“Humano, Demasiado Humano”

 “Humano, Demasiado Humano”

(Créditos fotográficos: JF – @shotbyjf – Unsplash)

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“Humano, Demasiado Humano”, de Neil David Lawrence, apesar do título que evoca a obra filosófica de Friedrich Nietzsche, mergulha numa exploração cativante e acessível do panorama da Inteligência Artificial (IA). Longe de ser um tratado filosófico denso, o livro posiciona-se como um guia esclarecedor para qualquer pessoa interessada em compreender o impacto multifacetado da IA nas nossas vidas.

(Direitos reservados)

Este livro, “Humano, Demasiado Humano”, foi publicado entre nós em Fevereiro de 2025, pela editora Gradiva, inserido na sua prestigiada colecção “Ciência Aberta” com o número 251. Recorde-se que a colecção “Ciência Aberta” é actualmente coordenada por Carlos Fiolhais, que também fez a revisão científica deste livro. A tradução do original em Inglês esteve a cargo de Jorge Pereirinha Pires.

Lawrence, um proeminente especialista em IA, consegue a proeza de desmistificar conceitos complexos, tornando-os compreensíveis até mesmo para leitores sem formação técnica. A sua escrita é clara e envolvente, pontuada por analogias perspicazes e exemplos do mundo real que ilustram as capacidades e as limitações da IA. O autor evita o sensacionalismo, optando por uma abordagem equilibrada que reconhece tanto o potencial transformador da IA quanto os seus desafios inerentes.

Um dos pontos mais fortes do livro reside na sua capacidade de traçar um panorama abrangente da IA, desde os seus fundamentos históricos até às suas aplicações mais recentes. Neil Lawrence discute a evolução da aprendizagem de máquina, as redes neuronais e o processamento de linguagem natural, sem sobrecarregar o leitor com jargões técnicos excessivos. Em vez disso, ele foca-se nos princípios subjacentes e nas implicações práticas de cada tecnologia.

Niel David Lawrence (cst.cam.ac.uk)

Além da dimensão técnica, “Humano, Demasiado Humano” destaca-se pela sua análise das ramificações sociais e éticas da IA. Lawrence aborda questões cruciais como a privacidade de dados, o viés algorítmico, a automação e o futuro do trabalho, bem como a responsabilidade na tomada de decisões por sistemas autónomos. O autor convida os leitores a reflectir criticamente sobre estas questões, promovendo um diálogo necessário sobre como podemos moldar um futuro em que a IA seja uma força para o bem.

Apesar do seu tom, geralmente, optimista em relação ao progresso tecnológico, Neil Lawrence não ignora os perigos potenciais. Ele sublinha a importância de uma governança robusta e de uma regulamentação cuidadosa para garantir que a IA seja desenvolvida e implementada de forma responsável e ética. O livro não oferece soluções fáceis, mas, sim, um quadro para pensar sobre os desafios e as oportunidades que a IA nos apresenta.

(Créditos fotográficos: Waqar Mujahid – Unsplash)

Em suma, “Humano, Demasiado Humano” é uma leitura essencial para quem deseja ir além dos soundbites dos media e obter uma compreensão mais profunda da IA. É um livro que informa, provoca a reflexão e capacita os leitores a participar da discussão sobre o futuro da tecnologia. Neil D. Lawrence entregou uma obra que é tanto um guia prático quanto um convite à contemplação sobre o nosso lugar num mundo cada vez mais moldado pela inteligência artificial.

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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

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16/06/2025

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António Piedade

Bioquímico e comunicador de Ciência. Publicou centenas de artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de diversos livros de divulgação de Ciência, entre os quais se destacam “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura), ”Caminhos de Ciência”, com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011) e “Diálogos com Ciência” (Trinta Por Uma Linha, 2019 – Plano Nacional de Leitura), também prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, a exemplo do já muito popular “Ciência às Seis”, no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.

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