A balança e o caso das palavras que se esvaíam

(Créditos fotográficos: Piret Ilver – Unsplash)
Nos últimos dias, tenho tido dificuldade de escrever. Não só a escrita de crónicas, textos académicos ou uma postagem nas redes sociais, mas qualquer mensagem demora a tomar forma. Sinto que me faltam as palavras, o ar e, por vezes, a esperança. Fico a pensar: escrever sobre o quê? Ao mesmo tempo em que há tanto para se dizer, poucas páginas para se escrever e muito para se sentir.
Também há a dúvida: será que alguém irá “perder” tempo a ler o que eu escrevo? Estamos na “era do TikTok”. É inegável, quase impossível não sermos impregnados1 com a liquidez e a fluidez do consumo de informações e de conteúdos em 30 segundos de vídeo num ecrã.
O mundo também não anda a ajudar. A cada semana, uma nova crise, a complexificação das crises que já existiam, os novos conflitos que, na verdade, são antigos e intensificam-se. E nem mesmo a política portuguesa as deixou inertes. Diante de todo o caos internacional, nacional, social, político e ambiental, o que é esse monte de letras juntas numa crónica?
Na balança da dúvida, no outro lado, está o pensamento de que escrever também é preciso, porque, em alguns casos, o não dizer torna-se mais grave do que o dizer. Como não se pronunciar diante das crises humanitárias? E da crise da habitação? Da crise social? E, inclusive, da ambiental?

Alguém há de ler, identificar-se, refletir sobre algo num aspeto que não havia pensado. E, a partir da reflexão, partilhar com pessoas próximas as suas preocupações, as críticas que, quem sabe, poderão “mudar” alguma coisa por esta reação em cadeia. Por isso, é preciso lutar contra a falta das palavras, por mais que, nos últimos tempos, elas tenham se esvaído.
A esperança é a dificuldade na balança. As perspetivas não são de todo esperançosas, apesar de tentarmos agarrar-nos a algum fio de sentido no meio deste caos.
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Nota:
1 – A autora utiliza as “pessoas” como sujeito oculto predominante.
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16/11/2023