O granito para lá da Geologia
Anta Grande do Zambujeiro
Entre os muitos monumentos megalíticos, de tipo dólmen, existentes em Portugal, a Anta Grande do Zambujeiro, junto da Herdade da Mitra, próximo de Valverde (concelho de Évora), é uma das maiores existentes na Península Ibérica. Declarada Património de Interesse Nacional, em 1971, encontra-se, actualmente, em sério risco de colapso e num lamentável estado de degradação.
Datada de há 6000 a 5500 anos, é formada por uma câmara poligonal, limitada por sete grandes esteios, na ordem dos oito metros de altura, bem cravados no chão. O chapéu, com cerca de sete metros de diâmetro, está partido e jaz a poucos metros da câmara. Entra-se, aqui, por um corredor com 12 metros de comprimento, um metro e meio de largura e cerca de dois metros de altura. À entrada, está um enorme esteio tombado, que não chegou a ser utilizado.
Todo o espólio reunido na escavação (por Henrique Leonor Pina) está guardado, mas não estudado, no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora.
Oportunamente, propus à autarquia que incluísse no programa de Évora Capital Europeia da Cultura, em 2027, a conclusão do projecto concebido para a sua conveniente utilização como monumento visitável.
Cromeleque dos Almendres
Exemplo maior do megalitismo europeu, o cromeleque dos Almendres orientado segundo a direcção poente-nascente, desce do chamado Alto das Pedras Talhas (a 413 metros de altitude) por uma encosta suave bem alentejana, voltada a leste na Herdade dos Almendres, localizada na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe (oficialmente, é a União das Freguesias de Nossa Senhora da Tourega e Nossa Senhora de Guadalupe), a cerca de 12 quilómetros (km) a oeste da cidade de Évora, com fácil acesso a partir da estrada nacional (EN 114) de Évora para Lisboa, ao km 10.
Diga-se, antes de mais, que a palavra “cromlech”, do Galês antigo, que quer dizer “pedra grande arredondada”, já era usada no século XVII para designar este tipo de monumento megalítico. Nela, o elemento “lech” significa “pedra”.
Muitos dos megálitos (nome de cada uma destas pedras grandes, do grego “mega”, grande, e “lithós”, pedra) ali reunidos têm a forma ovóide dos grandes recipientes de barro, as ditas talhas, em que, no Alentejo, se fermentava o mosto e guardava o vinho e, daí, o nome do sítio. São todos de granito (“lato sensu”), entre granodioritos e quartzodioritos, de vários afloramentos da região, alguns transportados de distâncias superiores a dois quilómetros.
Guindado à condição de maior conjunto de menires da Península Ibérica, o Cromeleque dos Almendres é considerado um dos maiores e mais importantes monumentos deste tipo no Mundo, bem mais antigo do que o conhecidíssimo Stonehenge1, e que pôs o Alentejo e Portugal na rota de especialistas neste domínio do saber.
Datado de há cerca de sete mil anos, no Neolítico, segundo alguns autores, este cromeleque –que é constituído por dois recintos geminados, um maior, de forma elíptica, a poente, e um menor e circular, a nascente, edificados em épocas distintas – aponta no sentido da sedentarização do povo que aqui viveu. Estudos arqueológicos realizados no local por especialistas fazem supor que o conjunto foi edificado em diferentes etapas, durante o Neolítico. Uma etapa, no final do Neolítico antigo (fim do sexto milénio antes de Cristo), com a reunião de um conjunto de menires de pequeno tamanho, agrupados em três círculos concêntricos (o maior com cerca de 20 metros de diâmetro). Outra etapa, com a formação de duas elipses concêntricas (a maior com cerca de 44 metros por 36 metros) coladas a oeste dos citados círculos de recinto mais antigo. E uma última etapa, no Neolítico final (terceiro milénio antes de Cristo), com modificações dos dois recintos, em particular do menor, transformado num átrio do recinto maior.
Quando completo, o conjunto dos menires teria ultrapassado a centena, de tamanhos diversos. Destes, ainda restam noventa e dois, desde os mais pequenos, pouco ou quase nada afeiçoados, aos maiores (com 2,5 metros a três metros de altura), lembrando as ditas talhas, em muito bom estado de conservação, uns com pequenas covas centimétricas (covinhas) e outros decorados, exibindo relevos ou gravuras.
Classificado como Imóvel de Interesse Público, desde 1974, e como Monumento Nacional, em 2015, o Cromeleque dos Almendres, descoberto em 1964 por Henrique Leonor Pina, foi, desde então, objecto de várias acções de escavação e de restauro. Faz parte do universo megalítico eborense e está relacionado com diversas antas, com destaque para a do Zambujeiro, bem perto dali, e com dois outros monumentos próximos, os cromeleques da Portela de Mogos e de Vale Maria do Meio.
Menir dos Almendres
Importante megálito de granito porfiróide, menir é o que o vulgo chamava pedra alçada ou “pera fita” de forma fálica, com cerca de 3,5 metros de altura a partir da superfície do terreno e secção, grosso modo, elíptica com 1,20 x 0,80 metros. Está localizado na antiga freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, no concelho de Évora, no topo de uma encosta, 1,3 km a nordeste do Cromeleque dos Almendres, supondo-se haver íntima relação, entre ambos, dado que o seu alinhamento coincide com o nascer do Sol no Solstício de Verão.
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Nota:
1 – Estrutura megalítica localizada na Inglaterra, no condado de Wiltshire, na Planície de Salisbury.
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05/12/2024