“Para que exista teatro deve haver teatros”
Teatro de São Luiz, uma sala que marca a vida cultural lisboeta. (e-cultura.pt)
Acredito que a frase que serve de título a este artigo – “Para que exista teatro deve haver teatros”, como afirmou António Pedro – não está errada. Em todo caso, se alguém quiser verificar basta ir ao Teatro Nacional São João (TNSJ) e comprar um bilhete, o qual vem “embrulhado” num pequeno envelope que encerra, ao mesmo tempo, a mensagem de António Pedro, um dos primeiros encenadores contemporâneos da modernidade do Teatro em Portugal.
Em artigos antigos, neste espaço, escrevi sobre os lugares teatrais que foram desaparecendo. De facto, a cidade do Porto já teve mais salas de teatro, assim como já teve mais cinemas.

Alegra-me a notícia de que o Cine-Teatro do Vale Formoso será recuperado. Esta sala de espectáculos do Porto, que fechou portas nos anos 90, acaba de ser adquirida pela UAU, operadora do lisboeta Tivoli, que investe no teatro portuense sete milhões de euros. As portas do Cine-Teatro Vale Formoso reabrem no final de 2026.
A sala principal do TNSJ foi baptizada – desculpem a palavra, sagrada e ritualista – com o nome de Ricardo Pais, que foi director artístico durante vários anos dessa casa de espectáculos. Numa concorrida cerimónia e junto a um “flute” de espumante, com as palavras do Presidente da República, o qual apelou para que ele, Ricardo Pais, continue durante dez anos mais! Talento, energia e criatividade, com certeza, não lhe faltam… Também eu e muitos outros esperamos ver mais encenações de Ricardo Pais.

Na vizinha Espanha, El Teatro de la Comedia está de aniversário: celebra 150 anos e comemora com uma exposição de acesso gratuito que passa em revista a sua história, desde a inauguração, em 1875, até hoje, como sede da Compañía Nacional de Teatro Clásico. Entre os muitos e célebres encenadores, é de destacar (nessa companhia) Adolfo Marsillac, que, em 1972, encenou (com Raul Solnado) a comédia “Tartufo”, de Molière. Eram os anos de chumbo em Lisboa, a versão de Molière foi de Enrique Llovet, com tradução portuguesa do actor e dramaturgo Carlos Wallenstein
No meu país (Chile), no mês de Outubro, decorreu a celebração dos 70 anos de existência do Teatro ICTUS, grupo teatral independente, um dos mais antigos da América Latina, juntamente com o Teatro El Galpón, de Montevideu, no Uruguai. Prometo fazer uma crónica sobre este magnífico grupo teatral uruguaio. Saliento, neste teatro, a figura do dramaturgo Jorge Diaz, um dos mais influentes escritores de teatro chileno.

Como regista o Diario La Tercera, em 7 de Outubro do corrente ano: “A trajectória da nossa companhia ICTUS e do nosso espaço constitui não só uma peça fundamental para a construção das memórias das artes cénicas no Chile, como também representa um pedaço da História do nosso país. Passaram por aqui importantes teatrólogos da História do Chile, fundadores e colaboradores que marcaram um antes e um depois na forma como o teatro foi construído e, hoje, a nossa missão é perpetuá-lo.”
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e o legado de um dos mais importantes escritores
do século XX. (rtp.pt)
Kafka na RTP2 – absolutamente kafkiano: uma gaiola saiu à procura de um pássaro…
Passou na RTP2 ao domingo, às 22h00, e pode ser revisto na RTP Play.
Este programa (que é também documento / ficção / “biopic”) é do melhor que tenho visto; e apelo a que vejam. De uma realização extraordinária sobre o autor e a sua relação com o seu amigo Max Brod1. A não perder!

monumento a Frederico Augusto, o Justo, e da
Galeria Semper, no Zwinger de Dresden.
(pt.wikipedia.org)
Em muitas outras oportunidades, tenho chamado a atenção para a qualidade da programação da RTP2. A meu ver, é uma das melhores emissoras culturais de Europa, mas sempre sob a ameaça de interesses escuros sobre o seu futuro.
Quando falo de televisão e de crítica, não sendo este um espaço de crítica, lembro o jornalista Mário Castrim2. Que falta nos faz uma crítica televisiva que não seja contaminada pelas redes sociais nem pela programação medíocre dos canais privados!
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Assalto ao Louvre

