Os jornalistas e nós

(Créditos fotográficos: Valery Tenevoy – Unsplash)
Por motivos quase sempre relacionados com a defesa e a salvaguarda do nosso património geológico e paleontológico, durante as últimas quatro décadas, convivi, menos ou mais próxima e demoradamente, com dezenas de jornalistas, desde os principiantes e esforçados estagiários, “paus para toda a obra”, a mando das redacções, aos experientes e respeitados seniores, mais autónomos, mas, também eles, muitas vezes, no cumprimento de orientações vindas de cima.
Todos sabemos que os jornalistas, elementos importantes na vida democrática, representam um real poder na sociedade. Poder que eles sabem que têm e que usam, de facto. Poder que todos lhes reconhecemos e a quem, muitas vezes, recorremos. De há muito, se lhes chama o Quarto Poder.

Como é natural, os jornalistas recorrem ao cidadão, qualquer que seja a sua posição ou importância no tecido social, sempre que isso lhes interessa profissionalmente. É esse o seu trabalho. Têm artes de conhecer o seu (dele) número de telefone e não pedem licença para telefonar, sendo que a inversa já dificilmente se verifica.
Sempre que conseguimos aceder-lhes, na perspectiva ou na esperança de obter a sua ajuda numa dada situação, só a conseguiremos se isso for do seu interesse profissional, o que é humano e compreensível, ou do da redacção, o que tem a ver com aspectos do foro económico, o que também tem a sua justificação.
Um qualquer cidadão, que esteja no centro de um acontecimento de inegável interesse mediático, acaba por entrar em convívio fácil, e geralmente simpático, com dezenas de profissionais da rádio, da televisão e dos jornais. Vive, com isso, momentos entusiasmantes e de satisfação. Nestes convívios, ele dá o seu melhor. É, por assim dizer, um voluntário. Para os jornalistas, isto é quase sempre e apenas trabalho, o que é normal e, quanto a isto, nada há a dizer.
Na sua ingenuidade e vaidadezinha bacoca (não me excluo de, no início das muitas vezes em que isto me aconteceu, ter cometido este pecado) de ver o seu nome, a sua voz ou a sua imagem nos media, o cidadão comum escancara portas e janelas aos jornalistas. Envaidece-o a atenção, a simpatia e a aparente amizade com que este o trata e, ingenuamente, acredita ter feito um amigo que o ajudará quando precisar. Mas engana-se redondamente.
Os jornalistas (sem esquecer os/as apresentadores/as de rádio e de televisão) estão, pura e simplesmente, a fazer o seu mister e são tanto melhores profissionais quanto mais rigoroso for o seu trabalho. E é isso o que se lhes exige. Ponto final. Findo esse trabalho, já têm outro à espreita, na hora ou no dia seguintes, que lhes pede toda a atenção e profissionalismo. O anterior trabalho já passou e deu lugar a outro. É assim, todos os dias…
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25/12/2023