O avô Edmundo

 O avô Edmundo

(Imagem gerada por IA – artguru.ai)

O Edmundo é um amigo recente.  Conhecemo-nos numa das enfermarias de “Urologia” do Hospital de Santo António, no Porto.

Quando ali cheguei, o Edmundo ocupava a primeira das três camas. Respondeu à minha saudação com um sorriso afectuoso.

Hospital de Santo António, no Porto. (pt.wikipedia.org)

Durante o jantar desse dia, partilhámos a mesa de refeições. Contou-me, então, que já estava ali há um bom par de dias. Por via de uma maldita infecção, que impedia a realização da intervenção cirúrgica que motivara o seu internamento.

A nossa cumplicidade acentuou-se com o passar dos dias. Graças a pequenos gestos e a troca de segredos. Foi assim que soube que tinha sido locutor numa rádio do Marco de Canaveses, terra natal da minha mãe.

Dos dois compinchas, fui o primeiro a ir para o bloco operatório, seguindo-se o Edmundo, um ou dois dias depois. Teve “alta” antes de mim.

Fiquei contente por ele, mas triste por perder o seu convívio. Afectuosamente, sereno. Como já tínhamos trocado os números de telemóvel, liguei-lhe na manhã seguinte.

Marco de Canaveses (cimtamegaesousa.pt)

Tinha passado bem a noite e já estava aos comandos da sua rádio, agora, na Internet. Visitei-o na sua casa, em Marco de Canaveses, mal pude. Edmundo e a sua esposa receberam-nos como se fôssemos amigos de sempre. A Ana e eu ficámos felizes por ter uns amigos assim: genuinamente bons.

Continuamos a falar ao telefone. Sobretudo, quando o Edmundo voltou a estar “internado”, pois a pandemia impediu-me de o visitar no hospital.

Por esses dias, o Edmundo foi-se abaixo. Tentei confortá-lo. À distância. Nunca falando na doença que o apoquentava.

Há dias, liguei-lhe e fiquei a saber que o Edmundo vai ser avô. Foi o seu filho, que vive em Inglaterra, que lhe trouxe a boa nova. O Edmundo, senti-o, pulava de contente.

E eu fiquei com um brilhozinho nos olhos, pois, como canta o Sérgio Godinho, “Guardei um amigo / Que é coisa que vale milhões”. E para um amigo quer-se sempre o melhor. Ele e a Cristina bem merecem tal dádiva.

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19/06/2025

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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