Recuperados os canhões do naufrágio de Belinho, em Esposende

Imagem recolhida durante os mergulhos em Belinho, na costa de Esposende.(Créditos fotográficos: DR / J. SEXTON – publico.pt)
O Universo é uma mera forma. Nós, os humanos, somos meras alegrias, meras dores, meras poeiras. As causas dos nascimentos são as ações; as ações são as causas das mortes – princípio e fim. A ciência diz-nos que o universo onde colocamos os nossos pés e onde firmamos os nossos pensamentos veio da explosão do Big Bang que, segundo a respetiva teoria, se deu há 13,8 mil milhões de anos. Um número espantoso. E há mesmo quem defenda os 15 mil milhões de anos. Meros cálculos.

Depois, veio o desenvolvimento, como um bebé que chega a adulto. O Universo criou os elementos. Imagine-se os primeiros homens a verem o fogo e os sacrifícios que tiveram de passar até o conseguirem atear – com pederneira ou por fricção. A título de curiosidade: primeiro inventou-se o isqueiro e só após o fósforo. Imagine-se o homem primitivo a observar um objeto a flutuar e a tentar descobrir algo que o levasse à tona da água… Volvidas tentativas e mais tentativas, lá criou as embarcações. E, como não há bela sem senão, “fabricou” os naufrágios.
Os desastres marítimos aconteceram incontáveis vezes ao longo dos tempos, dos quais resultaram milhões de restos de naufrágios ainda escondidos nos oceanos, mas apenas alguns ficam para a História. Em 2014, foram encontrados restos de uma embarcação quinhentista na praia de Belinho, a norte da cidade de Esposende. O achado ficou conhecido como o naufrágio de Belinho. Dada a enorme quantidade de peças (ou de fragmentos) de barro (cerâmica anfórica), de bronze, de liga de cobre, de estanho e de chumbo, assim como pedaços de madeira, encontrados na praia e durante os inúmeros mergulhos realizados pelos achadores João Sá e o seu filho Alexandre Sá, é considerado o maior achado do género em Portugal.
O assunto tem sido fonte de notícias, sobretudo nos canais televisivos e radiofónicos portugueses e estrangeiros, bem como da revista National Geographic, com o artigo “O tesouro na praia de Belinho”.

Como já tinha escrito o jornalista Abel Coentrão, em 20 de maio de 2014, no diário Público, junto da mesma praia (de Belinho), foram encontrados vestígios do naufrágio de dois navios, um holandês do século XV ou XVI e outro da época romana.
Em 2017, foram descobertos canhões nas águas de Belinho, pelos mesmos achadores. Pensou-se desde logo na recuperação, mas somente a 23 de setembro de 2024 é que estavam reunidas todas as condições para o tão esperado resgate. Foi uma operação morosa, pois os mergulhadores tiveram de atar umas cintas especiais a balões, também eles especiais, que, ao serem insuflados debaixo de água, fizeram subir os canhões que ali estavam há 500 anos.

Um recente artigo do jornal Público informa tratar-se de duas colubrinas oitavadas de bronze, raramente encontradas em Portugal. Os canhões repousam agora em tanques próprios para receberem o devido tratamento e, no futuro, farão parte de um museu que ficará em Esposende.
Um bem-haja aos achadores, aos arqueólogos e a todos os que se empenharam na recuperação de tão valioso espólio!
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24/10/2024