Uma razão para as coisas do Mundo
Os resultados de um estudo recente a fósseis de duas espécies diferentes de animais que existiram nos últimos milhões de anos antes de um asteróide ter colidido com a Terra, há 66 milhões de anos, parecem trazer algumas respostas sobre como viviam os pterossáurios. Estamos a falar de uma ordem extinta da classe Reptilia, que corresponde aos répteis voadores da Era Mesozóica – a segunda das três grandes eras geológicas, conhecida por Idade dos Dinossáurios –, a qual terá durado entre 250 milhões a cerca de 65 milhões de anos, na tábua cronológica que nos antecede.
Atendendo à pesquisa desenvolvida na Universidade de Michigan e em que se procurou recuar no tempo através de fósseis encontrados na Jordânia, os dados científicos reforçam a ideia de que os pterossáurios “eram mesmo gigantes répteis que voavam”, como escreve o jornalista Tiago Ramalho. “Mais do que isso, estes animais (extintos há 66 milhões de anos) não tinham apenas uma técnica de voo: uns planavam, como as aves de rapina fazem hoje, outros batiam as asas, como a maioria das aves modernas”, destaca o jornalista do Público, com base no trabalho conduzido pela equipa da paleontóloga norte-americana Kierstin Rosenbach, que também envolve especialistas da Jordânia e da Arábia Saudita.
O que leva os cientistas a procurarem saber como os pterossáurios teriam batido as suas asas para voar e a quererem confirmar que, apesar da sua envergadura (de cinco a 12 metros), esses antigos gigantes praticavam um voo como muitos pássaros da nossa actualidade, enquanto outros voavam como abutres?
O motivo de não conhecermos ou de ainda não terem sido descobertas muitas espécies de seres – sejam eles fungos ou uma das supostas 20 mil espécies do reino protista que evoluíram a partir de algas unicelulares, entre outros viventes que partilham este planeta connosco – justifica que não lhes atribuamos qualquer importância?
Numa época em que há quem sente a necessidade de pesquisar as formas como os pterossáurios chegaram aos céus, também se verifica que a extinção de inúmeras espécies dos cientificamente diferenciados reinos biológicos constitui um dos nossos maiores problemas de sustentabilidade.
Há quase duas décadas (a 22 de Maio de 2007), o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmava, numa nota oficial sobre o Dia Internacional da Diversidade Biológica, que a biodiversidade se estava a perder “num ritmo inédito”, observando a gravidade crescente do aquecimento global, o desmatamento da Amazónia e de outras regiões florestais, bem como as múltiplas fontes de poluição e o aumento demográfico mundial.
“A resposta global a esses desafios precisa [de] acontecer muito mais rápido, e com muito mais determinação em todos os níveis – global, nacional e local”, disse o sul-coreano Ban Ki-moon. No ano em que iniciava o seu mandato de secretário-geral da ONU, já se constatava que as actividades humanas “varriam” da Terra “três espécies animais ou vegetais por hora”, sendo então considerada, pelas Nações Unidas, como “a pior onda de extinções desde a dos dinossáurios”.
Entretanto, pelo que nos é divulgado e diversamente ocultado, nem sequer nos surpreendemos com o facto de os homens e as mulheres que, hoje, coabitam neste planeta ainda não terem chegado a acordo para superarem o desafio de reduzir a sua pegada ecológica, combatendo a poluição e as drásticas alterações climáticas, de maneira a preservar o equilíbrio do ecossistema natural.
Ao ter concluído a leitura de um romance de escrita simples, mas muito impactante sobre o sentido da vida e acerca do nosso confronto com a mortalidade, fazendo-nos, realmente, pensar no que vale e no que não vale a pena, no tempo de que dispomos, recorro à interrogação que fundamenta o título do livro do japonês Genki Kawamura: “Se os gatos desaparecessem, o que mudaria no mundo?”
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Nota:
O presente artigo (na versão de crónica) foi publicado na edição de ontem (domingo, 8 de Setembro) do Diário de Coimbra, no âmbito da rubrica “Da Raiz e do Espanto”.
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09/09/2024