Uma destas coisas para ser notícia

 Uma destas coisas para ser notícia

(Imagem gerada por IA – pixlr.com/image-generator)

Sento-me defronte da televisão. Percorro os canais nos noticiários. Não encontro um outro lado onde, por mais negra que seja a realidade maioritariamente, também exista uma criança que nasceu, um jardim arranjado, um médico que salvou um paciente, dois namorados que sorriam num banco de jardim, um avô com a neta pela mão a caminho da escola, um dono de um café que disse jovialmente “Bom dia!”, um jovem que ajudou uma idosa a atravessar a rua, um cão a dar à cauda quando avistou o dono, uma aluna que estudou sem fastio a lição do dia, um rapaz que se levantou no metropolitano para dar lugar a uma senhora cheia de sacos e ofegante, um engenheiro que concluiu os cálculos exactos para uma obra mais complexa, um advogado que salvou um inocente da cadeia, um polícia que admoestou com modos um transeunte distraído, o rio profundo da minha cidade, as serras do Gerês, o avião que aterrou sem complicações, uma junta de bois (ainda) a beber de um logradouro, a luz eléctrica no conforto do lar, um poema escrito, o “plié” perfeito de uma bailarina, um jogo de Sueca entre amigos, uma maionese que não destalhou, um karateca a fazer uma “kata”, uma bola que corre entre pés de miúdos felizes, a Lua a nascer, um lago com um casal de cisnes… Ou não haverá, ao menos uma vez, uma destas coisas para ser notícia?

(pt.quizur.com)

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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22/09/2025

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Jorge Castro Guedes

Com a actividade profissional essencialmente centrada no teatro, ao longo de mais de 50 anos – tendo dirigido mais de mil intérpretes em mais de cem encenações –, repartiu a sua intervenção, profissional e social, por outros mundos: da publicidade à escrita de artigos de opinião, curioso do Ser(-se) Humano com a capacidade de se espantar como em criança. Se, outrora, se deixou tentar pela miragem de indicar caminhos, na maturidade, que só se conquista em idade avançada, o seu desejo restringe-se a partilhar espírito, coração e palavras. Pessimista por cepticismo, cínico interior em relação às suas convicções, mesmo assim, esforça-se por acreditar que a Humanidade sobreviverá enquanto razão de encontro fraterno e bom. Mesmo que possa verificar que as distopias vencem as utopias, recusa-se a deixar que o matem por dentro e que o calem para fora; mesmo que dela só fique o imaginário. Os heróis que viu em menino, por mais longe que esteja desses ideais e ilusões que, noutras partes, se transformaram em pesadelos, impõem-lhe um dever ético, a que chama “serviços mínimos”. Nasceu no Porto em 1954, tem vivido espalhado pelo Mundo: umas vezes “residencialmente”, outras “em viagem”. Tem convicções arreigadas, mas não é dogmático. Porém, se tiver de escolher, no plano das ideias, recusa mais depressa os “pragma” de justificação para a amoralidade do egoísmo e da indiferença do que os “dogma” de bússola ética.

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