Chico Buarque: “Algum cheirinho de alecrim”

 Chico Buarque: “Algum cheirinho de alecrim”

(© InfoEscola)

Chico Buarque de Holanda recebe hoje o Prémio Camões, que lhe foi atribuído em 2019. O músico e escritor teve de esperar quatro longos anos para o receber. A pandemia e a atitude canalha de um grunho, que se recusou a assinar, são os responsáveis por assim ter acontecido. O músico e escritor disse a esse propósito: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prémio Camões.”

A cerimónia da entrega acontece (na tarde de hoje, 24 de Abril de 2023) no Palácio Nacional da Ajuda e é presidida por Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva. O Prémio Camões celebra a “qualidade e transversalidade” da obra do músico e escritor, “tanto através de géneros e formas, quanto pela sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”.

O júri do Prémio Camões sublinhou também “o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, um trabalho que “atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura no mundo contemporâneo”. Chico Buarque declarou-se, então, “muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, o autor brasileiro distinguido com este prémio em 2016.

(© eBiografia.com)

Filho do jornalista e historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), Francisco esteve na primeira linha do combate à ditadura militar. Ameaçado, auto-exilou-se na Itália, em 1969. É aí que compõe “Apesar de Você” e “Cálice”, canções proibidas pelos censores brasileiros. Nunca escondeu o seu apoio ao Partido dos Trabalhadores e a Lula da Silva. Celebrou o nosso “25 de Abril” com a canção “Tanto Mar” que pode ouvir aqui.

Chico Buarque cantando “Tanto Mar”, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa (07.06.2028). (Direitos reservados)

Chico Buarque de Holanda não foi o único génio da vida cultural brasileira vitimado pelo ódio do ignorante. João Gilberto (1931-2019), criador da Bossa Nova e primeiro brasileiro vencedor de um Grammy (em 1964) – que é a principal categoria do “Oscar da música” –, quando morreu, mais não mereceu de Bolsonaro do que o seguinte grunhido: “[Era] Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”

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24.04.2023

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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