Quando o ridículo não mata, mas mói…

 Quando o ridículo não mata, mas mói…

(rtp.pt)

Não fosse poder configurar mesmo um crime de usurpação de poderes, com que a Dona Lucília se devia preocupar, e só daria para fazer cair de riso o edil. Imiscuir-se no ordenamento jurídico que separa a administração central do poder local não é uma carolice. Ou “carlorice”, devo dizer?

(rtp.pt)
(poligrafo.sapo.pt/fact-check)

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, depois de querer pôr a Polícia Municipal a prender cidadãos – se calhar, para pôr “os moedinhas” a levarem de cana os condutores rebeldes que não obedecem aos ditames do estacionamento –, irá prosseguir na sua safra de imitação do “tio Adolf”, reclamando a chefia da Região Militar de Lisboa? E, posteriormente, que mais se seguirá? Alguma rebelião a partir da Cervejaria da Trindade? Ou recuperar a lei de ser proibido o uso do isqueiro fora de telha? Ou de Telheiras, quiçá!

Reichmarke (pt.m.wikipedia.org)

Há mesmo quem diga que o homem que faz recair sobre a capital o riso do resto do país já sonha em emitir moeda, com a sua imagem e em paridade com o Reichmarke (1938-1945). Mas, felizmente para todos nós, numa farsa histórica como aquela de que diria o teórico revolucionário prussiano Friedrich Engels: a História repete-se, da primeira vez como drama e da segunda como farsa. Ou algo assim do género.

Dir-se-á que a insensatez não merece muito mais do que isto. E que antes uma boa rajada de gargalhadas à rajada de uma metralhadora para atingir o pequeno comediante autarca. Talvez sim, talvez não. Mas, como a Democracia é para levar a sério, talvez quem devesse pronunciar-se sobre este pronunciamento fosse o senhor de Belém, tão interventivo com as outras moedas do orçamento.

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Nota do Director:

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26/09/2024

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Jorge Castro Guedes

Jorge Castro Guedes nasceu no Porto, em 1954. Do primeiro elenco da Seiva Trupe, em 1973, como actor, seguiu carreira própria a partir de 1976 e voltou como director artístico, convidado por Júlio Cardoso, no final de 2018. Pelo meio, ficam os “seus” TEAR (Teatro Estúdio de Arte Realista), entre 1977 e 1990, e Dogma\12 – Estúdio de Dramaturgias de Língua Portuguesa (de 2012 a 2018). E leva perto de mil intérpretes dirigidos em mais de cem encenações, passando pelo Serviço Acarte da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo Teatro Nacional Dona Maria, pelo Novo Grupo, pelo Teatro Raul Solnado, pelo Teatro da Trindade, etc. É polemista e cronista espalhado por vária imprensa e autor de trinta textos dramáticos publicados, além de diversas traduções do Galego, do Castelhano (ou Espanhol) e do Francês. Foi redactor publicitário na McCann (e freelancer) e director criativo estratégico na Boom & Bates, sempre pronto para prosseguir. Foi assessor para os dramáticos da RTP e autor/apresentador do programa “Dramazine” (entre 1990 e 1993). Estagiou com Jorge Lavelli no Théâtre National de La Colline, em Paris (na temporada de 1989 a 1990). Mestre em Artes Cénicas, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 2013, frequentou anteriormente (de 1971 a 1973) Direito, na Universidade de Lisboa, e Filosofia, na Universidade do Porto, entre 1973 e 1976. Autodefine-se como um “humanista cristão pelo coração; socialmente radical, porém céptico”.

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