Trapaceiros de meia-tigela
Dois tipos montados num Panamera perseguiram-me por algumas ruas da pequena cidade onde vivo. Começaram por dar sinais de luzes e ligeiros e repetidos toques de buzina.
Mirei-os pelo retrovisor, mas não parei. Prossegui o meu caminho. Em marcha lenta. Respeitando a indicação de que não podia circular a mais de “50”. E assim continuei, mesmo quando entrei numa das vias mais largas da urbe.
Foi então que aconteceu o que esperava. O Porshe colou-se ao meu lado e o “pendura” gritou: – Pare, senhor! – Ao mesmo tempo o condutor atravessou a “máquina” na frente do meu carro e o passageiro saiu na minha direcção. Desci o vidro e fixei o tipo, que logo atirou:
– Não viu os estragos que fez na “biatura”?…
– Não, não vi. Mas isso resolve-se facilmente: chamo a Polícia e se se confirmar que fiz estragos…
O sujeito nada mais disse. Entou no “porsheta”, que arrancou de imediato, circundou uma “rotunda” e seguiu em sentido inverso ao meu.
É a segunda vez que tenho de lidar com trapaceiros de meia-tigela. A primeira foi há um ou dois meses. Tal como agora, o veículo transportava dois homens.
Não num Panamera preto, mas num “utilitário” branco. Mal aparquei, o condutor veio ao meu encontro e disse-me:
– O senhor “bateu” no meu carro…
Fui ver o estrago reclamado. Tratava-se de um minúsculo e quase imperceptível arranhão junto ao pára-choques frontal, que, segundo o artista, tinha sido causado pelo facto de eu ter deixado descair o carro.
Respondi-lhe:
– Não o deixei descair. Mas não há problema. A oficina onde sou cliente é a 100 metros daqui. Vamos lá! Eles reparam, eu pago e o senhor vai à sua vida…
– O problema – retorquiu, de imediato – não é este arranhão. O problema é que o sistema electrónico deixou de funcionar…
Acto contínuo: entrou no carro e apontou para um daqueles painéis que equipam os veículos modernaços. Depois, disse-me:
– Vou ligar ao meu patrão para saber quando custa o arranjo…
– Sim, faça isso.
Dentro do “utilitário” estava outro indivíduo que não disse uma palavra e nunca deixou de olhar para o outro lado da rua.
Feita a suposta chamada, o meu interlocutor voltou à carga:
– O meu “boss” diz que a reparação fica por 380 euros mais IVA, caso queira factura.
– Pois, mas assim sendo, chamo a Polícia e, caso tenha culpa, participo ao “seguro”…
A história mudou de rumo a partir desse momento.
– O dia estava a correr-lhe bem…–disse-me. – E, se lhe desse 80 euros, a “coisa” ficava resolvida.
Recusei tal benesse. Peguei no telemóvel e expressei:
– Agradeço a sua boa vontade, mas não lhe dou 80 euros. Vou ligar à PSP e logo se vê…
Olhou-me com um sorriso amarelo. Entrou no carro e arrancou.
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A tempo:
Ambas as histórias foram protagonizadas por alguns cidadãos espertalhaços… Conto-as como aviso, pois pode haver outros trapaceiros de meia-tigela espalhados pelo país.
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31/10/2024