Voltar a um lugar onde fomos felizes

 Voltar a um lugar onde fomos felizes

Teatro Municipal Baltazar Dias (TMBD), local no qual nasceu a ATEF.

A frase pode soar como cliché ou como ideia muito repetida e lamechas, mas é verdade: fui muito feliz, durante quase cinco anos, na cidade do Funchal, no arquipélago da Madeira, enquanto director artístico do Teatro Experimental do Funchal.

E, agora, relembro momentos vividos por motivo da minha recente ida ao Funchal, a convite da Associação do Teatro Experimental do Funchal (ATEF), no âmbito do lançamento do livro comemorativo dos 45 anos de vida desta associação, também integrado nas celebrações do Dia Mundial do Teatro.

Teatro Municipal Baltazar Dias (allaboutportugal.pt)

Os nossos destinos cruzaram-se pelo empenhamento do então chefe de serviços da Comissão de Actividades Culturais do Teatro Municipal Baltazar Dias (Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal – CMF), Fernando Nascimento, e do actor e saudoso amigo Carlos Wallenstein, que era, na altura, director dos Serviços Culturais da Fundação Calouste Gulbenkian.

Roberto Merino esteve presente no lançamento do livro “Teatro
Experimental do Funchal – 45 anos de Teatro”. (dnoticias.pt)

A minha a passagem pela Madeira foi tão significativa que marcou uma época da minha juventude e o período, já de adulto, em que começava a esboçar-se o território da encenação, da dramaturgia e da encenação, também vocacionada, mais tarde, para o ensino superior artístico.

Ter ajudado a criar uma estrutura profissional que ainda persiste e luta é um sentimento muito nobre e generoso. Com a colaboração de todos, construímos um projecto que se lançou no futuro. Por isso, julgo que deveríamos mencionar todos aqueles que nos ajudaram nesses primeiros passos: o referido Fernando Nascimento, o então presidente da CMF (Virgílio Pereira), o fotógrafo e artista plástico italiano Gino Romoli, a poetisa Maria Aurora, os jornalistas Tolentino Nóbrega (do Público e Diário de Notícias/Madeira) e António Jorge Andrade, os escultores Maurício Fernandes e António Rodrigues, o músico Artur Andrade, o grupo de intervenção cultural Algozes (hoje, Xarabanda), João Carlos Nunes Abreu (antigo secretário regional do Turismo e Cultura do Governo da Região Autónoma da Madeira), o falecido Carlos Lélis (antigo secretário regional da Educação e Cultura) e, sobretudo, os meus primeiros actores (a Betty, o António Plácido, o Eduardo Luiz, o António Ascensão e tantos outros…) que usaram as máscaras e interpretaram as minhas personas, que lhes fui entregando paulatinamente.

Grupo musical Xarabanda. (© Câmara Municipal do Funchal)

O Teatro é uma arte de grupo e esse grupo persiste – agora, como atef, em poucas letras (ou em letras pequenas, para identificar esta associação cultural sem fins lucrativos) – e enquadra juridicamente o Teatro Experimental do Funchal, em frase longa e amável…

A Associação Experimental do Funchal (ATEF) iniciou o seu percurso em 1975, nos serviços culturais da Câmara Municipal do Funchal, então denominada Grupo Experimental de Teatro do Funchal (GEFT), por iniciativa do então chefe de serviços da Comissão de Actividades Culturais do Teatro Municipal Baltazar Dias1.

Agradeço a todos os que me ajudaram nos quase cinco anos em que estive a bordo daquela nave de loucos, daquele navio náufrago que buscava um porto seguro e o encontrou sob o nome insigne do dramaturgo Baltazar Dias2.

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Notas:

1 – Consultando a Wikipédia, ficamos a saber que Baltazar Dias nasceu na ilha da Madeira, no século XVI (desconhecendo-se a data e o local do seu nascimento), e que foi poeta, dramaturgo, romancista e escritor de prosas. Viveu durante os reinados de D. Manuel I e de D. João III, tendo chegado ao reinado de D. Sebastião I, época em que Portugal passou por mudanças muito significativas, tornando-se Lisboa a capital do Império, levando a uma grande produção artística nessa altura.

(Direitos reservados)

Os seus autos e trovas de tipo burguês tiveram grande aderência e as pessoas compravam os seus folhetos. Porém, as obras deste dramaturgo foram julgadas como pertencentes ao património popular, por oposição à tradição erudita, de audiência refinada, produzida em ambiente de cultura superior. É justamente à posição contrastiva entre o carácter popular e o culto ou erudito, adoptada por muitos estudiosos ao longo dos séculos, que se deve em grande parte o desconhecimento e os poucos trabalhos sobre o autor, como refere Maria de Lurdes Correia Fernandes, que, em 2004, verificava que os últimos estudos sobre Baltazar Dias tinham cerca de 20 anos, informa ainda a Wikipédia.

2 – Como não existem imagens de Baltazar Dias, o amigo e escultor Anjos Teixeira idealizou este relevo para o átrio do TMBD, no qual vemos o autor madeirense ditando as suas peças a uma jovem, pois, conta-se que o dramaturgo era cego.

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10/04/2023

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Roberto Merino

Roberto Merino Mercado nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas tem-se dedicado ao teatro, desde a infância. Depois do Golpe Militar no Chile, exilou-se no estrangeiro. Inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade do Porto (Portugal). Dirigiu artisticamente o Teatro Experimental do Porto (TEP) até 1978, voltando em mais duas ocasiões a essa companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental do Funchal. Desde 1982, dirige o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto. Colabora também como docente na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. E foi professor da Balleteatro Escola Profissional durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

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