Atónitos? Temos é de aprender com os melhores

 Atónitos? Temos é de aprender com os melhores

(x.com)

No dia 11 de Janeiro, manifestantes vão sair às ruas em
solidariedade com os imigrantes do Martim Moniz, alvo de
operações policiais recentes. O acto “Não nos encostem à
parede” terá saída da Alameda Dom Afonso Henriques, às
15h00. No cartaz de divulgação deste protesto lê-se:
“Contra o racismo, contra a xenofobia, liberdade e
dignidade”.

O primeiro-ministro diz-se “atónito” e “muito perplexo” com as reacções ao “esforço” do Governo no âmbito da segurança, na sua tentativa de explicar a recente intervenção policial, na qual foram encostadas dezenas de pessoas à parede, no Martim Moniz, em Lisboa. Na manhã de sexta-feira (durante a tomada de posse dos novos dirigentes das secretas), Luís Montenegro quis “deixar uma palavra” aos cidadãos que, de forma generalizada, ficaram (eles sim) estupefactos e assombrados com a operação realizada pelos agentes policiais, apoiando a ideia de que se tratou de uma acção para garantir a “plena integração” dos imigrantes, mas não nos convenceu nem nos aquietou. São, de facto, ameaçadoras as imagens do aparato policial da “operação especial de prevenção criminal” concretizada a 19 de Dezembro, naquela zona lisboeta, mostrando-nos pessoas de diferentes origens encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia.

Apesar da suposta bonomia da afirmação de que não haverá “nenhuma acção policial dirigida a nenhuma comunidade específica”, o governante afiança “direitos das pessoas, paz e tranquilidade”, admitindo que tem de se observar a “prevenção de condutas criminais”. Porém, não pode condescender com os abusos de autoridade  dos agentes ou dos funcionários tidos como competentes para requisitar ou ordenar emprego da força pública.

Como escreve Sónia Sapage, no jornal Público, a propósito da mensagem de Natal em que o primeiro-ministro volta a lembrar que Portugal é “um dos países mais seguros do mundo”, reforçando o que já tinha manifestado no dia em que apresentou a campanha “Portugal Sempre Seguro”, esta declaração é confirmada pelo Global Peace Index 2024, colocando o nosso país no “top 10” dos mais seguros.

Global Peace Index 2024 (economicsandpeace.org)

Sem omitir a criminalidade que, realmente, existe e que justifica as parangonas do jornalismo tablóide e as aberturas noticiosas das televisões sensacionalistas que exploram, até à exaustão e à insensatez, os casos de corrupção, de tráfico de droga, de terrorismo “online”, de assaltos à mão armada, de ofensa à integridade física grave, de violação e de extorsão, entre outros, Portugal é, segundo o referido Índice Global da Paz (que visa analisar o nível geral de esforços pela paz, mas não exclusivamente), o sétimo país mais seguro numa lista de 163.

No índice de 2018, o primeiro colocado era a Islândia e o último era a Síria. Actualmente, o país insular nórdico, tão marcado pelos vulcões e campos de lava, continua a ser o mais seguro do Mundo, logo seguido na lista classificatória pela Irlanda e pela Áustria. O nosso país, em relação ao quinquénio anterior, em que detinha a quarta posição na tabela, desceu três lugares, o que – como adverte a directora-adjunta do Público – “nos obriga a reflectir” sobre a salvaguarda deste activo. Para aprendermos com o país mais seguro, teremos de “fazer as perguntas certas”: “Como são treinados os agentes de segurança e que meios têm ao seu dispor? […] Qual é o peso da prevenção e da polícia de proximidade no trabalho dos agentes?”

Donald Trump diz que a posse da Groenlândia pelos Estados Unidos da América é absolutamente necessária. (news.com.au)

Com um novo ano pronto a abrir-nos as suas portas, os inimigos da democracia robustecem o seu domínio e regressam ao poder, como sucede com o presidente eleito Donald Trump, que ameaça retomar o Canal do Panamá e apossar-se da Gronelândia, território que os Dinamarqueses não pretendem vender. É motivo para rirmos dos loucos planos de expansão territorial e dos dislates anticientíficos deste negacionista das alterações climáticas e que aconselhava a hidroxicloroquina para enfrentar a covid-19?

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Nota:

O presente artigo (na versão de crónica) foi publicado na edição de ontem (domingo, 29 de Dezembro) do Diário de Coimbra, no âmbito da rubrica “Da Raiz e do Espanto”.

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30/12/2024

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Vitalino José Santos

Jornalista, cronista e editor. Licenciado em Ciências Sociais (variante de Antropologia) e mestre em Jornalismo e Comunicação. Oestino (de Torres Vedras) que vive em Coimbra.

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