Livros e livrarias…

 Livros e livrarias…

Sor Juana Inés de la Cruz (blogletras.com)

No México, celebra-se, a 12 de Novembro, o Dia Nacional do Livro, numa comemoração em homenagem ao nascimento de Sor Juana Inés de la Cruz (1648-1695), um emblemático expoente da literatura no país.

Quem é esta notável mulher mexicana, hispânica, que durante muitos anos foi ignorada e menosprezada? A Wikipédia diz-nos que Sóror Juana Inés de la Cruz ou, apenas,  Sóror Juana (nasceu em San Miguel Nepantla, a 12 de Novembro de 1651, e faleceu na Cidade do México, a 17 de Abril de 1695) foi uma poetisa da escola barroca, dramaturga, filósofa e freira nova-espanhola. Segundo a mesma enciclopédia livre, foi a última dos grandes escritores do denominado “Século de Ouro”. É conhecida pelo apelido de “Fénix da América” e também por “A Décima Musa”.

Sor Juana Inés de la Cruz foi uma freira do século XVII, estudiosa autodidata e
escritora aclamada do período colonial latino-americano e do barroco
hispânico. (biography.com)

Entre as suas obras, encontramos uma grande quantidade de poemas galantes, poemas de ocasião para presentes ou aniversários dos seus amigos, bem como poesias de salão sobre costumes ou amizades sugeridas por outros, letras para se cantar em diversas celebrações religiosas. Enquanto dramaturga, são da sua autoria as comédias “Amor es más Laberinto” (“Amor é mais Confusão”) e “Los Empeños de una Casa” (“As Obrigações de uma Casa”).

Recorrendo à página electrónica Magnus Mundi ficamos também a saber que “Sor Juana Inés de la Cruz, como intelectual mexicana e pioneira feminista, defendeu os direitos das mulheres à educação e à liberdade numa sociedade patriarcal opressora”. De facto, ela superou “barreiras sociais e culturais para se tornar uma das mais brilhantes mentes de sua época, com uma produção literária vasta e um legado que continua a influenciar o feminismo e a luta pelos direitos das mulheres”. Juana Inés de la Cruz destacou-se desde muito jovem pela sua inteligência.

Ainda no sítio electrónico Magnus Mundi, é referido que, aos 16 anos, “a jovem prodígio foi submetida a um teste público em que enfrentou teólogos, juristas e matemáticos convidados pelo vice-rei da Nova Espanha [actual México]”. Então, ela “respondeu a perguntas complexas, superando com êxito todos os desafios propostos”. A aludida cena foi descrita, posteriormente, como “um galeão real que se defendia de algumas canoas”, tamanha era sua superioridade intelectual. “Essa exibição precoce de conhecimento chamou a atenção da corte e marcou o início de uma carreira literária e filosófica de grande impacto”, destaca o mesmo texto da página Magnus Mundi.

Sor Juana Inés de la Cruz  foi uma figura emblemática da literatura barroca e incansável defensora da educação feminina. (mhiel.mx)

Igualmente, a propósito de Juana Inés de la Cruz, a dramaturga e poetisa mexicana Aglae Margalli observa: “Sor Juana deslumbrou-me com a vastidão da sua criatividade. Mais tarde, descobri a mulher que desafiava os cânones sociais e que seguia em frente com aquela mentalidade universal, aquela demanda intelectual que a impulsionava. As ideias da chamada Décima Musa ultrapassaram os limites impostos por uma sociedade eminentemente sexista e repressiva”. E conclui: “A sua altivez manteve-a de pé até ao fim. Um espírito livre que não podia ser enclausurado, mesmo quando foi proibida de ler e de falar. Curvada diante dos votos religiosos, mas nunca curvada na sua condição de mulher pensante.”

Deste lado do Atlântico, como sabemos, o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor  é comemorado, todos os anos, no dia 23 de Abril, sendo organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para promover o prazer da leitura, assim como a publicação de livros e a protecção dos direitos autorais. Este dia comemorativo foi criado na XXVIII Conferência Geral da UNESCO, que ocorreu entre 25 de Outubro e 16 de Novembro de 1995.

(eurocid.mne.gov.pt)

A data de 23 de Abril foi escolhida porque no mesmo dia do ano de 1616 morreram Miguel de Cervantes, William Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega.

