Cara editora Maria do Rosário Pedreira,

Uma vez no Porto, na apresentação de um livro de Mário Cláudio, perguntei-lhe se o papel de um editor de um escritor é idêntico ao de um editor de uma secção de um jornal relativamente aos jornalistas que com ele trabalhem. 

Julgo que me identifiquei como um jornalista que já tinha sido editor de algumas secções do Jornal de Notícias mas não terei dito que um dos meus sonhos era, como ainda é, ser escritor, concluindo algumas narrativas ficcionadas, quase autobiográficas, que vivem há décadas na minha cabeça.

Tampouco confessei o sonho de poder ser editado, como escritor, pela Maria do Rosário Pedreira, cuja poesia admiro. Mesmo sem saber, muito bem, como é que um editor orienta um escritor. Sei que José Cardoso Pires ofereceu como prenda de casamento a Nelson de Matos (que o editou na Moraes e na Dom Quixote) toda a documentação que tinha recolhido para escrever o Alexandra Alpha, o que prova o bom relacionamento que pode estabelecer-se entre um escritor e o seu editor.

Zeferino Coelho, que foi editor de José Saramago, disse no ano passado na Alemanha, quando homenageado na Feira do Livro de Leipzig, que tinha a melhor profissão do mundo, mas também deixou  dúvidas sobre a importância do papel dos editores dizendo mesmo, cito, temer um pouco que eles, quando alvo de homenagens, pudessem ocupar o lugar que, por direito, caberá aos autores.

Se é certo que um editor pode deixar escapar uma obra prima da literatura, como muitos editores costumam academicamente admitir, também é certo que muitos escritores nunca seriam reconhecidos como bons escritores se não tivessem o apoio de bons editores.

Eu vou mais longe. Um candidato a pequeno médio escritor, como eu gostaria de ser, beneficiaria muito se pudesse contar com o apoio de uma editora como a Maria do Rosário Pedreira é. Ou como julgo que a Maria do Rosário Pedreira será. Razão mais do que suficiente para lhe enviar este postal.

Com admiração,

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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