Pedro Lopes: “Nunca se investiu tanto no capital humano do digital em Cabo Verde”

 Pedro Lopes: “Nunca se investiu tanto no capital humano do digital em Cabo Verde”

Pedro Fernandes Lopes, secretário de Estado da Inovação e Formação Profissional de Cabo Verde. (facebook.com/pedrolopes)

Ainda me lembro bem: conheci o Pedro Fernandes Lopes na época em que estava à frente da organização do primeiro TEDx em Cabo Verde, elevando o arquipélago ao circuito global das grandes conferências de ideias. Este trabalho valeu-lhe o reconhecimento nos Prémios “Somos Cabo Verde – Os Melhores do Ano” e consolidou o seu nome como uma referência na inovação e no empreendedorismo.

Integrou o prestigiado programa Mandela Washington Fellowship for Young African Leaders, promovido pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA), e foi selecionado para a primeira iniciativa de liderança africana da Fundação Obama. Em 2018, foi distinguido pela organização Most Influential People of African Descent (MIPAD) como um dos 100 afrodescendentes mais influentes do Mundo com menos de 40 anos e figurou na lista da Apolitical como um dos “100 Futuros Líderes Mundiais em Governação”.

Com apenas 31 anos, Pedro Lopes assumiu o cargo de secretário de Estado para a Inovação e Formação Profissional, tornando-se um dos membros mais jovens do Governo de Cabo Verde. Desde então, tem sido uma peça-chave no desenvolvimento do programa Cabo Verde Digital e na criação do Conselho da Juventude do Primeiro-Ministro, reforçando a aposta do país na economia digital e na capacitação da juventude.

“Nos últimos anos, a nossa prioridade tem sido apostar fortemente no capital humano, que é a base de qualquer transformação digital sustentável”, declara o governante cabo-verdiano Pedro Lopes. (pt.wikipedia.org)

Djam Neguin – sinalAberto (sA) Quais têm sido os principais desafios e conquistas na implementação da Estratégia Digital de Cabo Verde, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento do capital humano?

Pedro Fernandes Lopes (PFL) – Foi recentemente aprovada uma nova Estratégia da Economia Digital de Cabo Verde, e estamos agora a partir para a sua implementação. Nos últimos anos, a nossa prioridade tem sido apostar fortemente no capital humano, que é a base de qualquer transformação digital sustentável. Para isso, reforçámos as formações e capacitações na área da tecnologia através do IEFP [Instituto do Emprego e Formação Profissional], das oportunidades criadas pelo Cabo Verde Digital, em parceria com organizações internacionais, bem como da NOSI Akademia e do WebLab, nas escolas.

(Direitos reservados)

Apoiamos também formações complementares nas universidades e incentivamos os nossos talentos a criarem as suas próprias empresas através da Bolsa Cabo Verde Digital, que oferece apoio financeiro. Além disso, temos promovido a participação em eventos internacionais de tecnologia como o Web Summit, em Portugal e no Brasil, o GITEX África 2025, em Marrocos, ou o Women in Tech (Programa GoGlobal), em Paris, e fornecido mentoria nacional e internacional. Hoje, com o suporte do Pró Empresa [Instituto de Apoio e Promoção Empresarial], há um ecossistema preparado para apoiar os jovens a lançarem as suas start-ups. Nunca se investiu tanto no capital humano do digital em Cabo Verde, como agora.

(women-in-tech.org)

sA O TechPark é apontado como uma grande aposta para posicionar Cabo Verde como um hub tecnológico na África Ocidental. Poderia detalhar como este projeto pretende atrair investidores e quais os incentivos previstos?

PFL – O Parque Tecnológico de Cabo Verde já está em funcionamento num formato de testes, com empresas de vários países e uma elevada procura nacional e internacional. A nossa ambição é que este parque, cuja abertura oficial está prevista para abril/maio, se torne uma referência para o Atlântico, um verdadeiro centro de formação de talentos, incubação e aceleração de start-ups, de certificações tecnológicas de alto nível e eventos internacionais. Contaremos com uma Zona Económica Exclusiva Tecnológica, que oferecerá condições fiscais e parafiscais vantajosas para as empresas que se estabelecerem no parque. Além disso, teremos uma infraestrutura de padrão internacional tanto na Cidade da Praia como em São Vicente, consolidando Cabo Verde como um hub de inovação e tecnologia.