Alguém, embora eu não saiba quem, enviou-me uma mensagem a lembrar que no dia 11 de Novembro se celebrava o Dia Mundial das Livrarias. Esta data foi estabelecida em 2011 com a intenção de fomentar a imagem destes espaços como ponto de encontro em contínua evolução para gerar cultura, e para criar comunidades em torno do livro e da leitura.

Aproveito, aqui, esta oportunidade para enviar e saudar, especialmente em tempo de desaparecimento de livrarias na cidade do Porto, à Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto (UNICEPE)2 e ao Rui Vaz Pinto, meu amigo e director desta cooperativa, bem como à equipa que mantém este batalhador e emblemático espaço cultural de resistência, que é muito mais do que um posto de venda. É, pois, um pequeno centro cultural de múltiplas actividades, como conferências, recitais, encontros de poesia, lançamento de livros, a iniciativa “Roda de Choro”, jantares de amizade – já vai no 203.º, além dos convívios comemorativos e, ultimamente, dos ciclos de cinema.

Situada mesmo no coração da cidade, na Praça de Carlos Alberto, em frente à Igreja do Carmo (ou Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo) e próxima da Reitoria da Universidade do Porto, com vista para a Praça de Gomes Teixeira (popularmente conhecida por Praça dos Leões), a UNICEPE é um belo espaço, dividido em duas salas: um lugar de exposição e de venda, e um pequeno auditório com piano, para as outras muitas actividades.

Os actores chilenos Orietta Escámez e Humberto Duvachelle (pais de Orietta Paz), ao lado da actriz Angela Escámez (mãe de Roxana Pardo). (Direitos reservados)

Foi neste belo espaço, tão romântico sob o ponto de vista arquitectónico, que o meu amigo Rui Vaz Pinto recebeu, recentemente, duas peregrinas chilenas, viajantes pela primeira vez e visitantes na cidade do Porto. O Rui tinha conhecido as mães destas duas jovens, também minhas amigas, numa anterior viagem ao Chile. Elas são Orietta Paz Duvachelle Escámez2, filha de uma grande actriz chilena (Orieta Escámez), e Roxana Pardo Escámez, filha de Angela Escámez, irmã de Orietta, também actriz. As duas primas aventuraram-se a visitar o Porto e, a exemplo de outras aventuras, vão visitando os amigos dos amigos. Neste caso, os amigos das suas mães.

Orietta Paz, Roxana Pardo e Rui Vaz Pinto da UNICEPE. (Direitos reservados)

Ambas são sobrinhas de um grande pintor e muralista chileno exilado na Costa Rica até ao dia da sua morte, Julio Escámez (1925-2015), uma referência na pintura chilena e no muralismo latino-americano. O encontro serviu para recordar momentos passados e aventurarmos novos encontros no futuro, para seguirmos recordando… Para isto servem os amigos e esses fabulosos espaços que são as livrarias. Um obrigado ao Rui Vaz Pinto pelo acolhimento e pelo vinho do Porto: “ouro sobre azul”, numa tarde outonal, nesta cidade.

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Notas:

1 Magnus Mundi, em 2015. Julio Cesar, nasceu em Blumenau e reside em Porto Belo, no litoral de Santa Catarina.

2 – Orietta Paz é filha do casal de actores chilenos Humberto Duvachelle e Orietta Escámez, é membro da Fundação Julio Escámez e foi, durante anos, produtora teatral da Companhia de Los Cuatro, do Chile, onde reside.

Roxana Pardo é chilena, estudou teatro e reside na Cidade do México, onde administra um restaurante de comida chilena.

Entre as muitas curiosidades, Julio Escámez foi companheiro, durante a sua vida, de uma neta de Carlos George  Nascimento (1885-1966), o emigrante da ilha do Corvo (nos Açores) que se radicou no Chile e que fundador a editora Nascimento, a qual publicou, entre outros, os primeiros versos de Pablo Neruda.

3 – UNICEPE – 60 Anos de resistência e de afectos:

02/12/2024

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Roberto Merino

Roberto Merino Mercado nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas tem-se dedicado ao teatro, desde a infância. Depois do Golpe Militar no Chile, exilou-se no estrangeiro. Inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade do Porto (Portugal). Dirigiu artisticamente o Teatro Experimental do Porto (TEP) até 1978, voltando em mais duas ocasiões a essa companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental do Funchal. Desde 1982, dirige o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto. Colabora também como docente na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. E foi professor da Balleteatro Escola Profissional durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

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