O laxante do “Zé”

 O laxante do “Zé”

(Imagem gerada por IA – pixlr.com)

A cena aconteceu há dias na minha cidade. Ao virar uma das esquinas da “Rodrigues de Freitas”, que é uma das avenidas mais bonitas do Porto. Recheada de frondosas árvores centenárias e de palacetes, como o do Braguinha, que alberga “Belas Artes”, desde 1937.

(staging.cultura.cm-porto.pt)

Junto ao edifício da Biblioteca Municipal do Porto, dou de caras com um velho conhecido. Abraçamo-nos afectuosamente. Com a cumplicidade de quem já não se topa há muito. Ficámos, então, por ali à conversa. Durante largos minutos.

A dada altura, falámos sobre o estado da nação e das escolhas eleitorais da malta. Dou-lhe a conhecer a minha mágoa pelos resultados eleitorais e sou surpreendido pela resposta do meu interlocutor, um pintor autodidata, como ele próprio se define: – Meu caro, pela primeira vez em 50 anos fui votar. Para me livrar da prisão de ventre… Olha, não tenho problema nenhum em o dizer: votei no Chega.

Fiz um sorriso amarelo. Estendi-lhe a mão direita e saí de cena. Já em casa, refeito da murraça, considerei-me um privilegiado por ter conhecido um assumido votante no partido que agora diz ir apresentar um governo sombra ao da chamada Aliança Democrática.

(Imagem gerada por IA – imagine.art)

Graças a ele, fiquei a saber que além de racista, xenófobo, homofóbico, principal protagonista do Big Brother da burlesca política nacional, o comentador da bola feito Führer é também o laxante preferido do “Zé”.

Do Zé Ninguém que prefere aqueles que querem enterrar bem fundo o Serviço Nacional de Saúde, entregar a Segurança Social a privados, assumidos devotos da castração química e da prisão perpétua, sedentos confessos em proceder à revisão da Constituição da República.

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Ainda a tempo:

Por mais que tente, não entendo tal ódio ao “25 de Abril”, aos militares que o fizeram e a todos aquelas e aqueles que lutaram pela Liberdade. O descontentamento com o estado da nação não se combate com tal laxante. Nem com os purgantes do Luís ou do Rocha. A não ser, claro está, que o “Zé” tenha saudades da prisão de ventre do Estado Novo…

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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26/05/2025

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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