O avô Edmundo

(Imagem gerada por IA – artguru.ai)
O Edmundo é um amigo recente. Conhecemo-nos numa das enfermarias de “Urologia” do Hospital de Santo António, no Porto.
Quando ali cheguei, o Edmundo ocupava a primeira das três camas. Respondeu à minha saudação com um sorriso afectuoso.

Durante o jantar desse dia, partilhámos a mesa de refeições. Contou-me, então, que já estava ali há um bom par de dias. Por via de uma maldita infecção, que impedia a realização da intervenção cirúrgica que motivara o seu internamento.
A nossa cumplicidade acentuou-se com o passar dos dias. Graças a pequenos gestos e a troca de segredos. Foi assim que soube que tinha sido locutor numa rádio do Marco de Canaveses, terra natal da minha mãe.
Dos dois compinchas, fui o primeiro a ir para o bloco operatório, seguindo-se o Edmundo, um ou dois dias depois. Teve “alta” antes de mim.
Fiquei contente por ele, mas triste por perder o seu convívio. Afectuosamente, sereno. Como já tínhamos trocado os números de telemóvel, liguei-lhe na manhã seguinte.

Tinha passado bem a noite e já estava aos comandos da sua rádio, agora, na Internet. Visitei-o na sua casa, em Marco de Canaveses, mal pude. Edmundo e a sua esposa receberam-nos como se fôssemos amigos de sempre. A Ana e eu ficámos felizes por ter uns amigos assim: genuinamente bons.
Continuamos a falar ao telefone. Sobretudo, quando o Edmundo voltou a estar “internado”, pois a pandemia impediu-me de o visitar no hospital.
Por esses dias, o Edmundo foi-se abaixo. Tentei confortá-lo. À distância. Nunca falando na doença que o apoquentava.
Há dias, liguei-lhe e fiquei a saber que o Edmundo vai ser avô. Foi o seu filho, que vive em Inglaterra, que lhe trouxe a boa nova. O Edmundo, senti-o, pulava de contente.
E eu fiquei com um brilhozinho nos olhos, pois, como canta o Sérgio Godinho, “Guardei um amigo / Que é coisa que vale milhões”. E para um amigo quer-se sempre o melhor. Ele e a Cristina bem merecem tal dádiva.
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19/06/2025