A importância da educação mediática: o exemplo da Finlândia

 A importância da educação mediática: o exemplo da Finlândia

(Créditos fotográficos: Tobias Albers-Heinemann – Pixabay)

Dados publicados dizem-nos que a Finlândia é o país que ocupa o primeiro lugar no ranking de resiliência contra a desinformação informática. Este pequeno país está em primeiro lugar entre 41 nações da Europa. Curiosamente, também ocupa o primeiro lugar entre os países do Mundo com maior índice de felicidade. Mas esse seria tema para outra crónica.

Baía de Töölö em Helsínquia, na Finlândia, fotografada da torre do Estádio Olímpico de Helsínquia. (ia.wikipedia.org)

Nos currículos escolares da Finlândia, desde o ensino pré-escolar até ao secundário,  existe uma disciplina que visa ensinar a combater a desinformação trazida pelos media, hoje, particularmente os digitais. Para os Finlandeses, ensinar os alunos e alunas a identificar notícias falsas ou manipuladas é tão importante como aprender ciências naturais, ciências humanas ou ciências físicas e matemáticas.

Esta tradição, na Finlândia, tem longa história. Na década de 1950, algumas escolas já educavam sobre o ensino da comunicação de massas, com foco particular na rádio e nos jornais. Além disso, o primeiro curso universitário  de educação mediática foi criado há 25 anos. Hoje, esta forma de educação é feita relativamente a todos os media, sejam eles online (as plataformas e canais digitais, como os sites, os blogues, as redes sociais, e-mails, marketing, em geral, e anúncios) ou offline (canais tradicionais, como TV, rádio, jornais, revistas, outdoors, panfletos e livros impressos, que são mais tangíveis, oferecem uma presença física e ampla cobertura de público.

Auditório no edifício principal da Universidade Aalto, localizado em Espoo, na cidade de Helsínquia, projectado por Alvar Aalto. (pt.wikipedia.org)

Vivemos, actualmente, num mundo cada vez mais saturado de informação. Mas quanta dessa formação é enganosa? Daí a importância desta disciplina, que devia, hoje, ser ensinada em todos os currículos mundiais, como uma habilidade verdadeiramente cívica. Os discentes, desde a infância à idade adulta, e os cidadãos, em geral, devem ser ensinados a entender os conteúdos que consomem e devem reflectir também profundamente nas responsabilidades  éticas de tudo o que produzem. E é isso mesmo o que acontece neste país nórdico, desde 2013, e  que terá sido um dos primeiros a definir uma política nacional de educação mediática, tendo, em 2019, integrado esta disciplina desde o ensino inicial até ao ensino médio e secundário. Não contentes com isso, muitas organizações não-governamentais e bibliotecas públicas começaram a oferecer, a adultos e, especialmente, a idosos, cursos de formação sobre esta matéria.

Anders Adlercreutz. (en.wikipedia.org)

O ministro da Educação e Cultura da Finlândia, Anders Adlercreutz, defendeu recentemente que a educação mediática é, hoje, cada vez mais fundamental para construir resiliência social e que o seu país entendeu isto muito cedo. E o governante finlandês expressou: “É especialmente importante ter a capacidade de avaliar criticamente o que se lê, dado que os meios de comunicação tradicionais produzem cada vez menos das informações que recebemos.” Parece, pois, claro o objectivo desta decisão da Finlândia:  ensinar o pensamento crítico que promova habilidades entre todas as camadas da população e que lhes permita pensar e agir, de forma crítica, a serem membros activos de uma sociedade democrática.

(Créditos fotográficos: Eliott Reyna – Unsplash)

Um aspecto que quero salientar, particularmente, é esta preocupação com as pessoas idosas, as mais facilmente enganadas, porque têm mais dificuldade em detectar as falsidades mediáticas. Não parece ser difícil aceitar isto, considerando tantos casos que todos conhecemos, com as gravosas consequências e nefastos resultados: eleitores manipulados no Mundo inteiro; falsas sondagens vendidas como verdadeiras; dinheiro facilmente extorquido e muitos outros exemplos que poderíamos enunciar.

(Créditos fotográficos: Giovanni Gagliardi – Unsplash)

Por isso, não podemos ter dúvidas. Quando as pessoas, de qualquer idade, têm boas competências no domínio da chamada “literacia digital” é muito mais difícil enganá-las com a desinformação hoje reinante. Quando promovemos a literacia digital, ajudamos as pessoas a encontrarem os factos mais relevantes, a analisarem um problema sob vários ângulos, bem como a distinguir a verdadeira  da falsa informação, além de lhes fornecermos ferramentas para combaterem a manipulação a que estão sujeitas, diariamente. O que ganharíamos nós, em Portugal, se apostássemos em medidas idênticas a estas? Teríamos, certamente, cidadãos mais críticos, logo, menos manipuláveis.

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Nota da Redação:

Este texto de José Vieira Lourenço é uma versão mais alargada de um artigo de opinião igualmente publicado na rubrica “Olhares sobre a Educação” do Jornal Mirante, de Miranda do Corvo, em Março de 2025.

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03/03/2025

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José Vieira Lourenço

José Vieira Lourenço é da colheita de Agosto de 1952. Estudou Teologia e fez a licenciatura e o mestrado em Filosofia Contemporânea, na Universidade de Coimbra. Professor aposentado do Ensino Secundário, ensinou Português, Filosofia, Psicologia, Sociologia, Teatro e Oficina de Expressão Dramática. Foi, igualmente, professor do Ensino Superior, na Universidade Católica de Leiria e no Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra. Foi ainda coordenador do Centro da Área Educativa de Coimbra (1998-2002) e só então conheceu verdadeiramente a classe docente. Descobriu bem cedo a sua paixão pela poesia, pela literatura, pela música e pelo Teatro. Foi Menino Jesus aos quatro meses no presépio vivo da sua freguesia. Hoje, como voluntário, dirige o Grupo de Teatro O Rebuliço da Associação Cavalo Azul e também o Grupo de Teatro de Assafarge. Canta no Coro D. Pedro de Cristo, em Coimbra. Apaixonado pela Natureza, gosta de passear a pé pelos trilhos da Abrunheira, na companhia do seu cão. Dedicado às causas da cidadania, é dirigente do Movimento Cidadãos por Coimbra, que insiste em fazer propostas para criar uma cidade diferente. Casado, tem duas filhas e uma neta, a quem gosta de contar histórias.

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