És de Braga?
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Perdi o conto às vezes que me perguntaram se eu era de Braga. Quero esclarecer que não sou, embora Braga seja uma cidade muito bonita e histórica. Mas o pior era que, a seguir à pergunta “És de Braga?”, vinha logo outra pergunta: “Tens medo de entalar o rabo?”. Isto acontecia quando deixava a porta aberta, quer por descuido quer por preguiça.
A explicação mais conhecida para esta irritante pergunta prende-se com o Arco da Porta Nova, uma nova porta aberta na antiga muralha de Braga, mandada construir, no início do século XVI, pelo arcebispo Diogo de Sousa.
Como, na altura, as muralhas de uma cidade já não eram defesas muito eficazes contra os inimigos e vendo que a cidade já se estendia para o seu exterior, o arcebispo não colocou nenhuma porta no Arco da Porta Nova, algo inovador para a época.
Os bracarenses habituaram-se a passar pela chamada Porta do Arco Novo, uma passagem na muralha que efectivamente não tinha porta, sem a preocupação de a abrir ou de a fechar devido à sua ausência.
Todavia, há também quem diga que a verdadeira explicação da expressão popular não esteja directamente relacionada com o Arco da Porta Nova. Nesse sentido, por exemplo, o Pórtico da Língua Portuguesa regista que esta expressão típica de Braga poderá dever-se a um arcebispo chamado Lourenço, o qual , depois de destituído desse cargo religioso, foi a Roma convencer o Papa a restituir-lhe esse ministério. Daí que a expressão “És de Braga?” seja entendida como uma abreviatura da expressão “És de Braga e chamas-te Lourenço?”, dizendo respeito a alguém dotado de um poder argumentativo que lhe permite a abertura natural das portas no seu percurso ou destino de vida.
Considerando este hábito bracarense, quando alguém se esquece de fechar a porta, logo vem a lembrança da antiga “cidade dos arcebispos”. Sim, se o prezado leitor for de Braga, até se compreende que não tenha o hábito de fechar as portas.
08/12/2022
