“… ocupação do mundo pelas rosas”
Os norte-americanos utilizam muito esta fórmula, tenho constatado isso em muitas séries e filmes: “Disponho de duas notícias para contar, uma boa e outra má, qual gostarias de ouvir primeiro?”
A maioria responde que quer ouvir a notícia má antes, reconhecendo, deste modo, dar mais importância ao negativo do que ao positivo…
Assim, passo a referir algumas notícias más e outras boas, que surgiram nos últimos dias.
A guerra em Gaza cumpriu um ano e o saldo não é nada positivo. Consultada a Internet, na edição digital da Euronews, de 9 de Outubro, sob o título “Mortes em Gaza ultrapassam as 42 mil, forças israelitas intensificam ataques no norte do território”, leio que, efectivamente, eram já mais de 42 mil as mortes registadas na Faixa de Gaza, desde o reacender do conflito na região, a 7 de Outubro do ano passado. E que, de acordo com o, então, último balanço, 42010 pessoas morreram e 97720 ficaram feridas nos ataques militares israelitas a Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave.
Relativamente à invasão da Ucrânia, já a 26 de Fevereiro do corrente ano – data em que se assinalava dois anos do conflito com a Rússia –, a edição electrónica da revista Veja dava conta de que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, revelou, pela primeira vez, nessa segunda-feira, quantas mortes o seu exército sofreu em batalhas contra as forças da Rússia, reconhecendo que “31 mil soldados teriam morrido no conflito”.
A mesma notícia, no sítio da Veja, adiantava que o “mandatário se recusou a revelar quantos militares ucranianos ficaram feridos”, dizendo que esse detalhe poderia ajudar Moscovo. Todavia, nessa altura, as “estimativas de autoridades de inteligência americanas [eram] muito mais altas, sugerindo que 70 mil soldados morreram e 120 mil ficaram feridos durante o conflito”.
Em Portugal, a 8 de Outubro, os reformados tiveram compensações nas suas pensões. Lemos, a este respeito, na edição online da Rádio Renascença: “Reformados da Segurança Social recebem pensão com bónus e acerto do IRS esta terça-feira”.
Considerando essa notícia da Lusa, os pensionistas da Segurança Social receberam, na terça-feira (dia 8), a pensão de Outubro, com acerto do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) “às novas tabelas de retenção, sendo que cerca de 2,1 milhões vão também receber o bónus extraordinário de entre 200 a 100 euros”. Mesmo assim, continuamos a viver de pequenas esmolas para aliviar os baixos valores dos pensionados.
Neste meio tempo, assistimos à morte das livrarias. Depois de a Fnac (a única loja da retalhista francesa na cidade do Porto) ter encerrado, a histórica Livraria Latina anuncia o fecho da loja situada no início da Rua de Santa Catarina, um belo edifício que ostenta, na fachada, tanto quanto sei, o único monumento que homenageia o poeta Luís de Camões, no Porto.
Ainda em torno dos livros, as más notícias não acabam aqui. Também a Leya (editora) anuncia o fecho de lojas no Porto, em Aveiro, em Viseu e noutras localidades do País, devido ao aumento especulativo das rendas dos respectivos espaços e às dificuldades de renovação dos contratos de arrendamento.
A direita da Aliança Democrática (AD) no governo declara a morte anunciada da RTP. Ao pretender retirar a publicidade à emissora estatal, ficará assim entregue às “matilhas” das emissoras televisivas privadas.
Um fenómeno raro em Portugal, até hoje: as auroras boreais visitaram-nos mais uma vez… Um pouco de luz em época de trevas!
Outros dois fenómenos climáticos afectam o Mundo. No estado norte-americano da Florida, o furacão Milton causa inúmeros estragos. Entre nós, a tempestade Kirk – um nome pouco habitual – derrubou árvores e gruas, deixando ruas alagadas e provocando inundações. Confesso que Kirk só conheci um: Kirk Douglas, o famoso actor norte-americano intérprete de “Spartacus” e de outros filmes inesquecíveis. Era um bom Kirk, digno na sua profissão e um dos poucos que lutou com dignidade contra o Macarthismo (1950/57), uma época obscura nos Estados Unidos da América, devido à corrente de pensamento anticomunista, que provocou flagrantes violações a direitos constitucionais.
Através das mais recentes notícias, ficamos sem saber se o “chico” do partido Chega teria sido convidado para o governo do “chico” da AD. Também ficamos surpreendidos com o facto de o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter avançado com um valor de 1750 euros, de indemnização civil, pelos danos causados no seu fato da Hugo Boss, quando um activista da Greve Climática Estudantil, em Fevereiro, lhe atirou tinta verde.
Entretanto, pessoas sem abrigo foram despejadas das ruas de Lisboa, numa operação de limpeza, no dia 5 de Outubro!
Prémio Nobel para a Ásia: Han Kang, escritora da Coreia do Sul, ganha o Prémio Nobel de Literatura de 2024, a 10 de Outubro. A autora é a primeira sul-coreana a ser laureada pela Academia Sueca e, ao que parece, a mais jovem até hoje. O seu livro mais famoso é o romance “A vegetariana”, que foi editado em Portugal no ano de 2016 e no Brasil em 2018.
