Querido Luís Anastácio

Este mês, voltei a deixar o meu avião particular no hangar e vim aqui a este sítio fazer uma coisa. O sítio é muito acolhedor e a coisa que vim cá fazer é muito agradável. Aqui estou também muito bem acompanhado, entre velhos e bons amigos e gente nova de quem estou a gostar. 

Aprendi contigo a escolher sempre um bom sítio onde seja imperioso ir fazer uma coisa boa. E quando acertamos no que fazer e onde, podemos proclamar aos quatro ventos e em todas as redes sociais onde realmente estamos e o que estamos a fazer – eu estou aqui, neste sítio, a fazer uma coisa boa. Assim, com esta clareza.

Não me refiro a não-lugares. Um não-lugar é, quase sempre, um sítio menos bom. Uma vez, por razões técnicas, aterrei num aeroporto de uma cidade que sempre me atraiu mas sem poder sair do avião que, resolvida a questão técnica, retomou o voo para o destino original. Foi o primeiro não-lugar onde, conscientemente, estive. Não gostei.

Na verdade eu gosto é de ir a um sítio onde possa fazer uma coisa. A um sítio lindo, fazer uma coisa boa. Quando estive sem estar naquele aeroporto daquela cidade que continua a atrair-me, senti-me quase como certos oradores que falam muito mas não dizem nada. Já deves ter ouvido alguns oradores deste calibre.

Pior não-lugar do que um aeroporto onde fazemos escala sem sair do avião só mesmo um túnel ferroviário onde o comboio em que viajamos para durante uma hora e o maquinista resolve apagar as luzes do comboio para poupar energia. Dizem. Na verdade não me lembro de ter estado tanto tempo num não-lugar, inesquecível, destes.

Será que a Internet, superpotência do ciberespaço, é um não-lugar? A propósito, sabes que está a nascer uma nova rede social – “Clubhouse” – onde só há conversas em directo? Uma rede sem fotografias, sem textos e sem quaisquer registos. Só voz em directo. Os membros do clube escolhem, pelo tema anunciado, a sala onde querem botar faladura e pronto. Parece um belo sítio mas para lá entrar é preciso ter iPhone e ser convidado.

Deduzo que os convites possam ser feitos por qualquer membro do clube. Se um dia entrares para o “Clubhouse” não te esqueças de mim. Eu não me esquecerei e de ti. Entretanto, estou certo, essa rede também irá abrir para “androides” como nós.

Bem, por hoje é tudo. Fica bem. Eu estou naquele sítio a fazer aquela coisa. Um grande abraço e um beijinho à Rosarinho.

Júlio Roldão

P.S. Quando esta coisa pandémica acabar também podemos marcar um encontro para um copo e duas de treta na tua ou na minha casa.

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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