As fadas sem varinha de condão

 As fadas sem varinha de condão

Ilustração: Sandra Serra

Num grande jacarandá, que quase toca o céu azul e beija as brancas nuvens, mora uma casa.

Tão bonita fica, entre os ramos coloridos da maravilhosa árvore.

Duas janelas tem a casa, que se abrem dia a dia e, por elas, miram duas fadas.

Tão lindas ficam as fadas, olhando o horizonte pelas janelas da casa.

Rosália tem longos cabelos ruivos ondulando com o vento.

Líria tem cachos de caracóis que pendem como amoras silvestres.

Enfeitam-nas vivos olhos cor de esmeralda e belas asas tecidas com finos fios de prata.

O que não têm as fadas é varinha de condão, mas, em vez desta, usam o poder de adivinhar quando a alegria e a tristeza visitam os seus corações.

Basta que, para tal, o olhar de uma encontre o olhar da outra.

E ora estavam alegres ora estavam tristes, as duas fadas amigas.

Haveria razões para tal, mas nem sempre as sabiam explicar.

Um dia, a alegria demorou-se um pouco mais dentro do coração de Rosália. Enquanto em Líria, a tristeza se fechou a sete chaves. De tal modo que uma passou a ser a fada da alegria e a outra a fada da tristeza.

A certa altura, já não se entendiam muito bem…

A partir de então, a fada Rosália evitava olhar para a fada Líria, pois sentia-se incompreendida. E a fada Líria baixava os olhos e não queria ver a amiga, para não lhe roubar a alegria.

Assim estiveram durante algum tempo, recolhendo-se cada uma em seu canto.

Uma rasgava sorrisos, saltitava de contentamento e os seus olhos tinham o brilho de estrelas felizes.

A outra contraía os lábios, deixava descair as pálpebras e desmaiar as faces por onde rolavam lágrimas, como cristais.

Porque estariam assim, tomadas pelas emoções? Será uma história que tu poderás imaginar… Mas, adiante.

Certo dia, cansada de no seu canto estar, a fada da tristeza encarou a fada da alegria e esta correu para ela e ofereceu-lhe o seu maravilhoso sorriso, o brilho dos olhos e, com eles, uma singela e bela flor.

As mãos da fada Líria seguraram a flor e as suas lágrimas tornaram-na tão viçosa que esta se abriu de felicidade. As suas pétalas transformaram-se em asas de algodão que secaram as lágrimas da fada da tristeza. Só uma delas, rolando pelas verdes folhas, foi colhida pela mão da fada da alegria.

E foi assim que a fada da tristeza sorriu, olhando para a fada da alegria, enquanto esta se entristeceu um pouco, ao receber a cristalina lágrima da amiga, desprendendo-se ternamente da flor.

As duas fadas deram um abraço e entrelaçaram as mãos. Abriram a porta da casa suspensa no grande jacarandá e desceram pela escada do arco-íris.

Correram juntas, pelos verdes campos festejando a luz do sol, as cores, o aroma das flores, a frescura da água e também as nuvens cinzentas, bem como a chuva que tudo lava e até as pedras teimosas que as faziam tropeçar.

Aprenderam que a alegria e a tristeza fazem parte da vida, rodando como um carrossel numa montanha com altos e baixos.

20/06/2022

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Celeste Almeida Gonçalves

É professora e escritora de obras para a infância e juventude, desenvolve vasta atividade de mediação de leitura em escolas e bibliotecas e dinamiza variados projetos, no âmbito da leitura e da escrita criativa.

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