Urano, o gigante de gelo: o mistério que gira de lado

 Urano, o gigante de gelo: o mistério que gira de lado

Urano é um dos quatro planetas gasosos do Sistema Solar. É caracterizado pela sua coloração azulada e pelos seus anéis opacos. (static.mundoeducacao.uol.com.br)

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Urano capturado pela Voyager 2. A sua aparência pálida e esmaecida
deve-se a uma camada de névoa acima das nuvens. (pt.wikipedia.org)

Urano é um dos planetas mais singulares do nosso sistema solar. Distante e enigmático, este gigante de gelo, o sétimo planeta a partir do Sol, é um mundo de mistérios e curiosidades. Embora seja menos conhecido que os seus vizinhos Júpiter e Saturno, o planeta Urano tem características que o tornam fascinante para astrónomos e entusiastas do espaço.

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A descoberta de um mundo azul-esverdeado

Uma réplica do telescópio com o qual William Herschel descobriu
Urano, em exposição no Museu Herschel de Astronomia em Bath, no
Reino Unido. (Créditos de imagem: Mike Young – en.wikipedia.org –
skyatnightmagazine.com)

O planeta Urano foi o primeiro planeta a ser descoberto com a ajuda de um telescópio. Em 1781, o astrónomo britânico William Herschel, que a princípio pensou ter encontrado um cometa, identificou o objecto. Inicialmente, ele baptizou-o Georgium Sidus (“Estrela de Jorge”), em homenagem ao rei Jorge III. A comunidade científica, no entanto, optou por um nome mais alinhado com a tradição mitológica, e o planeta foi renomeado Urano, em homenagem ao deus grego do céu, pai de Saturno.

Urano tem uma coloração azul-esverdeada suave, visível através de telescópios mais potentes. Essa tonalidade única é resultado da presença de metano na sua atmosfera. O metano absorve a luz vermelha e reflete a luz azul, criando o tom característico do planeta.

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Uma rotação deitada

Sir William Herschel: o astrónomo que descobriu Urano.
(skyatnightmagazine.com)

A característica mais intrigante do planeta Urano é a sua inclinação axial extrema, em cerca de 98 graus. Enquanto a maioria dos planetas tem uma rotação semelhante à de um pião, Urano “rola” pelo espaço, girando de lado. Essa inclinação é tão acentuada que, em determinados momentos da sua órbita, um dos seus pólos fica totalmente voltado para o Sol, recebendo luz durante anos, enquanto o outro mergulha na escuridão.

Os cientistas ainda não têm certeza do que causou essa inclinação. A teoria mais aceite é a de que um objecto (ou corpo celestial) do tamanho da Terra colidiu com o planeta Urano, há milhares de milhões de anos, alterando drasticamente a sua rotação. Essa colisão monumental teria não apenas inclinado o planeta, mas também teria moldado o sistema de luas e de anéis que o orbitam.

Urano está inclinado em 97,77°, o que significa que o eixo de rotação do planeta é aproximadamente paralelo ao plano do Sistema Solar. (Créditos de imagem: Vito Technology – starwalk.space)
Cientistas revelaram as verdadeiras cores dos planetas Urano e
Neptuno. (Créditos de imagem: Universidade de Oxford – BBC –
g1.globo.com)

Um gigante de gelo com ventos furiosos

O planeta Urano é classificado como um “gigante de gelo”. Embora a palavra “gelo” possa evocar uma imagem de água congelada, neste contexto, ela se refere a compostos voláteis como água, metano e amoníaco. A atmosfera de Urano é composta principalmente por hidrogénio, hélio e metano. No seu interior, há um vasto oceano de fluidos superdensos que atinge temperaturas e pressões altíssimas.

A atmosfera de Urano é relativamente calma em comparação com a de Neptuno, mas isso não significa que não haja actividade. Na verdade, os ventos no planeta Urano podem atingir velocidades de até 900 quilómetros por hora, movimentando nuvens de metano em vastas faixas.

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Os anéis e as luas de Urano

O planeta Urano possui um sistema de anéis escuro e ténue, descoberto em 1977. Ao contrário dos anéis de Saturno, que são brilhantes e compostos de gelo, os anéis de Urano são de cor escura, sugerindo que são formados por material rochoso ou gelo escurecido pela radiação. No total, o planeta Urano tem 13 anéis conhecidos e 27 luas.

O planeta Urano possui vários satélites artificiais que foram
baptizados com nomes de personagens da literatura mundial.

(mundoeducacao.uol.com.br)

As luas de Urano recebem nomes de personagens de obras de William Shakespeare (1564-1616) e de Alexander Pope  (1688-1744), como Titânia, Oberon, Ariel e Miranda. Miranda, em particular, é uma das mais fascinantes, com uma superfície que parece ter sido “remendada” a partir de fragmentos, indicando uma história geológica agitada.

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A exploração de Urano

A única sonda a visitar Urano foi a Voyager 2 da NASA (National Aeronautics and Space Administration), em 1986. A sonda fez um sobrevoo rápido, enviando para a Terra as primeiras imagens detalhadas do planeta, bem como das suas luas e anéis.

(Créditos de imagem: NASA Hubble Space Telescope – Unsplash)

As descobertas da Voyager 2 transformaram o nosso conhecimento sobre o planeta Urano, mas ainda há muitas perguntas sem resposta. Uma futura missão dedicada a Urano está a ser ponderada, com o objetivo de aprofundar a nossa compreensão da sua atmosfera e magnetosfera, assim como as razões da sua rotação deitada.

Urano continua a ser um dos mundos mais inexplorados do nosso sistema solar. A sua beleza singular e as suas características enigmáticas lembram-nos a vastidão e a diversidade do cosmos, inspirando-nos a continuar a nossa busca por conhecimento. A curiosidade é, ela própria, um cosmos por descobrir.

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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

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28/08/2025

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António Piedade

Bioquímico e comunicador de Ciência. Publicou centenas de artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de diversos livros de divulgação de Ciência, entre os quais se destacam “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura), ”Caminhos de Ciência”, com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011) e “Diálogos com Ciência” (Trinta Por Uma Linha, 2019 – Plano Nacional de Leitura), também prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, a exemplo do já muito popular “Ciência às Seis”, no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.

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