VI Festival de Teatro José Guimarães
O teatro nas suas diversas manifestações: espectáculos, colóquios, festivais, residências artísticas, formação, e outros, é, junto da música e da dança, uma das forças vivas da Cultura em Portugal.
Depois do FITEI 2024 (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), o festival mais antigo de teatro internacional no nosso país, surgiu, de 4 a 18 de Julho, o 41.º Festival de Almada, o segundo e mais importante festival de teatro que, neste ano, consagrou o espectáculo “A Tempestade”1, como o mais belo da temporada. Ou seja, esta peça de William Shakespeare, pela Compagnia Marionettistica Carlo Colla & Figli, de Itália, foi eleita como “espectáculo de honra”, pelo público desta edição do Festival de Almada. Refira-se que já tive a oportunidade de assistir a esta peça teatral, nos anos 80, no teatro municipal de artes cénicas Schauspiel Frankfurt, na região do Reno-Main. Trata-se de um belíssimo espectáculo de marionetas que se caracteriza pela dramaturgia de Eduardo De Fillipo, a partir da peça de William Shakespeare, numa narrativa feita pelo único actor (Eduardo De Fillipo), que dá vida a todas as personagens.
Entretanto, já aconteceu, nos dias 14 e 15 de Junho, na Tanoaria Josafer, em Esmoriz, a 8.ª edição do Festival Internacional de Artes Performativas, intitulada “TAN TAN TANN”, que apostou no combate ao desaparecimento da arte ancestral da tanoaria, característica de zonas vinícolas.
A iniciativa, que juntou a arte da tanoaria com as artes performativas contemporâneas, resultou do esforço conjunto entre a companhia Imaginar do Gigante, com direcção artística de Pedro Brandão, e a Câmara Municipal de Ovar, enquanto entidade organizadora e promotora do evento.
Também, em Julho, durante 12 dias foram apresentados 12 espectáculos diferentes, no âmbito da 43.ª edição de Fazer a Festa– Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude, com quinze sessões na Quinta da Caverneira e uma extensão na Feira do Livro da Maia. Neste festival organizado pelo Teatro Art’Imagem, estiveram presentes 10 companhias nacionais (Teatro Extremo, Universo Paralelo, Teatromosca, Teatro Art´Imagem, Teatro Regional da Serra de Montemuro, Palmilha Dentada, ESTE, Krisálida, Encerrado para Obras e Teatro das Beiras) e quatro estrangeiras (Karlik, Thomas Back, Saaraci Coletivo Teatral, La Tête Noir).
Contou ainda com um concerto, uma “Hora do Conto”, um espaço do livro com títulos para a infância e juventude, uma exposição e uma abordagem relativamente à iniciativa Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público, uma residência artística, uma oficina de teatro para crianças e um debate com a participação de nomes relevantes no desenvolvimento de projectos em Portugal e no estrangeiro; um concurso de dramaturgia aberto à comunidade; e um acompanhamento crítico ao festival com uma mesa de discussão final.
Com direcção artística desta companhia está, igualmente, programada, de 2 a 11 de Outubro de 2024, uma nova edição do Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia. Lembro que a primeira edição do festival foi realizada em 1994 e que, a partir de 1996, passou a ser anual. Este festival realiza-se na primeira quinzena de Outubro, no Fórum da Maia e em espaços adjacentes. É uma iniciativa da Câmara Municipal da Maia (pelouro da Cultura) com direcção artística de José Leitão e produção do Teatro Art’Imagem.
O teatro cómico é, aqui, apresentado em todas as suas dimensões e disciplinas: a comédia, o teatro de rua, a mímica, a animação, stand-up comedy, o espaço musical, o novo circo, marionetas e fantoches, café-teatro e o clown e traz à cidade da Maia de 25 a 30 companhias, para mais de 10 mil espectadores.
No Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia, além de companhias portuguesas, já participaram companhias vindas de países tão diferentes como a Espanha (nomeadamente, da Galiza, de Madrid, da Catalunha, de Leão e do País Basco), a França, a República Checa (actual Chéquia), a Itália, a Bélgica, a Suíça, a Inglaterra (Reino Unido), o Canadá, os Estados Unidos da América, a Argentina, o Brasil, Cabo Verde, a Alemanha, a Austrália, etc. Este é o único festival exclusivamente dedicado ao teatro cómico que se realiza em Portugal.
Proximamente, de 11 a 20 de Outubro, vai decorrer o FIMP 24 – Festival Internacional de Marionetas do Porto, do qual já destacamos “Sangue, Suor e Picos”, uma co-criação de Alma d’Arame e Baal 17, que narra a história poética e surreal de Sombra-Deliciosa, um cacto que vive pacificamente no deserto do Colorado, contemplando as cores das rochas ao longo do dia.
Por outro lado, a quarta edição de “O Meu Primeiro FITEI” terá início já em Outubro. Como explica a organização, desde 2020, o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) “organiza de forma ininterrupta um pequeno festival de Inverno dedicado a públicos mais jovens, e também a todos aqueles que nunca entraram num teatro ou que contam pelos dedos de uma mão as vezes que foram ao teatro”.
