Um rebelde chamado Al Berto
Al Berto, libertário, rebelde e solitário, foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa da segunda metade do século XX.
Deixou-nos há 27 anos. A 13 de Junho de 1997, dia do nascimento de Fernando Pessoa. Tinha 49 anos e sucumbiu a um linfoma.
Al Berto, nome literário de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu em Coimbra, em 1948, onde o pai estudava medicina. Mas Sines foi o seu porto de abrigo. Ali, na bela cidade da Costa Vicentina, o poeta escreveu a maior parte da sua obra, editou e fez animação cultural.
Órfão de pai, aos quatro anos, Al Berto foi criado pela mãe, pessoa de origens humildes, que enfrentou os Pidwell Tavares, uma família aristocrática de Sines, composta por latinfundiários e empresários da indústria conserveira.
Ultrapassado o diferendo entre a mãe e os avós paternos, Al Berto passou a viver na casa senhorial da mãe do pai. Uma senhora de origem inglesa, muito rica e possuidora de vasta biblioteca.
Al Berto começou a ler cedo e com prazer, pois. Com os irmãos e os amigos cometeu todos os exageros da juventude. Frequentou uma escola primária pública e foi aluno interno de um colegio privado.
Apaixonado pelo desenho e pela pintura frequentou, a partir de 1965, a Escola Artística António Arroio, em Lisboa, antes de frequentar o Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Em 1967, com 19 anos, exilou-se em Bruxelas. Primeiro, como estudante – frequentou o curso de pintura monumental na École Nationale Supérieure d`Architecture et des Arts Visuels – e, depois, como refugiado político, para fugir à incorporação militar e à Guerra Colonial.
Al Berto viveu intensamente o Maio de 68, que abalou a França e o Mundo. Viveu, então, dias intensos. E viajou por Espanha, pela Grécia, pelos Países Baixos, pela Inglaterra e pela Itália. Tais viagens, que registou em diário, ditaram o fim do artista plástico e o nascimento do autor literário.
“Como a pintura é muito demorada de executar, requer outros meios, mais caros, à escrita basta o papel e caneta, começou assim a minha mudança para a literatura”, justificou, mais tarde.
A partir dessa ruptura com a pintura e com o desenho, partiu o seu nome em dois: Al Berto. Diria mais tarde: “Senti necessidade de abrir a brecha com uma coisa que era muito minha e abri o nome ao meio, uma cisão num determinado percurso. Foi a maneira de não esquecer esse abismo.”
Al Berto regressou à sua “casa” alentejana, em Novembro de 1975. Em Sines, abriu uma livraria/editora a que deu o nome de “Tanto Mar”. E publicou livros seus e de outros autores, marginalizados pelo sistema editorial vigente.
A livraria/editora sucumbiu um ano após a sua fundação. Passou, então, a viver entre Sines e Lisboa, buscando a paz que nunca alcançaria. Em 1989, questionado por Francisco José Viegas – para a revista Ler (edição n.º 5) – sobre qual a razão que o levava a dividir-se entre as duas cidades, respondeu assim: “A noite tem a ver com o Genet. A fuga, com Rimbaud. O lado místico com Bataille. Sade, com o imprevisto. O lado excessivo (as drogas, o álcool, embora esteja muito calmo desde há dez anos…), com Baudelaire. Um dia vou para um convento. Visto um hábito branco, muito branco, e entro para um convento. Vai ser o meu futuro: para um convento que tenha uma escola de canto gregoriano…”
A morte prematura, em 1997, impediu-o de cumprir tão desejada rebeldia.
Al Berto publicou:
E, como poeta reconhecido, Al Berto foi homenageado. Em 1988, recebe o Prémio Pen Club de Poesia, pela obra “O Medo”.
A 10 de Junho de 1992, foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
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Fontes consultadas: DGLAB/Livro e Wikipédia.
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20/06/2024