O granito para lá da Geologia

 O granito para lá da Geologia

Anta Grande do Zambujeiro (odigital.sapo.pt)

Anta Grande do Zambujeiro

Anta Grande do Zambujeiro, foto tirada no Verão de 1971. (Créditos fotográficos: João Atherton – commons.wikimedia.org)

Entre os muitos monumentos megalíticos, de tipo dólmen, existentes em Portugal, a Anta Grande do Zambujeiro, junto da Herdade da Mitra, próximo de Valverde (concelho de Évora), é uma das maiores existentes na Península Ibérica. Declarada Património de Interesse Nacional, em 1971, encontra-se, actualmente, em sério risco de colapso e num lamentável estado de degradação.

Datada de há 6000 a 5500 anos, é formada por uma câmara poligonal, limitada por sete grandes esteios, na ordem dos oito metros de altura, bem cravados no chão. O chapéu, com cerca de sete metros de diâmetro, está partido e jaz a poucos metros da câmara. Entra-se, aqui, por um corredor com 12 metros de comprimento, um metro e meio de largura e cerca de dois metros de altura. À entrada, está um enorme esteio tombado, que não chegou a ser utilizado.

Todo o espólio reunido na escavação (por Henrique Leonor Pina) está guardado, mas não estudado, no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora.

Oportunamente, propus à autarquia que incluísse no programa de Évora Capital Europeia da Cultura, em 2027, a conclusão do projecto concebido para a sua conveniente utilização como monumento visitável.

Cromeleque dos Almendres

Cromeleque dos Almendres (youtube.com/@souljay)

Exemplo maior do megalitismo europeu, o cromeleque dos Almendres orientado segundo a direcção poente-nascente, desce do chamado Alto das Pedras Talhas (a 413 metros de altitude) por uma encosta suave bem alentejana, voltada a leste na Herdade dos Almendres, localizada na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe (oficialmente, é a União das Freguesias de Nossa Senhora da Tourega e Nossa Senhora de Guadalupe), a cerca de 12 quilómetros (km) a oeste da cidade de Évora, com fácil acesso a partir da estrada nacional (EN 114) de Évora para Lisboa, ao km 10.

Diga-se, antes de mais, que a palavra “cromlech”, do Galês antigo, que quer dizer “pedra grande arredondada”, já era usada no século XVII para designar este tipo de monumento megalítico. Nela, o elemento “lech” significa “pedra”.

Muitos dos megálitos (nome de cada uma destas pedras grandes, do grego “mega”, grande, e “lithós”, pedra) ali reunidos têm a forma ovóide dos grandes recipientes de barro, as ditas talhas, em que, no Alentejo, se fermentava o mosto e guardava o vinho e, daí, o nome do sítio. São todos de granito (“lato sensu”), entre granodioritos e quartzodioritos, de vários afloramentos da região, alguns transportados de distâncias superiores a dois quilómetros.

Guindado à condição de maior conjunto de menires da Península Ibérica, o Cromeleque dos Almendres é considerado um dos maiores e mais importantes monumentos deste tipo no Mundo, bem mais antigo do que o conhecidíssimo Stonehenge1, e que pôs o Alentejo e Portugal na rota de especialistas neste domínio do saber.

Datado de há cerca de sete mil anos, no Neolítico, segundo alguns autores, este cromeleque –que é constituído por dois recintos geminados, um maior, de forma elíptica, a poente, e um menor e circular, a nascente, edificados em épocas distintas – aponta no sentido da sedentarização do povo que aqui viveu. Estudos arqueológicos realizados no local por especialistas fazem supor que o conjunto foi edificado em diferentes etapas, durante o Neolítico. Uma etapa, no final do Neolítico antigo (fim do sexto milénio antes de Cristo), com a reunião de um conjunto de menires de pequeno tamanho, agrupados em três círculos concêntricos (o maior com cerca de 20 metros de diâmetro). Outra etapa, com a formação de duas elipses concêntricas (a maior com cerca de 44 metros por 36 metros) coladas a oeste dos citados círculos de recinto mais antigo. E uma última etapa, no Neolítico final (terceiro milénio antes de Cristo), com modificações dos dois recintos, em particular do menor, transformado num átrio do recinto maior.

Cromeleque dos Almendres, foto tirada por ocasião da Astrofesta de 2004, em Évora Monte. (enifpegasus.blogspot.com)

Quando completo, o conjunto dos menires teria ultrapassado a centena, de tamanhos diversos. Destes, ainda restam noventa e dois, desde os mais pequenos, pouco ou quase nada afeiçoados, aos maiores (com 2,5 metros a três metros de altura), lembrando as ditas talhas, em muito bom estado de conservação, uns com pequenas covas centimétricas (covinhas) e outros decorados, exibindo relevos ou gravuras.

Classificado como Imóvel de Interesse Público, desde 1974, e como Monumento Nacional, em 2015, o Cromeleque dos Almendres, descoberto em 1964 por Henrique Leonor Pina, foi, desde então, objecto de várias acções de escavação e de restauro. Faz parte do universo megalítico eborense e está relacionado com diversas antas, com destaque para a do Zambujeiro, bem perto dali, e com dois outros monumentos próximos, os cromeleques da Portela de Mogos e de Vale Maria do Meio.

Menir dos Almendres

Menir dos Almendres. (prehistoricportugal.com)

Importante megálito de granito porfiróide, menir é o que o vulgo chamava pedra alçada ou “pera fita” de forma fálica, com cerca de 3,5 metros de altura a partir da superfície do terreno e secção, grosso modo, elíptica com 1,20 x 0,80 metros. Está localizado na antiga freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, no concelho de Évora, no topo de uma encosta, 1,3 km a nordeste do Cromeleque dos Almendres, supondo-se haver íntima relação, entre ambos, dado que o seu alinhamento coincide com o nascer do Sol no Solstício de Verão.

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Nota:

1 – Estrutura megalítica localizada na Inglaterra, no condado de Wiltshire, na Planície de Salisbury.

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05/12/2024

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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