Xenofobia? Tento na língua!

 Xenofobia? Tento na língua!

Teatro Nacional São João, no Porto. (Wikicommons)

Victor Hugo Pontes (rdpinternacional.rtp.pt)

Citado1 por Victor Hugo Pontes, o novel director artístico do TNSJ (Teatro Nacional de São João), Pedro Sobrado, o presidente do Conselho de Administração da mesma instituição, terá considerado “xenofobia artística” as críticas feitas por quem discordou da escolha do dito director. Por ter sido, primeiro, a de um realizador de cinema que, depois, renunciou; e, em segunda escolha, o citado novel, um coreógrafo.

Victor Hugo Pontes foi o candidato escolhido para assumir
funções de director artístico do Teatro Nacional São João para o
quadriénio de 2025-2028. (Créditos fotográficos: Estelle Valente /
e-cultura.pt)

Esta “xenofobia artística”, num assunto em que nunca me pronunciei – até por ser parte completamente desinteressada – terá a ver com o facto de o regulamento do concurso para a escolha expressar especificamente “um fazedor de teatro”; e um cineasta ou um coreógrafo o não serem. Mas, por mim, pode mesmo ser um tanoeiro ou um ciclista da Volta a Portugal. O que me choca é a facilidade (wokista de gabinete?) com que se usa a palavra “xenofobia” a despropósito.  É o abuso dos termos que os relativiza naquilo que de grave são.

“C’est un petit four” para acompanhar o café amargo da menorização dos crimes fóbicos. Quem traz o “sim-senhor” sempre alapado em poltronas da administração pública não fará a mínima ideia do que é uma vítima de xenofobia, de racismo ou de homofobia. É tão despropositado como dizer que estas palavras representam uma tentativa de genocídio do conselho de administração do TNSJ.

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Nota:

1 – Em entrevista ao jornal Público, na edição de 11 de Outubro de 2025, sob o título “Victor Hugo Pontes: ‘O Teatro Nacional São João tem de ser muito mais um reflexo do mundo’ ”.

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Nota do Director:

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16/10/2025

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Jorge Castro Guedes

Com a actividade profissional essencialmente centrada no teatro, ao longo de mais de 50 anos – tendo dirigido mais de mil intérpretes em mais de cem encenações –, repartiu a sua intervenção, profissional e social, por outros mundos: da publicidade à escrita de artigos de opinião, curioso do Ser(-se) Humano com a capacidade de se espantar como em criança. Se, outrora, se deixou tentar pela miragem de indicar caminhos, na maturidade, que só se conquista em idade avançada, o seu desejo restringe-se a partilhar espírito, coração e palavras. Pessimista por cepticismo, cínico interior em relação às suas convicções, mesmo assim, esforça-se por acreditar que a Humanidade sobreviverá enquanto razão de encontro fraterno e bom. Mesmo que possa verificar que as distopias vencem as utopias, recusa-se a deixar que o matem por dentro e que o calem para fora; mesmo que dela só fique o imaginário. Os heróis que viu em menino, por mais longe que esteja desses ideais e ilusões que, noutras partes, se transformaram em pesadelos, impõem-lhe um dever ético, a que chama “serviços mínimos”. Nasceu no Porto em 1954, tem vivido espalhado pelo Mundo: umas vezes “residencialmente”, outras “em viagem”. Tem convicções arreigadas, mas não é dogmático. Porém, se tiver de escolher, no plano das ideias, recusa mais depressa os “pragma” de justificação para a amoralidade do egoísmo e da indiferença do que os “dogma” de bússola ética.

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