A igualdade está no voto

 A igualdade está no voto

(brasilescola.uol.com.br)

Tinha um problema de expressão sempre que usava a palavra “igualdade”.

Ao contrário da “liberdade” e da “fraternidade”, em que sempre conseguia elaborar um discurso coerente, na “igualdade” o caminho era mais nubloso, com algum nevoeiro dentro de mim (como diria Eugénio de Andrade). E a mais pequena contestação do meu interlocutor deixava-me insegura.

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Estava equivocada. A “igualdade” é a mais simples das três palavras da Revolução Francesa, porque, em democracia, ela é de uma evidência sem contestação.

Só em democracia existe igualdade. Pelo menos, no dia das eleições.

Na hora de votar, terminam as diferenças sociais. O voto de um gordo vale o de um magro. O de um rico exatamente o de um pobre. O de uma mulher o mesmo que o de um homem. O voto de um jovem é igual ao de um velho. O voto de um letrado vale tanto quanto o de um analfabeto, a quem o símbolo o encaminha para o xis da sua igualdade. E poderia continuar com exemplos até encher uma folha A4 ou a sua duplicada A3.

A democracia tem muitas valências. E, na fragilidade do acolhimento que presta até aos que são contra ela, tem uma generosidade acrescida de igualdade, na hora de eleger os seus representantes legais.

(jf-misericordia.pt)

Secretamente, para ninguém sofrer represálias ou algum condicionalismo no trabalho, no bairro que habita ou entre os amigos com opiniões antagónicas.

Além de ser o ato de liberdade pessoal de nota máxima, é a grandeza da igualdade no voto que dá uma expressão insuperável à democracia.

Por isso, se há algo que não entendo e não perdoo aos meus concidadãos é aquela arrogância de, em dia de eleições, partirem com a família (ou sozinhos) para visitarem museus e belos monumentos a cidades vizinhas, só porque, na sua opinião, “são todos iguais” ou “não vale a pena”, exercendo, desta forma, o seu diletantismo.

Uma manifestação idêntica à que testemunho quando, em frente da montra da pastelaria cheia de opções deliciosas, proclamam que não querem nada, porque não têm ao seu dispor a “alsaciana” ou o “palmier recheado” de que gostam. Ficam só pelo café, como se fosse normal desdenhar um pastel de nata ou um bolo de arroz!

Estes concidadãos, alguns deles meus amigos, são pessoas infelizes, julgam-se o centro das atenções e, como tal, utilizam o seu exercício de liberdade para desejar sempre o que não há, dizendo não ao voto quando têm o poder na mão.

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Merecem o nosso perdão, pois ainda não descobriram a alegria de viver em Comunidade. A que resolve, entre todos, problemas difíceis; e nos ajuda a sobreviver nas dificuldades, como em casos de pandemia ou em guerras alheias, que nos afetarão mais tarde ou mais cedo.

Ainda não sabem que, só em democracia, votar é descer ou ascender ao território da igualdade. Absoluta. Secreta. E única.

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07/03/2024

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Elsa Ligeiro

Editora e divulgadora cultural.

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