Os engraxadores

O engraxador fotografado por Joshua Benoliel. (Créditos fotográficos: Arquivo Municipal Lisboa – capeiaarraiana.pt)
Logo a seguir ao 25 de Abril, o meu pai regozijava-se com o desaparecimento dos engraxadores, porque seria sinal de dignificação do trabalho e fim de uma profissão humilhante para os próprios, por mais dignidade que eles tivessem (e tinham): estar ali a puxar o lustro ao senhorito por uma miséria e muitos deles acabarem tuberculosos pelo esforço e pela inalação da graxa era uma coisa chocante. Infelizmente, reapareceram como sinal de degradação do mundo do trabalho. Mas os de outro tipo – nas rádios, nas televisões, nos espaços cibernéticos e nos jornais, bem como nas repartições públicas, nos ministérios e nos partidos políticos – têm uma diferença: a indignidade reside neles. E merecem ficar intoxicados com a graxa toda, até os pulmões lhes rebentarem para não piarem tanto disparate.

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Nota do Director:
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18/08/2025