Gioconda”, de Leonardo da Vinci. (pt.wikipedia.org)
Não é o primeiro nem será o último. O mais famoso foi o desaparecimento do quadro Mona Lisa, em 1911. A pintura foi levada por Vincenzo Peruggia, um operário italiano que, simplesmente, a escondeu sob o casaco e saiu do museu sem ser notado. Foram necessários dois anos para recuperá-la.
Para mim, este roubo ou assalto verdadeiramente cinematográfico remete-nos para as memórias de Arsène Lupin e para um outro, dos mais lúdicos ladrões franceses, Fantômas, personagem francês fictício de literatura, criado pelos autores Marcel Allain (1885–1969) e Pierre Souvestre (1874–1914). No cinema teve o rosto do actor Jean Marais sendo o seu antagonista Fandor, interpretado pelo comediante Louis de Funés.
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de artista anónimo, em 1911. É uma “imagem
clássica da onirologia parisiense”, segundo o
poeta francês Robert Desnos. (en.wikipedia.org)
Neste assalto fala-se muito de Napoleão, mas, se calhar, seria mais coerente falar de Napoleão III, sobrinho de Napoleão I, casado com a espanhola, Eugenia de Montijo. Napoleão III governou mais do que o seu tio. Talvez pelas razões políticas europeias da época, foi também presidente da República Francesa e não podemos esquecer que partiu dele a iniciativa anacrónica de fundar um império no México, mas retirou as suas tropas sob a pressão exercida pelos Estados Unidos da América. Os soldados franceses foram expulsos e o pretenso imperador Maximiliano foi fuzilado pelos mexicanos.
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Victor Hugo e Napoleão III
Violentamente hostil ao golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, Victor Hugo refugiou-se em Guernsey, de onde não retornou até depois da queda do Segundo Império, 20 anos depois.

Stanisław. (pt.wikipedia.org)
Em Lês Châtiments, ele proclama a sua admiração por Napoleão I, para melhor denominar Napoleão III com o seu sarcasmo, a quem apelidou de “Napoleão, o Pequeno”. Esta obra, cujo primeiro texto se intitula “Nox” (“Noite”) e o último “Lux” (“Luz”), revela um compromisso que nunca vacilará. O tom também está definido no prefácio, em que Victor Hugo escreve: “Se alguém coloca uma mordaça na boca que fala, a palavra se transforma em luz, e a luz não é amordaçada.”
Ainda na França, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foi levado à prisão, em 21 de Outubro, para cumprir uma pena de cinco anos, por supostamente financiar de forma ilegal – dinheiro da Líbia – a sua campanha eleitoral de 2007, disseram fontes à AFP, em 13 de Outubro.

(pt.wikipedia.org)
Um pouco mais sobre a França: talvez ninguém se lembre do caso dos diamantes de Bokassa, assunto político que envolveu o político francês Valéry Giscard d’Estaing e o líder centro-africano Jean-Bedel Bokassa. Emblemático do jornalismo investigativo e da protecção das fontes de informação, o caso começou em Outubro de 1979, após revelações no Le Canard Enchaîné, de que o presidente da República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa, havia dado diamantes de alto valor a Valéry Giscard d’Estaing, então ministro da Economia e Finanças – que se tornou chefe de Estado quando o escândalo estourou –, bem como a membros da sua família e comitiva. Bokassa tinha acabado de ser derrubado por uma intervenção militar sob as ordens de Giscard d’Estaing (Operação Barracuda e Operação Caban).
No dia 4 de Dezembro de 1977, Bokassa torna-se imperador da República Centro-Africana. A cerimónia, de 20 milhões de dólares, teria sido paga pelo presidente francês Giscard D’Estaing, suspeito de ter recebido diamantes do tirano, que governou o país (dos mais pobres do Mundo) de 1966 a 1979.
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Notas:
1 – Max Brod (1884-1968) foi um escritor de língua alemã, compositor e jornalista judeu. Foi amigo, biógrafo e testamenteiro de Franz Kafka. Organizou e publicou muitos dos seus escritos. Entre eles, “Amerika” e “Narrativas do Espóli”.
2 – Mário Castrim, pseudónimo de Manuel Nunes da Fonseca (1920-2002), foi um jornalista, poeta, escritor, crítico da televisão e professor português. Trabalhou no jornal Diário de Lisboa e no semanário Tal & Qual.
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03/11/2025