O primeiro livro de Han Kang publicado em Portugal – “A Vegetariana” – venceu o Man Booker Internacional Prize. Em 2017, foi publicado o romance “Actos Humanos”. Dois anos depois, em 2019, “O Livro Branco”. E, em 2023, “Lições de Grego”. Confesso não conhecer e de não ter lido, mas vou ler!
Por sua vez, o Prémio Nobel da Paz de 2024 foi atribuído ao grupo japonês Nihon Hidankyō, que luta contra as armas nucleares. Esta organização é formada por sobreviventes das bombas de Hiroshima e de Nagasaki. O Prémio Nobel da Paz é, pois, um “recado lembrando o Mundo dos riscos do uso de armas nucleares”, num momento de escalada das guerras, a nível mundial, como interpreta o Comité Norueguês do Nobel.
No dia 3 de Outubro, em Melo, no concelho de Gouveia, foi inaugurada a Casa Vergílio Ferreira – Para Sempre, uma homenagem da Aldeia de Melo ao escritor que ali viveu. A cerimónia decorreu no âmbito do Festival Literário “Em Nome da Terra”, na qual o Presidente da República se associou à homenagem à escritora Lídia Jorge, também presente, além de ter entregado o Prémio Vergílio Ferreira 2024 ao escritor António Garcia Barreto.
De Vergílio Ferreira, recordo a leitura do romance “Manhã Submersa”, levado magistralmente para o cinema e para a RTP, pelo cineasta Lauro António. O filme é de 1980, protagonizado por Eunice Muñoz, Adelaide João, Canto e Castro, Jacinto Ramos e, curiosamente, pelo próprio autor (o escritor Vergílio Ferreira) no papel do reitor.
No domínio teatral, reabre o Teatro Variedades, em Lisboa, depois de quase três décadas fechado. O antigo Teatro Variedades, no Parque Mayer, reabriu no dia 5 de Outubro (sábado), após as obras de reabilitação a que foi sujeito. O espaço voltou a abrir as suas portas ao público, após obras de reabilitação assinadas por Manuel Aires Mateus. Dos 1090 lugares que chegou a dispor, tem agora lotação para aproximadamente 300 pessoas, mas com espaço para companhias independentes, como noticia o Expresso.
O fim-de-semana foi de festa no Parque Mayer. Como também nos dava conta a Agenda Cultural Lisboa, a 5 de Outubro, o encenador e dramaturgo Ricardo Neves-Neves estreava dois novos espectáculos – as comédias “Entraria nesta sala” e “The Swimming Pool Party” –, os quais antecipam “uma programação que procura privilegiar o teatro (baseada na heterogeneidade das propostas, ao incluir nomes como os de Rita Ribeiro ou Florbela Queiroz, mas também os Artistas Unidos, Pedro Penim e a Companhia de Ópera do Castelo) e apostar em temporadas mais extensas do que as que vêm sendo usuais nas principais instituições culturais da cidade”.
No dia 12 de Outubro, foi celebrado no mundo hispânico, o Dia da Hispanidade (ou Festa Nacional de Espanha), envolvendo países como a Argentina, a Bolívia, o Chile, a Colômbia, a Costa Rica, Cuba, a República Dominicana, o Equador, El Salvador, a Guatemala, as Honduras, o México, a Nicarágua, o Panamá, o Paraguai, o Peru, Porto Rico e a Venezuela.
Na minha infância, era conhecido por “Día de la Raza”. Hoje, os diferentes países sul-americanos dão-lhe nomes diferentes: “Dia das Culturas”, “Dia dos Povos Indígenas”, etc. Sem dúvida, boas notícias para uns, os conquistadores. E más notícias para os indígenas!
Registe-se que este dia (12 de Outubro) foi escolhido por coincidir com a data de descoberta da América (“Novo Mundo”) pelo navegador Cristóvão Colombo, a 12 de Outubro de 1492. A dita descoberta foi feita ao serviço dos reis de Castela e de Aragão, que apoiaram o projecto do navegador.
O regresso do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), com programação entre 11 e 20 de Outubro, deveria arrancar com um espectáculo intitulado “Géologie d’une fable”, da companhia libanesa Collectif Kahraba, mas, devido à guerra no Médio Oriente, o evento foi cancelado e a abertura do FIMP contou com a inauguração de uma exposição fotográfica.
Eu tinha agendado a ida a este primeiro espectáculo do FIMP e, confesso, teria sido a minha primeira experiência com o teatro desse país. Tenho muita pena!
As rosas anunciadas no título deste texto são uma referência às flores que têm a sua origem na Ásia e numa história milenar. As culturas babilónicas, sírias, egípcias, romanas e gregas consideravam a rosa como um símbolo de beleza. A sua utilização decorativa remonta à ilha de Creta, no século XVII a.C. A primeira imagem de uma rosa data do século XVI a.C. e foi encontrada na ilha de Cnossos. Num artigo lido há uns tempos, fiquei a saber que elas se popularizaram na Europa depois das Cruzadas. Teriam alguns cruzados trazido exemplares que se propagaram pelo continente europeu?
Pelas guerras e, sobretudo, pelos conflitos bélicos actuais, quão longe estamos do desejado nos versos de Natália Correia, quando escreveu o poema “Credo”:
“[…]
creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amém.”
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17/10/2024