplash)

A “política de portas abertas” à imigração foi o resultado de encontrar mão-de-obra muito barata para substituir a dos trabalhadores portugueses com direitos alcançados por muita luta. Não admira que, de forma primária, estes olhem os imigrantes como uma “ameaça”, tal como há um século se revoltavam contra os “amarelos”1.

(Direitos reservados – dn.pt)

O que mais importa denunciar – e já vai com atraso – é isto mesmo. E que, hoje, são os mesmos que querem “fechar portas”, por terem mão-de-obra excedente e para que, com a clandestinidade de imigrantes, estes se sujeitem a salários ainda mais miseráveis. Não é um discurso “paternalista” e muito menos repetir o slogan neoliberal para justificar, nesse momento, a “política de portas abertas”, de que eles são necessários para fazer o trabalho que os outros não querem… Isto é o que se não diz, pelo menos assertivamente, sobre a imigração.  Como esperam que os trabalhadores portugueses reajam? Que trabalho não querem fazer? O de salários de 500 ou de 600 euros (quando não menos), precário e, muitas vezes, sem contrato? Esse é o lado para que os “sobre-exploradores” melhor dormem. Acordai!

(Créditos fotográficos: Tim Mossholder – Unsplash)

Nota:

1 – Designação dada pelos grevistas de há um século para os chamados fura-greves.

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01/09/2025

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Jorge Castro Guedes

Com a actividade profissional essencialmente centrada no teatro, ao longo de mais de 50 anos – tendo dirigido mais de mil intérpretes em mais de cem encenações –, repartiu a sua intervenção, profissional e social, por outros mundos: da publicidade à escrita de artigos de opinião, curioso do Ser(-se) Humano com a capacidade de se espantar como em criança. Se, outrora, se deixou tentar pela miragem de indicar caminhos, na maturidade, que só se conquista em idade avançada, o seu desejo restringe-se a partilhar espírito, coração e palavras. Pessimista por cepticismo, cínico interior em relação às suas convicções, mesmo assim, esforça-se por acreditar que a Humanidade sobreviverá enquanto razão de encontro fraterno e bom. Mesmo que possa verificar que as distopias vencem as utopias, recusa-se a deixar que o matem por dentro e que o calem para fora; mesmo que dela só fique o imaginário. Os heróis que viu em menino, por mais longe que esteja desses ideais e ilusões que, noutras partes, se transformaram em pesadelos, impõem-lhe um dever ético, a que chama “serviços mínimos”. Nasceu no Porto em 1954, tem vivido espalhado pelo Mundo: umas vezes “residencialmente”, outras “em viagem”. Tem convicções arreigadas, mas não é dogmático. Porém, se tiver de escolher, no plano das ideias, recusa mais depressa os “pragma” de justificação para a amoralidade do egoísmo e da indiferença do que os “dogma” de bússola ética.

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