A importância das opiniões
Para muitas pessoas, a incerteza é uma coisa certa. Assim como a insegurança é uma coisa segura. Assim como a saudade é a dor da ausência.
Um dia, calhou-me ter um sonho: escrever um livro. Isto veio quase do nada. Mas cada pessoa tem um carimbo próprio. A minha visão esvaneceu-se e já não conseguia ler o que escrevia. Cismei, então, que havia de comprar um gravador de voz, como usam os jornalistas. Dispus-me a andar pelos campos a sorver as viagens das veredas e dos socalcos, das raízes, dos troncos e das copas das árvores. E a deslumbrar-me com a tranquilidade dos passarinhos, das nuvens e do vento a acariciar e a fazer cócegas aos mil elementos que por ali se estendiam cheios de vida.
Tudo me servia de motivo para contar histórias e para, mais tarde, alguém as passar para o papel. Nada conseguia. Já há muito que eu deixara de ler e, como terá dito um filósofo chinês, ninguém é capaz de escrever um livro sem ter lido outros mil antes dessa proeza. Passei a devorar audiolivros. Por fim, arrisquei escrevinhar poemas, alguns contos e textos de ficção.
Certa vez, ao crepúsculo de um dia invernoso, cuja trovoada caía pelas encostas do horizonte, resolvi escrever um poema. As palavras fluíam em cascata. É muito raro eu escrever tão rápido. Choviam pensamentos sobre o meu maior pensamento. Acastelavam-se como paralelos da rua. Como água no cântaro. Como chuvadas no espaço que o olhar alcança. Como as trevas na desembocadura de um vulcão. Como raios do Sol nas manchas verdejantes do chão. Como o sangue nas veias e nas artérias. Como tudo o que se caldeia no nada. E o nada que se sobrepõe ao tudo.
Acabei o poema. Tive vontade de o apagar. Resolvi, então, enviá-lo a uma amiga poeta. E tudo dependeria da sua opinião. Pouco tempo depois, li a seguinte mensagem electrónica: “Ai, José, este é um dos seus poemas de que gostei mais. Por amor de Deus, não apague o poema. Dê-o a conhecer.”
Não devemos pedir opiniões ao acaso, sob pena de nos baralharmos. Só alguns é que vão a conclave. Só certas pessoas é que detêm o tempero perfeito. Comamos da sua comida, bebamos da sua bebida. Ainda que a vida nos ensine que não devemos dizer ao nosso amigo aquilo que o nosso pior inimigo não possa saber. Nas nossas obras, de qualquer cariz, devemos aproveitar as críticas. Nunca irá a algum todo aquele que só sabe ouvir elogios. Sozinhos nada somos.
O tal poema, publicado no meu livro “A Inquietude do Silêncio”, a que se deve o título deste espaço no sinalAberto, é o seguinte:
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Nota do Director:
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23/12/2024