Recuperados os canhões do naufrágio de Belinho, em Esposende

 Recuperados os canhões do naufrágio de Belinho, em Esposende

Imagem recolhida durante os mergulhos em Belinho, na costa de Esposende.(Créditos fotográficos: DR / J. SEXTON – publico.pt)

O Universo é uma mera forma. Nós, os humanos, somos meras alegrias, meras dores, meras poeiras. As causas dos nascimentos são as ações; as ações são as causas das mortes – princípio e fim. A ciência diz-nos que o universo onde colocamos os nossos pés e onde firmamos os nossos pensamentos veio da explosão do Big Bang que, segundo a respetiva teoria, se deu há 13,8 mil milhões de anos. Um número espantoso. E há mesmo quem defenda os 15 mil milhões de anos. Meros cálculos.

A imagem representa o conceito artístico da expansão do Universo, onde o espaço (incluindo hipotéticas partes não observáveis do Universo) é representado em cada momento, em seções circulares. O esquema é decorado com imagens do satélite WMAP. (Créditos da imagem: NASA/WMAP Science Team – pt.wikipedia.org)

Depois, veio o desenvolvimento, como um bebé que chega a adulto. O Universo criou os  elementos. Imagine-se os primeiros homens a verem o fogo e os sacrifícios que tiveram de passar até o conseguirem atear – com pederneira ou por fricção. A título de curiosidade: primeiro inventou-se o isqueiro e só após o fósforo. Imagine-se o homem primitivo a observar um objeto a flutuar e a tentar descobrir algo que o levasse à tona da água… Volvidas tentativas e mais tentativas, lá criou as embarcações. E, como não há bela sem senão, “fabricou” os naufrágios.

Os desastres marítimos aconteceram incontáveis vezes ao longo dos tempos, dos quais resultaram milhões de restos de naufrágios ainda escondidos nos oceanos, mas apenas alguns ficam para a História. Em 2014, foram encontrados restos de uma embarcação quinhentista na praia de Belinho, a norte da cidade de Esposende. O achado ficou conhecido como o naufrágio de Belinho. Dada a enorme quantidade de peças (ou de fragmentos) de barro (cerâmica anfórica), de bronze, de liga de cobre, de estanho e de chumbo, assim como pedaços de madeira, encontrados na praia e durante os inúmeros mergulhos realizados pelos achadores João Sá e o seu filho Alexandre Sá, é considerado o maior achado do género em Portugal.

O assunto tem sido fonte de notícias, sobretudo nos canais televisivos e radiofónicos portugueses e estrangeiros, bem como da revista National Geographic, com o artigo “O tesouro na praia de Belinho”.

(nationalgeographic.pt)

Como já tinha escrito o jornalista Abel Coentrão, em 20 de maio de 2014, no diário Público, junto da mesma praia (de Belinho), foram encontrados vestígios do naufrágio de dois navios, um holandês do século XV ou XVI e outro da época romana.

Em 2017, foram descobertos canhões nas águas de Belinho, pelos mesmos achadores. Pensou-se desde logo na recuperação, mas somente a 23 de setembro de 2024 é que estavam reunidas todas as condições para o tão esperado resgate. Foi uma operação morosa, pois os mergulhadores tiveram de atar umas cintas especiais a balões, também eles especiais, que, ao serem insuflados debaixo de água, fizeram subir os canhões que ali estavam há 500 anos.

Legenda de colubrina de bronze dourado oitavada da praia do Belinho, fundição da Flandres (atr.), 1540 (c.), Esposende, Portugal. (arquipelagos.pt)

Um recente artigo do jornal Público informa tratar-se de duas colubrinas oitavadas de bronze, raramente encontradas em Portugal. Os canhões repousam agora em tanques próprios para receberem o devido tratamento e, no futuro, farão parte de um museu que ficará em Esposende.

Um bem-haja aos achadores, aos arqueólogos e a todos os que se empenharam na recuperação de tão valioso espólio!

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24/10/2024

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José Torres Gomes

José Torres Gomes é natural da localidade de Belinho, no concelho de Esposende. O facto de ser portador da doença degenerativa de Stargardt (ou seja, uma distrofia macular hereditária de início juvenil caracterizada por atrofia macular bilateral) tem-lhe agravado a acção da visão central, a ponto de não ler o que escreve pelo seu próprio punho. O contacto com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) trouxe-lhe novas esperanças na realização do seu sonho. Concretizou uma formação para a aprendizagem dos "softwares" de leitura de textos digitais, particularmente o “JAWS” (um leitor de ecrã desenvolvido para utilizadores de computadores cuja perda de visão os impede de ver o conteúdo do ecrã ou de navegar com um rato), transitando para o “NVDA” ("non visual desktop access"). A partir de então, passou a escrever regularmente no computador. Assim, em 2010, editou o seu primeiro livro, intitulado “Os ossos também falam”. No ano seguinte, publicou a obra “Nunca mais te vi”. Em 2013, lançou o seu terceiro livro: “Gente sem governo”. Na sua quarta obra, em 2015, experimentou a poesia com “A inquietude do silêncio”, título que agora adapta para o seu espaço de escrita no jornal "sinalAberto". Já em 2018, começa a exercitar a sua escrita no domínio da literatura para a infância e publica “O elefante branco”, ilustrado por Geandra Lipa. Em 2020, edita, igualmente para os mais novos, o livro “Zé Trinca-Espinhas e as letras do lago”, com ilustrações de Alexandra de Moraes. O seu mais recente livro para a infância “O menino que queria ser árvore” (homónimo de uma obra do autor brasileiro Fabiano Tadeu Grazioli) foi ilustrado por Carla Sofia Cardoso. Entretanto, tem participado em várias antologias.

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