Voltando ao poema inicial, com certeza, o público reconhece a letra na voz de Mariza, mas talvez poucos conheçam o autor, José Guimarães2, considerado como um dos maiores letristas de canções em Portugal.
Este poeta, letrista e dramaturgo é, de facto, homenageado, há seis anos, num festival de teatro que leva o seu nome e que decorre, anualmente, nos meses de Setembro a Dezembro.
Um festival que visa confrontar diversas propostas e experiências artísticas, assim como fomentar o espírito crítico e abrir canais de debate entre artistas e públicos.
Na Tuna Musical de Santa Marinha – instituição que começa por comemorar o seu centenário com uma caminhada na tarde do próximo domingo (15 de Setembro, pelas 16h00), a que se seguirá (às 21h00) uma cerimónia e o hastear da bandeira evocativa dos 100 anos, no Salão Nobre e na Rua Cândido dos Reis –, merece destaque a sexta edição do Festival internacional de Teatro José Guimarães, programada até 7 de Dezembro, estando prevista a apresentação, já nos dias 20 e 21 de Setembro (às 21h30), da peça “A Triste História dos Cangalheiros de Vale Mortiço”, com texto e encenação de Inês Sincero e Tomé Nunes Pinto, sendo produzido pela Tuna Musical de Santa Marinha. Este espectáculo constitui, verdadeiramente, uma reposição, porque tinha feito parte da programação da quarta edição do mesmo festival.
É, pois, um festival de muitas evocações e homenagens.
No ano do centenário da sua casa-mãe, o Festival de Teatro José Guimarães tem como protagonistas homens, mulheres ou acontecimentos nacionais de grande relevo, que, pela sua dimensão e exemplo, percurso profissional, prestígio ou obra, justifiquem uma justa homenagem.
O seu espectáculo de abertura celebra o actor (e a actriz), o elo principal de toda a cadeia de valores da acção teatral, juntando, no mesmo palco, amadores e profissionais emergentes, dando corpo a uma actividade artística que aborda um tema muito sério… a brincar. E, uma semana depois (a 5 de Outubro, pelas 21h30), com “O Inspector Geral”, de Nicolai Gogol, este festival recorda um Homem de Teatro de espírito irrequieto e criativo: Manuel Ramos Costa, que também encenou esta peça. Fundador e encenador da Contacto – Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar, à qual dedicou a vida inteira, Manuel Ramos Costa venceu vários prémios, também como escritor, pintor e dramaturgo, além de ter sido sempre muito activo no associativismo vareiro.
O Festival de Teatro José Guimarães foi idealizado pelo antigo produtor do Teatro Nacional São João, Salvador Santos, tendo sido acolhido na Tuna de Santa Marinha, como sede de representação, contando com os apoios autárquicos locais. Refira-se que esta iniciativa constitui, igualmente, um espaço de divulgação das escolas de formação teatral da cidade do Porto, nomeadamente da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), Balleteatro – Escola Profissional e da Escola Superior de Arte Dramática da Extremadura (ESAD), de Cáceres (Espanha).
Por fim, informo que a programação pode ser consultada na página do Facebook da Tuna, que os preços das entradas são simbólicos e que, para um novo espectador, será uma experiência e uma enriquecedora oportunidade para conhecer uma colectividade centenária, sediada no coração histórico de Vila Nova de Gaia.
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Notas:
1 – “La tempesta” (“A tempestade”) – Texto de William Shakespeare, na versão traduzida por Eduardo de Filippo, com encenação de Eugenio Monti Colla, da Compagnia Marionettistica Carlo Colla & Figli (da Itália). “La tempesta” é a produção que usa a histórica tradução da última peça de Shakespeare para a língua napolitana do século XVII, realizada em 1983 (edição de 1984 / Einaudi) pelo grande homem do teatro e do cinema italianos Eduardo De Filippo (1900-1984). Esta foi também a sua derradeira criação.
2 –Como o recorda Maria de Lourdes dos Anjos, em 1 de Agosto de 2014, no jornal ETC.eTal, no artigo intitulado “José Guimarães: Quantos o cantam? Quem o conhece?”, o “poeta popular, letrista, músico, escritor, autor e encenador teatral José Guimarães” nasceu no Porto, em 20 de Agosto de 1930, vivia em Vila Nova de Gaia há muitos anos e considerava-se gaiense por opção. “Inscreveu-se na SPA [Sociedade Portuguesa de Autores] em 5 de Dezembro de 1950 e escreveu cerca de dois milhares de canções, mas a sua actividade criativa não se ficou por aí”. Enquanto verdadeiro “autodidacta das actividades culturais”, como um dia lhe chamaram, começou cedo nas “lides” artísticas: “com 12 anos já inventava pequenas revistas que eram interpretadas por crianças como ele, que moravam na sua rua”. Na mesma nota biográfica, Maria de Lourdes dos Anjos (com base na Wikipédia) acrescenta que José Guimarães estudou, até aos 17 anos, na Escola Industrial Infante D. Henrique, onde concluiu o curso complementar dos liceus.
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12/09/2024