Terras raras em Portugal e o paradoxo da abundância

Uma mina de terras raras vista de cima, revelando o impacto ambiental. (revistamineracao.com.br)
Já por diversas vezes trouxe ao jornal sinalAberto o tema das “terras raras”1 e, ao falar hoje sobre o que se sabe acerca deste problema, ocorreu-me, não sei porquê (ou talvez saiba) o chamado “paradoxo da abundância”, também conhecido como “maldição dos recursos naturais”, uma ideia desenvolvida em 1993, pelo economista britânico Richard Auty, professor emérito de Economia e Geografia, da Lancaster University. Uma ideia segundo a qual os países ricos em recursos naturais (como petróleo, gás ou minérios) revelam, frequentemente, índices de pobreza, incompatíveis com uma tal riqueza. Uma realidade que anda de mãos dadas com um crescimento económico mais lento, instabilidade política, elevados níveis de corrupção e menor desenvolvimento institucional. Ao contrário do que seria de esperar, a abundância de recursos naturais prejudica o desenvolvimento sustentável de um país, em vez de o impulsionar.

A Nigéria, um exemplo entre vários (como a Venezuela, Angola, o Iraque e Chade), um dos maiores produtores de petróleo da África, sofre de má gestão, vive uma gritante falta de infraestruturas básicas, enfrenta constantes conflitos armados e afunda-se numa corrupção endémica. Em contraste, países com poucos recursos, como o Japão, prosperaram por meio da inovação e da industrialização.

Portugal não tem nem sabe quando terá exploração comercial de “terras raras”, mas consta, com relativa certeza, que possui diversas áreas promissoras, que poderão vir a tornar-se estratégicas e fontes de desenvolvimento. Notícias que têm vindo a público apontam como principais ocorrências: Vale de Cavalos (no concelho de Portalegre) e Monfortinho (no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco) e quatro jazidas geologicamente confirmadas, no Alentejo, que, sabe-se, já têm quem “ande com o olho nelas”.
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Nota da Redacção:
1 – Este artigo dá continuidade aos textos “Terras raras”, “Vamos continuar a falar de terras raras” e “Ainda as terras raras”, todos da autoria de António Galopim de Carvalho e publicados, respectivamente, nas edições de 03/03/2025, de 06/03/2025 e de 17/07/2025).
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21/07/2025