José Magro (1920-1980): 21 anos nas prisões fascistas

(© Antifascistas da Resistência)
José Magro foi o militante antifascista que mais tempo esteve preso: 21 anos. E só no dia 27 de Abril de 1974 soube “a cor da liberdade”.
Nascido na freguesia operária de Alcântara, em Lisboa, José Magro dedicou a sua vida, breve, à luta pela Liberdade e pela Democracia.
Apesar das torturas brutais a que foi sujeito pelos agentes da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), nunca falou. Essa era uma batalha que encarava “com serenidade perante os inimigos”, como revela na sua obra “Cartas da Prisão – 1 – Vida Prisional”, livro inserido na colecção Resistência, das Edições Avante (publicado em 1975).
Magro adere ao Partido Comunista Português (PCP), quando ainda estudante da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1940, depois de ter participado activamente nas lutas estudantis de 1937-1942.

(Facebook.com/FascismoNuncaMais/photos)
Em 1945, integra os quadros clandestinos do partido e um ano após, em 1946, está entre os militantes que participam no histórico IV Congresso do PCP1.
Pouco tempo depois, como elemento do Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF)2, passa a viver no Norte do País, onde garante um contacto regular com o general Norton de Matos, que residia em Ponte de Lima e era o presidente do Conselho Nacional do MUNAF.
Três anos depois, em 1949, de novo como quadro do PCP, José Magro integra a organização do Porto, regressando a Lisboa após a vaga de prisões que encarcerou Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, António Dias Lourenço, Sofia Ferreira e Georgete Ferreira, entre outros importantes quadros comunistas.
Em Janeiro de 1951, foi preso pela primeira vez, sendo libertado em Fevereiro de 1957. Regressa à sua condição de militante clandestino, situação que viveu durante 10 “longos” anos.


Dezembro de 1961. (pt.wikipedia.org)
Participa activamente nas “eleições” presidenciais de 1958, tendo o advogado e pintor Arlindo Vicente3 retirado a sua candidatura a favor de Humberto Delgado, o “General Sem Medo”, que o fascismo condenou à morte.
Eleito para o Comité Central no V Congresso do PCP (em 1957), José Magro volta a ser preso em 1959 e, dois anos depois (em Dezembro de 1961), assume a condição de principal organizador da histórica fuga do Forte de Caxias, no carro blindado de António de Oliveira Salazar.

Após ter participado activamente na “grande jornada de luta” do 1.º de Maio de 1962, é preso novamente, só saindo da prisão dois dias depois do “25 de Abril”.
Posteriormente ao “dia inicial inteiro e limpo” – nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen –, foi reeleito para o Comité Central do PCP em todos os congressos, até à sua morte. Incorporou a Direcção da Organização Regional de Lisboa (DORL) e foi deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República.
Aida Magro (1918-2011), também militante histórica do PCP, foi a companheira de sempre deste combatente pela Liberdade e pela Democracia, que se orgulhava das suas “vitórias sucessivas sobre torturadores profissionais”. Na recente sexta-feira (2 de Fevereiro de 2024), cumpriram-se 44 anos sobre a sua partida.
Notas:

1 – Como lemos na Breve História dos Congressos, na página electrónica do Partido Comunista Português, o IV Congresso (o segundo ilegal) do PCP realiza-se em Julho de 1946, na Lousã, num momento de grande ascensão das lutas da classe operária e das massas trabalhadoras, de grandes progressos no desenvolvimento das organizações e lutas unitárias. A organização do partido cresce rapidamente. No período decorrido entre o III e o IV congressos (em menos de três anos), o número de militantes comunistas aumentou seis vezes, e o número de organizações locais cinco vezes. Aumentou, igualmente, o número de organizações de empresas. Por sua vez, a tiragem do Avante! quadruplicou. No IV Congresso, o PCP define as linhas fundamentais da via para o derrubamento do fascismo. Dá expressão política à rica experiência das lutas deste período e faz uma análise consequente da situação política nacional. Aponta o levantamento da nação portuguesa contra a ditadura fascista como o caminho a seguir para a defesa dos interesses nacionais. Com este Congresso, o PCP reafirma a sua política de unidade nacional antifascista. Recorde-se ainda que, no IV Congresso, o Partido Comunista Português define também os princípios orgânicos do centralismo democrático, que orientam a sua organização e estão na base dos seus Estatutos.
2 – Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) foi uma organização política clandestina de oposição ao Estado Novo formada em Dezembro de 1943. Fundado num momento de viragem na Segunda Guerra Mundial, a favor dos aliados e contra o nazismo e o fascismo, no MUNAF estavam representados, entre outros, o Partido Republicano Português, a União Socialista, o Partido Comunista Português, a Maçonaria e o grupo da Seara Nova, bem como elementos católicos, monárquicos e anarquistas. O Conselho Nacional do MUNAF era presidido pelo general Norton de Matos. E a Comissão Política integrava, entre outros, Barbosa de Magalhães e Bento de Jesus Caraça. A Comissão Executiva incluía, entre outras personalidades, Fernando Piteira Santos, José Magalhães Godinho, Jacinto Simões e Moreira de Campos.

3 – Arlindo Augusto Pires Vicente (1906-1977) foi um advogado e pintor português. Personalidade multifacetada, militante antifascista e declarado opositor ao regime do Estado Novo, destacou-se no panorama político e cultural português, entre as décadas de 1930 e 1950. Arlindo Vicente pertence à segunda geração de pintores modernistas portugueses.
Fontes consultadas: Página electrónica / blogue “Antifascistas da Resistência”, da autoria de Helena Pato; “A Voz das Camaradas”, de Maria Manuela Cruzeiro, em https://caminhosdamemoria.wordpress.com/20; e Wikipédia.
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05/02/2024