Dia Mundial dos Oceanos

 Dia Mundial dos Oceanos

O Dia Mundial dos Oceanos é comemorado anualmente em 8 de Junho, desde 2008. (unescoportugal.mne.gov.pt)

No Dia Mundial dos Oceanos – dia internacional que ocorre anualmente em 8 de Junho (ontem) –, cabe recordar e homenagear a memória de José Mariano Gago (1948-2015), o “cientista que pôs a ciência na agenda política”, como escreveu Teresa Firmino, no jornal Público. Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e investigador em Física no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), distinguiu-se como político, tendo realizado obra que perpetuará o seu nome como ministro da Ciência e da Tecnologia1.

José Mariano Gago (pt.wikipedia.org)

“Ciência Viva”2, uma prestigiada realidade, fruto do seu empenhamento na divulgação e na experimentação das ciências, já lhe prestou significativa homenagem pela atribuição, do topónimo Largo José Mariano Gago, no Parque das Nações.

Como físico de prestígio, outros mais habilitados do que eu já falaram de Mariano Gago. É dele, como grande impulsionador da investigação científica e paladino da cultura científica, que posso falar com conhecimento de causa.

Ao lembrar José Mariano Gago, recordo que nos conhecemos há um bom par de anos, na Livraria Buchholz, em Lisboa, numa sessão/debate sobre o estado da ciência em Portugal, em que “investigação” e “divulgação” eram temas da sua preocupação. E ficámos amigos e irmanados no mesmo ideal.

Livraria Buchholz, na Rua Duque de Palmela, em Lisboa. (livrariabuchholz.com)

Lidei com ele também de muito perto nos anos em que participei no programa inovador em Geologia Marinha, iniciado em 1988, era ele presidente da então Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) – hoje, Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). E não me surpreendeu quando, em 1996, na qualidade de ministro da Ciência e Tecnologia, por um seu despacho de 1 de Julho, criou o programa Ciência Viva3.

Dois anos depois, em 17 de Julho de 1998, a Associação “Ciência Viva”4 – hoje, uma grande e laboriosa família, sob a dinâmica da eficaz direcção de Rosalia Vargas – era uma feliz realidade com o objectivo de divulgar, através de campanhas, a cultura científica e tecnológica entre os Portugueses, bem como de promover o ensino experimental das ciências no ensino básico e secundário e de criar uma Rede Nacional de Centros Ciência Viva, a funcionarem como museus interactivos de Ciência, de Norte a Sul do Continente e nas Ilhas.

Rosalia Vargas é presidente da Ciência Viva – Agência
Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e directora
do Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva,
exercendo competências ao nível da criação e da
implantação das redes de Centros Ciência Viva, de Escolas
Ciência Viva, de Quintas Ciência Viva e de Clubes Ciência
Viva na Escola. (ensino-agrario-em-portugal.utad.pt)

Em 1987, a então JNICT – hoje, FCT – de que Mariano Gago era presidente, lançou o “Programa Mobilizador de Ciência e Tecnologia”, no qual tinha cabimento uma componente dinamizadora das Geociências do Mar, apresentada publicamente pelo professor Mário Ruivo. Surgia, assim, em Portugal, o primeiro grupo de investigação em Geologia Marinha e Oceanografia Geológica, com ligações internacionais, conhecido por DISEPLA, acrónimo de Dinâmica Sedimentar da Plataforma.

Nascido e desenvolvido no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, sob a minha direcção, com a coordenação científica do doutor João Alveirinho Dias, do professor António Ribeiro e minha, contando com o indispensável e sempre disponível apoio do Instituto Hidrográfico, ao tempo do director–geral, vice-almirante José Almeida Costa e dos comandantes Vidal de Abreu (chefe da Divisão de Marés e Correntes) e Torres Sobral (director-técnico), o grupo DISEPLA deixou descendentes, ou seja, fez escola que continuou a dar frutos.

(pixnio.com)

Com uma primeira geração de investigadores, que de juniores passaram a seniores, vimos partir estes “filhos”, independentes e a trilharem os seus próprios caminhos, o que nos enche de satisfação e orgulho. Actualmente, há “netos” que já nem conhecem os “avós”, mas que só existem porque nós tivemos a ousadia de iniciar esta viagem e de segurar o leme deste navio, nas primeiras milhas desta gratificante navegação que conduziu à introdução das Geociências do Mar nas nossas universidades, designadamente, nas do Algarve, de Aveiro e de Lisboa, onde os mestrados e os doutoramentos se sucedem.

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Notas da Redacção:

1 – Refira-se que José Mariano (Rebelo Pires) Gago foi nomeado ministro da Ciência e da Tecnologia, no XIII Governo Constitucional, cargo que manteve até 2002, já no XIV Governo Constitucional, também liderado pelo socialista António Guterres. Em 2005, Mariano Gago foi nomeado ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do XVII Governo Constitucional de José Sócrates, cargo pelo qual foi renomeado para o XVIII Governo Constitucional.

2 – Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica.

3 – O programa Ciência Viva foi criado como uma unidade do Ministério da Ciência e da Tecnologia português por um despacho de 1 de Julho de 1996, assinado pelo então Ministro da Ciência e Tecnologia, José Mariano Gago. O Despacho I n.º 6/MCT/96 criou a Unidade de Apoio para a Educação Científica e Tecnológica, que mais tarde passou a ser conhecida como Unidade Ciência Viva. 

4 – Em 17 de Julho de 1998, foi constituída a Associação Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica (ANCCT).

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09/06/2025

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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