Quando o ridículo não mata, mas mói…

 Quando o ridículo não mata, mas mói…

(rtp.pt)

Não fosse poder configurar mesmo um crime de usurpação de poderes, com que a Dona Lucília se devia preocupar, e só daria para fazer cair de riso o edil. Imiscuir-se no ordenamento jurídico que separa a administração central do poder local não é uma carolice. Ou “carlorice”, devo dizer?

(rtp.pt)
(poligrafo.sapo.pt/fact-check)

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, depois de querer pôr a Polícia Municipal a prender cidadãos – se calhar, para pôr “os moedinhas” a levarem de cana os condutores rebeldes que não obedecem aos ditames do estacionamento –, irá prosseguir na sua safra de imitação do “tio Adolf”, reclamando a chefia da Região Militar de Lisboa? E, posteriormente, que mais se seguirá? Alguma rebelião a partir da Cervejaria da Trindade? Ou recuperar a lei de ser proibido o uso do isqueiro fora de telha? Ou de Telheiras, quiçá!

Reichmarke (pt.m.wikipedia.org)

Há mesmo quem diga que o homem que faz recair sobre a capital o riso do resto do país já sonha em emitir moeda, com a sua imagem e em paridade com o Reichmarke (1938-1945). Mas, felizmente para todos nós, numa farsa histórica como aquela de que diria o teórico revolucionário prussiano Friedrich Engels: a História repete-se, da primeira vez como drama e da segunda como farsa. Ou algo assim do género.

Dir-se-á que a insensatez não merece muito mais do que isto. E que antes uma boa rajada de gargalhadas à rajada de uma metralhadora para atingir o pequeno comediante autarca. Talvez sim, talvez não. Mas, como a Democracia é para levar a sério, talvez quem devesse pronunciar-se sobre este pronunciamento fosse o senhor de Belém, tão interventivo com as outras moedas do orçamento.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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26/09/2024

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Jorge Castro Guedes

Com a actividade profissional essencialmente centrada no teatro, ao longo de mais de 50 anos – tendo dirigido mais de mil intérpretes em mais de cem encenações –, repartiu a sua intervenção, profissional e social, por outros mundos: da publicidade à escrita de artigos de opinião, curioso do Ser(-se) Humano com a capacidade de se espantar como em criança. Se, outrora, se deixou tentar pela miragem de indicar caminhos, na maturidade, que só se conquista em idade avançada, o seu desejo restringe-se a partilhar espírito, coração e palavras. Pessimista por cepticismo, cínico interior em relação às suas convicções, mesmo assim, esforça-se por acreditar que a Humanidade sobreviverá enquanto razão de encontro fraterno e bom. Mesmo que possa verificar que as distopias vencem as utopias, recusa-se a deixar que o matem por dentro e que o calem para fora; mesmo que dela só fique o imaginário. Os heróis que viu em menino, por mais longe que esteja desses ideais e ilusões que, noutras partes, se transformaram em pesadelos, impõem-lhe um dever ético, a que chama “serviços mínimos”. Nasceu no Porto em 1954, tem vivido espalhado pelo Mundo: umas vezes “residencialmente”, outras “em viagem”. Tem convicções arreigadas, mas não é dogmático. Porém, se tiver de escolher, no plano das ideias, recusa mais depressa os “pragma” de justificação para a amoralidade do egoísmo e da indiferença do que os “dogma” de bússola ética.

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