(techpark.cv)

sA Cabo Verde tem-se destacado como um destino atrativo para nómadas digitais. Quais são as estratégias em curso para consolidar o país neste nicho e que impacto espera que isso tenha na economia local?
PFL – Temos trabalhado ativamente para consolidar Cabo Verde como um destino de eleição para nómadas digitais. A nossa abordagem inclui a promoção internacional em eventos de tecnologia, a facilitação do processo de obtenção de vistos e a conexão entre nómadas digitais e start-ups locais. Além disso, estamos a planear organizar, ainda neste ano, um evento dedicado aos nómadas digitais no país. A chegada da Internet por satélite através da Starlink já permite que um nómada digital possa trabalhar de qualquer montanha ou praia deserta do país, abrindo oportunidades incríveis para a economia local. No entanto, para que este impacto seja maximizado, é fundamental que os setores de serviços e de turismo se preparem para atender este público, garantindo um bom nível de Inglês e um elevado padrão de serviço.

“O Parque Tecnológico de Cabo Verde já está em funcionamento
num formato de testes, com empresas de vários países e uma
elevada procura nacional e internacional, afirma o secretário de
Estado Pedro Lopes. (apolitical.co)

sA – Recentemente, foi nomeado conselheiro do Global Future Council do World Economic Forum. Como avalia este reconhecimento e de que forma pretende contribuir para as discussões globais sobre o futuro do turismo sustentável?

PFL – Este reconhecimento e seleção para participar no Global Future Council do World Economic Forum só foi possível porque Cabo Verde tem sido, cada vez mais, destacado no cenário internacional. A nossa estabilidade política, aliada à nossa ambição de impulsionar o país no digital e na transição energética, tem chamado a atenção de muitos especialistas e investidores. É sempre bom fazer parte e ter assento em organizações deste nível, que discutem e pensam o futuro do Mundo. E é um orgulho poder representar Cabo Verde, a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], os PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], África e os pequenos estados insulares.

“Os projetos Geração B-Bright e TEDxPraia foram momentos marcantes na minha trajetória”, reconhece o governante Pedro Lopes. (balai.cv)

sA Através de iniciativas como a Geração B-Bright e o TEDxPraia, deu importantes inspirações de empreendedorismo aos jovens. Quais são os próximos passos para incentivar ainda mais a participação juvenil na inovação e no desenvolvimento tecnológico?

PFL – Os projetos Geração B-Bright e TEDxPraia foram momentos marcantes na minha trajetória. A grande conquista é que a Geração B-Bright continua a crescer e é, hoje, uma das maiores organizações nacionais de jovens, mantendo-se ativa na capacitação e empoderamento de novas lideranças. Quanto ao TEDx, que é a maior plataforma de partilha de ideias do Mundo, sinto-me orgulhoso por ter trazido para o país esta grande iniciativa e ter organizado a primeira edição no país, conjuntamente com um grupo de jovens fantásticos, mas fico ainda mais satisfeito ao ver que o evento continua a ser realizado com sucesso, de forma anual, no Mindelo. No entanto, gostaria de ver o TEDx regressar também à Praia, algo que não acontece há vários anos, pois acredito que este formato tem um impacto transformador e inspirador para os jovens e menos jovens.

“Quanto ao TEDx, que é a maior plataforma de partilha de ideias
do Mundo, sinto-me orgulhoso por ter trazido para o país esta
grande iniciativa”, declara Pedro Lopes. (governo.cv)

sA – Na sua perspetiva, quais são as principais oportunidades e desafios para a expansão da economia digital no continente africano? E como Cabo Verde pode servir de modelo ou catalisador nesse processo?

PFL – A economia digital tem um enorme potencial para transformar o continente africano, mas ainda enfrentamos desafios como a infraestrutura digital limitada e a falta de acesso à educação tecnológica em algumas regiões. Cabo Verde pode servir como um modelo e também catalisador, demonstrando como um pequeno país insular pode desenvolver um ecossistema digital competitivo. Queremos ser uma referência na criação de políticas públicas, na atração de investimentos e desenvolvimento de talentos, promovendo colaborações com outros países africanos e criando um ambiente favorável para o crescimento das start-ups no continente.

