Reclame, sempre!

 Reclame, sempre!

(Créditos fotográficos: Sergi Kabrera – Unsplash)

Há uns tempos, fui vítima da trapaça de um condutor. Protagonizada por um homem velho, que se revelou malcriado e chico-esperto. A cena, que a seguir conto, aconteceu quando circulava, a baixa velocidade, numa das ruas aqui da urbe. Junto de uma curva, fui surpreendido por um veículo que saía de um estacionamento em marcha-atrás. Avisei o seu condutor, com sinais de luzes, de que estava a efectuar uma manobra perigosa. Mas de nada valeu!

O condutor insistiu e quando tentei recuar já não o pude fazer, pois tinha um autocarro atrás de mim. Resultado: a traseira do veículo do sujeito embateu na grelha frontal do meu carro, provocando dano. Dirigi-me ao condutor do veículo em causa e fui logo saudado com um palavrão. Em seu entender eu é que tinha sido o causador do acidente. Fiz de conta que não ouvi o insulto e, calmamente, expliquei-lhe que o tinha avisado, com sinais de luzes, para a perigosidade da manobra que estava a fazer.

O homem continuou no interior do veículo. Alheio ao pequeno concerto de apitadelas, que já acontecia por essa altura. Tirei o meu carro do meio da rua e aparquei-o em sítio que não causava estorvo. Voltei à fala com o outro condutor, que, entretanto, tinha saído do veículo. Com serenidade, expliquei-lhe que a culpa era dele, porque tinha acabado de a sair de um estacionamento, de forma nada cuidada.

O homem suspendeu os palavrões e lá aceitou fazer a “Participação Amigável”, que não tinha. Também não tinha consigo a carta-verde. Apenas o “selo” que indicava a companhia “Seguros Continente” como seguradora. Fui buscar a minha “Amigável” e comecei a fazer o seu preenchimento. Voltaram os insultos e eu optei por sugerir-lhe que me desse o seu contacto telefónico e a sua morada, pois ligar-lhe-ía depois, quando estivesse mais calmo. Não testemunhei o acidente com as habituais fotografias.

Conforme o combinado, liguei a meio da tarde e fui logo saudado por um “você é um filho da puta que me quer prejudicar”. E, logo a seguir, para despachar a coisa: “O meu filho já participou ao seguro por e-mail.”

(Créditos fotográficos: Xandro Vandewalle – Unsplash)

Uma aldrabice do tamanho da Torre dos Clérigos, já se vê! Meti os pés ao caminho e descobri que a morada que me tinha sido dada não existia. A única coisa verdadeira era o número telefónico que me tinha fornecido. Dei conta do sucedido ao senhor que trata dos seguros. “Vamos fazer uma Reclamação de Danos junto da companhia dele”, alvitrou. Assim fizemos. Descrevendo, com rigor e verdade, os factos. Da “Continente” nenhuma resposta. Depois de várias semanas, contactei aquela companhia e foi-me dito que o processo estava em análise, respeitando os prazos impostos pela lei. O que não era verdade. Os prazos tinham-se esgotado, há muito.

Então, solicitei a intervenção da minha companhia junto da sua homóloga. Alguns dias depois, o assunto estava resolvido. Bastou aos investigadores de ambas as seguradoras confirmarem a veracidade dos factos que narrei, por escrito, na reclamação de danos. Por essa razão, fui ressarcido dos prejuízos causados por um condutor imprudente, chico-esperto, grosseiro e mentiroso.

Felizmente, o meu agente de seguros é de excelência e, logo, aconselhou-me a reclamar os danos. Caro leitor, aceite a minha sugestão: caso lhe aconteça o mesmo, reclame. Reclame, sempre! Não se deixe enganar por um qualquer chico-esperto e, muito menos, por uma companhia de seguros do mesmo jaez.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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07/09/2023 

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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