“É fundamental, para o futuro do nosso país, que possamos
munir os nossos jovens de competências digitais, para não
corrermos o risco de ficar para trás”, considera o governante
cabo-verdiano Pedro Lopes. (facebook.com/pedrolopes)

sA – Tem mencionado a importância de parcerias com empresas tecnológicas globais, como a Microsoft. Poderia partilhar mais detalhes sobre estas colaborações e os benefícios esperados para Cabo Verde?

PFL – As parcerias com empresas tecnológicas globais são fundamentais para o avanço da nossa economia digital. Trabalhamos com a Microsoft na modernização dos serviços públicos e na capacitação digital, enquanto colaborações com empresas como a Starlink estão a permitir uma revolução na conectividade, garantindo que mesmo as áreas mais remotas do país tenham acesso à Internet de alta velocidade. Continuamos a procurar novas oportunidades de colaboração com grandes players da tecnologia, sempre com o objetivo de trazer inovação e benefícios diretos para a população cabo-verdiana. Temos objetivos de ser uma referência em África no domínio do digital. Por isso, temos de caminhar com os melhores, conectando com os melhores ecossistemas e fazendo parcerias com as maiores empresas do Mundo.

“A economia digital tem um enorme potencial para transformar o continente africano”, salienta Pedro Lopes, na qualidade de secretário de Estado da Inovação e Formação Profissional de Cabo Verde. (linktoleaders.com)

sA Com a crescente digitalização, como vê o futuro da educação em Cabo Verde? Que medidas estão a ser tomadas para integrar competências digitais nos currículos escolares e universitários?

PFL – A educação em Cabo Verde tem de preparar os jovens para este mundo em acelerada mudança. É fundamental, para o futuro do nosso país, que possamos munir os nossos jovens de competências digitais, para não corrermos o risco de ficar para trás. Neste momento, estamos a integrar competências digitais nos currículos escolares. Estamos também a incentivar o uso de plataformas de ensino online e a consciencializar, cada vez mais, os jovens a tornarem-se não só consumidores, mas, sim, criadores no mundo digital. É nossa responsabilidade garantir que as novas gerações estejam preparadas para os desafios da economia digital e que possam competir, futuramente, num mercado global. E que possam, igualmente, ter a literacia digital suficiente para entender e navegar neste mundo, que terá uma vertente digital em todas as áreas e não apenas no domínio económico, mas também no domínio social.

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13/03/2025

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Djam Neguin

Djam Neguin (Bruno Amarante) é um artista multidisciplinar da nova geração de criativos contemporâneos cabo-verdianos, expressando-se através da dança, do teatro, do cinema e da música, cruzando várias formas de criação. Djam Neguin, enquanto actual agente da cena artística e cultural de Cabo Verde, vivencia diferentes afectos e domínios artísticos – artes cénicas e visuais –, passando por actividades de gestão e de produção cultural. Assim, tem estado envolvido, como coordenador geral e director artístico, na produção do Festival Internacional de Dança Contemporânea Kontornu e é criador e dinamizador do projecto virtual Rede de Dança da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Mostra de Dança da Cidade da Praia, em Cabo Verde, entre outros eventos. Coreografou importantes acontecimentos culturais da agenda cabo-verdiana, tendo sido um dos principais dinamizadores das danças urbanas na última década, organizando “battles” e o Concurso Nacional de Hip Hop (em Cabo Verde). Tem leccionado em diferentes cidades do Mundo e também realiza, com regularidade, diversos “workshops”. Foi membro fundador e bailarino do Cabo Verde Ballet. Desde 2015, cria os seus próprios espectáculos e participa em vários circuitos internacionais. Com a sua rubrica quinzenal “Pokas & Boas” no jornal sinalAberto, Djam Neguin procura reforçar os laços culturais e os afectos no espaço lusófono, através de encontros, de vivências, de relatos, de conversas e de entrevistas com “personalidades negras das Artes, Culturas e Saberes da Lusofonia”, como sublinha.

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